Lei que pode virar o jogo do Centro do Rio é fruto também do esforço de 2 comerciantes locais

Fabíola e Maria Izabel são conhecidas como “as Galegas do Centro” e, junto com outros comerciantes tradicionais, têm lutado pela volta do protagonismo da região central

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Fabíola Gonzalez (À esquerda), Cláudio Castro (Centro) e Maria Izabel (À direita)

Os portugueses ao chegarem ao Brasil já tinham um encontro marcado com uma cidade que seria internacionalmente conhecida pela sua beleza e exuberância: o Rio de Janeiro. A história oficial da cidade tem início com a ocupação lusitana dos morros de São Januário e do Castelo, além da região da Praça XV. Os adensamentos populacionais avançaram com o tempo, chegando até o que hoje denominamos como Centro do Rio de Janeiro.

De lá para cá, muita coisa mudou. Muitas reformas foram feitas, e a cidade colonial deu lugar a um adensamento moderno com feições europeias materializadas no traçado das ruas e na arquitetura das construções. Hoje, a cidade do Rio une o antigo e o moderno sem conflitos, assim como une o mar, as montanhas e o céu, na maior parte do ano, azul e límpido.

A cor azul parece indicar que outro encontro também estava marcado. Desta vez para tirar o Centro do Rio do mau enredo no qual foi sendo arrolado e despedaçado por várias administrações sem visão e muito inconsequentes. A advogada Maria Izabel Castro, através dos seus olhos azuis, viu as transformações que levaram a cidade a passar de Centro Histórico a Centro Comercial. A mudança não foi fácil e contou com o trabalho e sacrifício diário de imigrantes das mais variadas origens, entre elas: espanhola, italiana, japonesa, chinesa, árabe, judaica e portuguesa, assim como os seus pais. De tal amálgama resultou o centro comercial do Rio, onde uma das manifestações é o famoso Saara – região de comércio popular onde judeus e árabes convivem sem restrições.

A carioca Bel, mãe de dois filhos e casada com o designer Gustavo Gigio, presenciou, nos últimos anos, eventos que turvaram o azul do seu olhar com apreensão e desgosto. Toda a riqueza da região, o farto comércio, os inúmeros serviços, os bares, os restaurantes e o patrimônio histórico foram sendo dilapidados ou abandonados. O cenário a entristeceu, e também a indignou.

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Como uma cidade que havia vivido bons momentos, em seu passado recente, teria chegado ao estado de abandono e esvaziamento dos últimos anos? Era difícil para Bel encontrar uma resposta única e convincente.

Em 2010, o Rio criou um equipamento de segurança, até então, extremamente promissor: a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Depois vieram outros projetos igualmente promissores, através dos preparativos para a Copa do Mundo, em 2014, e para os Jogos Olímpicos, em 2016. Os eventos fizeram do Rio um local onde todos queriam investir. Por todo lado eram vistas inúmeras obras, algumas com consequências desastrosas para a cidade, especialmente para o Centro, que sofreu um esvaziamento no período pré-pandêmico, com dimensões críticas posteriores, após a decretação dos vários lockdowns no Estado, a partir de março de 2020.

As consequências de medidas tão drásticas foram vistas e sentidas de forma quase imediata: fechamento de lojas e serviços essenciais, empresas encerrando as suas atividades ou saindo da cidade, aumento da população de rua e medo pelas ruas.

A sorte é que a filha de portugueses não é uma mulher de contemplação. Assim como, os seus antepassados, ela também teve coragem de se lançar em mares bravios em busca de mudança para as condições atuais do Centro do Rio, tendo um projeto, em especial, chamado a sua atenção: o Reviver Centro.

O projeto, com foco na criação de moradias, busca revitalizar o bairro através do resgate da sua vocação residencial. Izabel, então, compareceu a uma das reuniões do Reviver Centro, onde conheceu outra guerreira que se uniria à sua luta pelo soerguimento da região central da cidade. Fabíula Gonzalez era o nome dela. As duas juntas formaram uma dupla combativa e dinâmica: as “Galegas do Centro”. Não pensem que o apelido foi um elogio às duas mulheres. Pelo contrário. A alcunha é resultado da antipatia que alguns servidores públicos, políticos ou não-simpatizantes das suas causas lhes impuseram. Mas Izabel e Fabíula não ligaram e adotaram o apelido “Galegas do Centro” como uma marca positiva e de luta.

Elas sabiam que não seria fácil, pois não contavam com apoio político ou financeiro. Foram primeiro ao poder público municipal, cujos funcionários até entendiam a preocupação de ambas, mas não passou disso. A outra opção foi acessar uma esfera superior: o Governo do Estado, na figura do governador Cláudio Castro (PL). Acertaram no ponto!

O encontro com o governador deu início a ações para a recuperação do Centro do Rio. Atento, Cláudio Castro, não precisou de muito tempo para perceber que a situação da região era caótica. As “Galegas do Centro” puseram o chefe do Executivo a par do cenário sombrio da região, com 80% de vacância dos imóveis comerciais, desvalorização imobiliária (mesmo com reajustes do IPTU), desemprego, informalidade e outras dificuldades devastadoras às atividades comerciais.

Em menos de 3 meses, o que parecia impossível virou Lei. Com a ajuda do então secretário de Governo e hoje deputado estadual, Rodrigo Bacellar, Maria Izabel e Fabíula tiveram acesso à Secretaria de Estado de Governo (Segov), que, de imediato, começou a elaborar o projeto que elas tanto ansiavam: o CENTRO PARA TODOS, cujo objetivo é a identificação e mapeamento dos imóveis vazios e subutilizados de parte do Centro do Rio visando o desenvolvimento e aplicação das políticas públicas de revitalização.

As Galegas do Centro tiveram ainda outro encontro providencial. Desta vez com o deputado Alexandre Freitas (Pode), que protocolou, no dia 30/3, o PL 5677/22, que criou a Zona Franca do Centro Histórico. O PL foi aprovado em plenária da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) em 7/6. Marcando uma grande vitória para o Centro da cidade. Mas as surpresas não pararam por aí, e as “Galegas” tiveram outra boa notícia: a aprovação da Lei 9722/22, em 20/06, que trata do comércio formal e do Centro Histórico. A normativa já foi publicada no Diário Oficial, tendo sido ainda ternamente apelidada de “Lei das Galegas”.

Baseado em texto da autoria de Francisco D’Elia Lucchini.

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17 COMENTÁRIOS

  1. A pandemia deve ter diminuído muito o Faturamento do Palácio das Ferramentas, esse é a razão por trás de toda essa preocupação com o entorno da Rua Buenos Aires.

  2. Governos sem nenhum ponto positivo.
    Francamente… Poderiam passar os prédios para eventos culturais, universidades, hospitais, cursos técnicos e movimentos ligados ao lazer e a cultura, dar descontos em IPTU para os bares e restaurantes que fizessem melhorias, e a descontos para escritórios de micro empresa.
    Servidos de manicure, podologia e etc…
    Mas vivem olhando só para seus próprios bolsos.
    Lamentável, se quiser estou adisposiçao com projetos.
    Daniel Sousa. Att

  3. Sou nascido e criado na cidade do Rio. Trabalhei por muitos períodos no centro e acompanho a muitos anos a degradação com o centro histórico da cidade. Prédios abandonados, que simplesmente são deixados a própria sorte, se desmanchando com o passar do tempo. Poderia aqui citar vários, mas o descaso é geral. Muitos prefeitos, incluindo Eduardo Paes e Cesar maia, nunca realizaram nenhum projeto convincente para isso. A intensão deles sempre foi em autorizar milhares de construções em áreas de preservação ambiental para aumentar as cotas de IPTU. Isso é um fato para quem anda pela cidade. O centro nunca teve um planejamento correto para melhoria, e esta pedindo socorro a anos. A estação da Leopoldina, o prédio da antiga polícia civil, teatros, danceterias, estão entre alguns exemplos deste descaso. Os moradores de rua e mendigos agradecem este descaso.

  4. Lamentável os comentários anteriores. Fico estarrecida com comentários depreciativos feitos por pessoas que nem devem ser do Rio. O Centro do Rio clama por qualquer tipo de ajuda….está abandonado, morrendo tanto pelas obras sem noção feitas anteriormente, pandemia,comércio digital,mendicancia,
    É muito importante o Governador apoiar a área com policiamento ostensivo para nossa própria segurança.
    O Centro do Rio é também a nossa História. O que resta dela. Tem que ser preservado

  5. Deveras, perdi meu tempo lendo esta coluna maketeira de politica. Pensei que fosse ler comentários de boas ideias para a minha Cidade natal, porem nada de informação sobre o que cada lei ou projeto de lei irá deixar de legado para o nosso Centro do Rio de Janeiro, que outrora tinha jeito de grande metropole e agora de um grande descaso por parte de nos cidadãos cariocas e politicos mal intencionados.
    Lamentável.

  6. Que matéria de teor racista e classista…
    E ainda enaltecendo o cúmplice de milicianos, desGovernador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, vice do impeachmado Witzel, aquele q dizia q “tinha q atirar na cabecinha” dos moradores de favela (como se do alto de um helicóptero vc soubesse quem é bandido ou não, e ainda q soubesse, como se pena de morte e execução sumária estivesse prevista na legislação brasileira…)
    Se tinha algum mérito em fzr uma matéria sobre dar função social a imóveis inúteis, ele foi estragado por essa narrativa torpe…

  7. FICO INDIGNADA COM O QUE FAZEM COM A MINHA CIDADE. ESPERO QUE CONTE COM ISENÇÃO PARTIDÁRIA E QUE A PREFEITURA DO RIO, TÃO OMISSA HÁ DECADAS COM ESTE DESMONTE, TOME A FRENTE DESTE PROJETO. NÃO ENTENDI PORQUE O DESGOVERNADOR OMISSO TENHA ESTA PARTICIPAÇÃO. QUALQUER PROJETO TEM QUE SER VISTO COM MUITA SERIEDADE PELOS POLÍTICOS ELEITOS,INCLUSIVE SERÁ UM TESTE PARA O ATUAL PREFEITO, E CONSULTE REPRESENTANTES DA SOCIEDADE CIVIL. ESTA PRESERVAÇÃO É ANSEIO DE MUITOS CARIOCAS COMO EU.

  8. Se tem apoio do Cláudio Castro, tem possivelmente treta. Ou foram “obrigadas” a posar pra foto ou são mais duas amigas que vão acabar insuflando os quadros do governo estadual.

  9. Cara Soraya, boa noite.
    Não sei qual seu objetivo ao “destilar” tanta mágoa, pois vários de suas observações são equivocadas tais como:
    – a referência foi “duas” corretamente e não o numeral “2”;
    – da primeira protagonista, foi digno, respeitoso e com destaque a descrição inicial como “advogada Maria Isabel Castro” e não simplesmente “Bel”;
    – também destacando como duas importantes cidadães e protagonistas preocupadas com o destino desta nossa cidade tão reconhecida internacionalmente.
    Finalmente quero demonstrar que seria melhor você ser mais atenta ao ler artigos importantes como este, e não aproveitar espaços como este para demonstrar seus recalques como uma pseudo feminista.

  10. Por que a manchete da reportagem prefere colocar “2” em vez de duas? Por que ao introduzir a primeira personagem, chama simplesmente ela de Bel, sem destaque, mas a primeira referencia que faz é que ela é mae e esposa do designer com nome e sobrenome destacado?
    Tudo isso para “disfarçar”, jogar areia no protagonismo destas duas comerciantes….soou tao ofensivo escrever “duas” que preferiram que preferiram colocar o numeral..e pouco importa se a mulher é mae ou casada se o foco do assunto nao era esse… Até pra editores de jornal é dificil aceitar a inteligência e protagonismo das mulheres..aceitem que dói menos baby…E por favor coloquem uma editora mulher neste jornal!

    • Soraya, percebi a mesma coisa. Que matéria ruim.
      Além dos pontos que indicou, que são vergonhosos, se propuseram apenas a fazer propaganda política. Nem o projeto foi descrito direito.
      Pessoal, sabemos que vocês têm preferência política, mas ao menos escrevam mais sobre o tema da manchete.

  11. Falou, falou e não disse nada… Uma matéria jogada fora rasgando seda… As leis aprovadas e o que se espera resultar delas, ficou de fora… Muito informativo!

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