A histórica e tradicional Universidade Cândido Mendes vem passando por dificuldades financeiras, e por conta disso, está em um Processo de Recuperação Judicial, (procedimento equivalente à antiga concordata). O processo tem mais de 45 mil páginas. Além de ter perdido alguns imóveis em sua tradicional sede na rua da Assembléia 10, por conta de dívidas condominiais, a empresa tem tentado se desfazer, segundo fontes do mercado imobiliário, de outras propriedades na cidade, na tentativa de se reerguer.
A universidade, fundada em 1902, foi uma das maiores impulsionadoras das artes na cidade, e, como tal, possui também um acervo vasto de obras de arte de alguns dos mais famosos e cotados artistas plásticos, como Franz Weissman, Emanuel Nassar, José Bechara, Tunga, Brígida Baltar e outros. Duas delas são conhecidas de todos os freqüentadores do Centro do Rio: a gigantesca escultura vermelha que fica no pátio do antigo Convento do Carmo, cuja foto ilustra a reportagem – na entrada lateral da Universidade – e a imensa escultura geométrica “A Terra”, que fica bem na esquina da Rua da Assembléia com a Rua Primeiro de Março (foto abaixo), de frente para o Paço Imperial.
A empresa Grant Thornton, que administra a recuperação judicial da Cândido Mendes, declarou no processo que as 214 obras colocadas em leilão estariam avaliadas inicialmente em R$ 2.634.250,00, e informou que a Universidade solicitara que as obras fossem vendidas através de venda direta, dizendo ao juiz que apenas duas das obras, as duas imensas esculturas de Franz Weissman, teriam compradores pelo valor de R$2.200.000,00. No dia 30 de novembro, a administradora alegou que a venda seria muito necessária por conta da necessidade de fazer frente às “obrigações de finais de ano (…) quanto a 13o. salário e férias de seus funcionários“. Todavia, a empresa acabou por não concordar com a venda direta dos bens, e insistiu na realização de um leilão.
A Cândido Mendes, através do escritório Galdino & Coelho, deixou claro que a empresa possui “extenso acervo” e insistiu na necessidade urgente da venda, e citou que o galerista Luiz Alberto Danielian teria feito proposta de compra, e que apenas pela escultura vermelha que ilustra a matéria, ofereceu o valor de R$ 1.200.000,00. Os advogados pediram também autorização ao juiz para começar a receber propostas pelos imóveis da universidade, que incluem prédios e andares comerciais.
A casa de leilões Sobral Leilão de Arte, com sede no Shopping Cassino Atlântico, chegou a marcar o leilão, onde o martelo seria batido pela leiloeira Thais Alexandre (convite abaixo). Na última hora, o leilão foi “adiado”, segundo informações do site iarremate.com. Segundo a Grant Thornton, “a administração judicial entende que a alienação deva ocorrer por leilão judicial“. Diversos compradores já haviam realizado lances on-line prévios, como é tradicional no mercado de arte.
A empresa Tramas Galeria de Arte avaliou as fotografias, gravuras, pinturas, desenhos e esculturas da universidade em R$ 3.000.000,00, em laudo assinado pelo seu diretor João Marcelo Barcellos Sobral, isso em maio de 2021. Segundo informações de galeristas consultados pelo DIÁRIO DO RIO, a Tramas é que promoveria o leilão que acabou adiado ontem. O adiamento surpreendeu a todos, pois ocorreu pouco antes de começarem os lances.
Para Juliana Blau, da Galeria de Arte André, de São Paulo, uma das maiores do país, “As obras de Franz Weismann ocupam um lugar de destaque na coleção da Universidade Cândido Mendes tanto pelo seu tamanho raro quanto pelo seu valor relevante. São definitivamente as obras mais importantes desta coleção“. Pelo visto, os galeristas e marchands mal podem esperar pela efetiva venda das obras, que são objeto de desejo de tantos colecionadores Brasil afora.