Leste Fluminense e falta d’água: cadê a solução?

Para Emanuel Alencar o colapso hídrico do Rio de Janeiro é iminente, mas infelizmente as discussões sobre soluções estão paradas.

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A cena é bastante comum em Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, ilha de Paquetá e parte de Maricá, territórios abastecidos pelo sistema Imunana-Laranjal, no Leste Fluminense: quem não tem reserva de água sofre com a escassez. O colapso é iminente, mas infelizmente as discussões sobre soluções estão paradas. O racionamento submete 2 milhões de pessoas a uma rotina extenuante – e o pior é que não se vê no horizonte um desfecho; assunto parece ter saído da agenda pública fluminense.

Ao contrário da capital – cujas águas vêm do Rio Paraíba do Sul, e depois do Guandu –, a região é abastecida por dois rios principais: o Guapiaçu e o Macacu. Ambos nascem na Região Serrana do Rio e se juntam nas imediações da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapi-Mirim, onde a água é captada pela Cedae e distribuída para a região, por meio das concessionárias Águas do Rio, e Águas de Niterói. Essas operadoras compram a água da estatal. Mas o problema está na origem: o sistema Imunana-Laranjal já não é capaz de oferecer água suficiente para tanta gente, tanta indústria, tanto comércio.

Não há, como no sistema Paraíba do Sul e Guandu, reservatórios que possam garantir perenidade de abastecimento em tempos de grave seca. Daqui a uma década, a demanda da região pode chegar aos 14,2 mil litros por segundo de água – o que implicaria a necessidade de se distribuir 8 mil litros por segundo a mais em relação ao que ocorre hoje. Se nada for feito, estaremos diante de uma gravíssima crise.

Para enfrentar o problema histórico, o governo do estado apostou na construção de uma megabarragem em Cachoeiras de Macacu, a partir de 2013. O represamento do Rio Guapiaçu, dizem especialistas, garantiria uma vazão adicional de 5 m3 por segundo, suficiente para equacionar o abastecimento na região por pelo menos uma década. Acontece que o projeto, por ora abandonado, é para lá de controverso. Primeiro porque a área eleita para receber o reservatório tem altíssima produção agrícola. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio (Emater-RJ) estima que o cultivo de aipim na região movimente R$ 8,10 milhões/ano, e o de milho verde, R$ 2,31 milhões.

Restam algumas alternativas bastante custosas, como desviar água do sistema Guandu – certamente uma alternativa bastante custosa – ou numa aposta em barragens menores, na região de Guapi-Macacu. Uma única certeza é de que a região precisará de restauração florestal, com algumas ações já em curso. A lógica é milenar: mais floresta significa mais água. Seguimos todos sem uma definição. Parafraseando o grande geógrafo Milton Santos, “o mundo é formado não apenas pelo que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir”. O cenário do porvir é bastante angustiante.

Que em 2025 o governo do Estado, os deputados e a sociedade discutam a falta d’água no Leste Fluminense com a maturidade e urgência que o assunto demanda.

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