O Carnaval do Rio de Janeiro, conhecido por sua grandiosidade e criatividade, mais uma vez trouxe à tona a magia da literatura, com cinco das principais escolas do Grupo Especial se inspirando em obras marcantes para criar seus enredos e encantar o público na Marquês de Sapucaí.
Portela
A Portela, uma das mais tradicionais agremiações do carnaval carioca, emocionou com seu enredo baseado no romance “Um Defeito de Cor”, da escritora Ana Maria Gonçalves. A história envolvente de uma africana idosa, cega e à beira da morte, em busca do filho perdido há décadas, proporcionou um desfile emocionante. Além disso, o samba-enredo impulsionou as vendas do livro, colocando-o em primeiro lugar nas listas de best-sellers.
Acadêmicos do Salgueiro
O Salgueiro, conhecido pela sua vibração e energia, trouxe para a avenida o universo complexo de “A Queda do Céu”, obra que questiona os conceitos de progresso e desenvolvimento, sob a perspectiva do povo Yanomami. Com visões xamânicas e reflexões etnográficas, o enredo levou os espectadores a uma profunda reflexão sobre as relações humanas e o meio ambiente.
Grande Rio
A Grande Rio, por sua vez, homenageou a cultura indígena brasileira com “Meu Destino é Ser Onça”, inspirado na obra do escritor Alberto Mussa. Transportando o público para um momento decisivo na formação do Brasil, a escola destacou a resistência e a riqueza cultural dos povos originários, em um desfile repleto de cores e emoção.
Imperatriz Leopoldinense
A Imperatriz Leopoldinense encantou e garantiu o vice-campeonato com “O Testamento da Cigana Esmeralda”, um cordel centenário do poeta paraibano Leandro Gomes de Barros. Com a genialidade do autor, nasce mais uma personagem incrível e intrigante, simples e importante. Mais preciosa que a pedra que traz seu nome, Esmeralda, que deixou em testamento algo que destoa da materialidade. Nele escreveu todas as formas de ler a sina de uma pessoa, desde pelas linhas delicadas que traçam a palma da mão, até pelo conteúdo de um sonho.
Há muito a Cigana Esmeralda desvendava os segredos guardados nas várias linhas de uma mão. O fazia com maestria e técnica, anotando o que cada traço e seus cruzamentos representaria na vida da pessoa.
Unidos do Viradouro
E a grande campeã do Grupo Especial, a Viradouro, brilhou com “Arroboboi, Dangbé”, inspirado no livro “Sacerdotisas Voduns” de Moacir Maia. Resgatando a história de mulheres africanas perseguidas no Brasil colonial. Essas mulheres pertenciam a grupos étnicos que habitavam a região da África ocidental chamada pelos portugueses de Costa da Mina. Escravizadas e trazidas para o Brasil, algumas se tornaram lideranças das comunidades negras na posição de sacerdotisas voduns (vodúnsis), ao mesmo tempo que exerciam cargos de juízas e rainhas da irmandade católica de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a principal confraria negra mineira. A agremiação destacou as crenças e liderança nas comunidades negras, em um desfile repleto de emoção e reverência.