Loja fechada da Leader na rua do Riachuelo está inundada e atrai mosquitos, ratos e baratas

O estabelecimento está fechado há meses, em meio à grave crise da varejista que deve mais de 1,2 bilhão na praça. A loja - cuja posse segue com a Leader - fica embaixo de um grande condomínio residencial que teme a dengue, além da proliferação vetores de outras doenças

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Com 1800m2, a Leader da Rua do Riachuelo fechou, e a empresa é alvo de uma Ação de Despejo por Falta de Pagamento. Porém, não entregou as chaves e o imóvel, inundado, se tornou fonte de vetores de doenças. O condomínio reclama de ratos, baratas e um grave problema com mosquitos

Um conhecido condomínio residencial nas imediações dos Arcos da Lapa tem passado por um grave problema desde que uma grande loja alugada à Leader Magazine fechou. A loja, com dois pavimentos, um subsolo e cerca de 1800m2, está inundada há semanas. O prédio fica na rua do Riachuelo 87, no Centro da Cidade e foi sede das famosas lojas Rei da Voz, do antológico Abraão Medina, pai do mega-empresário do entretenimento Roberto Medina. Ocorre que, passando por dificuldades – segundo especialistas em estado pré-falimentar – a varejista encerrou as atividades, e retirou seu pessoal do local, mas não entregou as chaves, embora esteja sofrendo uma Ação de Despejo Por Falta de Pagamento.

O edifício notificou a administradora do imóvel do estado lastimável em que se encontra a água. Segundo o síndico Marco Santos, “por causa do acúmulo das águas vindas de chuvas torrenciais e de lençóis freáticos que há no terreno“, o local está inundado e “desde que as lojas Leader fecharam, não houve manutenção no imóvel e o acúmulo de água fez com que houvesse proliferação de mosquitos”. Ainda conforme uma correspondência assinada pelo síndico, o prédio teria sido tomado por baratas e roedores, e o fato já foi comunicado diversas vezes à Leader, que ignoraria as notificações. Os moradores do edifício, que tem diversos andares com mais de 20 apartamentos por andar, tem receio da dengue.

O DIÁRIO DO RIO contactou a administradora responsável Sergio Castro Imóveis, que informou que o imóvel segue alugado e que a posse e as chaves estão com a Leader, cabendo a ela responder pelo assunto e agir verificando a notícia dada pelo edifício. A administradora lamentou a situação e disse que vai notificar mais uma vez à Leader.

A Leader foi recentemente vendida aos empresários mineiros Renato Vaz Heringer e Marcio Lima, ligados ao Mauá Bank. Após a inauguração de sua nova sede na Rua da Quitanda 86, no faustoso edifício Sulamérica, de propriedade de um fundo gerido pelo banco BTG, houve grandes esperanças de que os novos sócios trariam um novo momento à famosa e querida varejista. Porém, desde Setembro, acordos firmados deixaram de ser cumpridos e a empresa tem novamente perdido credibilidade no mercado. Há, inclusive, uma denúncia do Sindicato dos Comerciários de que a Leader não estaria cumprindo sequer com pagamentos de rescisões de empregados. Em que pese tudo isso, a empresa acaba de inaugurar uma nova loja em Bonsucesso.

Histórico

A Leader ainda é uma das mais queridas marcas do Rio, com uma história que remonta à sua fundação em 1951. Inicialmente, a empresa operava como uma pequena loja de roupas, mas ao longo das décadas, expandiu-se significativamente, tornando-se uma marca reconhecida nacionalmente. A Leader, fundada pela família Gouveia, oferecia uma ampla gama de produtos, incluindo roupas, calçados, acessórios, eletrodomésticos e muito mais. Sua trajetória chegou a ser marcada por um crescimento constante, adaptação às tendências de mercado.

Depois, a empresa foi vendida ao BTG Pactual, e se expandiu mais ainda, com a aquisição da Seller, da família Furlan, de São Paulo. Uma fusão considerada mal calculada, que acabou enterrando a empresa em problemas que vive até hoje. Em 2016, o BTG vendeu a empresa por 1 real e seu comando passou às mãos de Fábio Carvalho, que controlava também a Editora Abril. Em 2020, a companhia mudou de dono de novo, passando para André Peixoto. Na ocasião a loja de departamentos tinha 90 lojas espalhadas por 9 estados do país.

Peixoto resolveu entrar com pedido de recuperação judicial, para tentar equacionar mais de R$ 1,2 bilhões de reais em dívidas que a companhia tinha. Numa recuperação judicial, a empresa equaciona sua dívida antiga mediante a apresentação de um plano para pagamento dos débitos, mas deve passar a pagar suas contas em dia a partir dali. No seu plano de Recuperação, a Leader propunha pagar as dívidas maiores que 60 mil reais só dali a 4 anos, da seguinte forma: 10% de sinal e o resto em 12 parcelas anuais se a empresa faturar mais de 1,3bi por ano; se não, não paga nada. Trocando em miúdos, se a Leader me devesse 60 mil, pagaria 6 mil reais só daqui a 4 anos, e o resto em DOZE ANOS, pagando 4,5 mil POR ANO, mas se seu faturamento for 1,29 bi, não recebo as parcelas.

Em 2020, a Leader negociou um plano de recuperação judicial com seus credores para lidar com sua dívida. Dois anos depois, a Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ) estabeleceu um acordo para amortizar 810 milhões de reais da dívida ativa da empresa ao longo de 180 meses.

Ocorre que, segundo informações obtidas pela reportagem, a Leader não só nunca pagou seus débitos anteriores à recuperação judicial, como estaria devendo novamente milhões em aluguéis e outros custos de ocupação de diversas de suas lojas; inclusive suas lojas do Centro do Rio de Janeiro, na Rua do Riachuelo e na Uruguaiana, estariam dentre as devedoras. Obtivemos acesso a certidões de pagamento de IPTUs de duas lojas – é um documento público – e a empresa simplesmente deve milhões de reais em IPTU, além de condomínio e – claro – alugueis. Os donos da loja da rua do Riachuelo já ingressaram com ação de despejo por falta de pagamento. Não estariam cumprindo acordos trabalhistas, segundo o G1 e o Relatório Reservado. O DIÁRIO averiguou que a empresa também está descumprindo acordos firmados com Condomínios e Proprietários. Estima-se que a dívida só com um único proprietário já seja da ordem de 6 milhões de reais, sem contar fornecedores e débitos de outros tipos. Foi assim que em 2023 a empresa foi vendida de novo, e depois revendida, agora em 2024, ao grupo proprietário do Mauá Bank, tendo voltado a acumular dívidas, embora mesmo assim tenha inaugurado uma nova loja, em Bonsucesso.

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