Como servidor público, fiscalizando as Posturas Municipais, trabalho com o dia a dia desta cidade há mais de 30 anos. Minha formação e experiência ajudam-me a tentar compreender melhor o “por quem os sinos dobram” no Rio de Janeiro.
E as perguntas que se apresentam são: por que o Rio está dando errado? Por que essa cidade, antes maravilhosa, desandou de várias formas? São as pessoas? São os governantes? São as circunstâncias? Por que o Rio demonstra caminhar para o lado errado?
Longe de mim e do meu intelecto querer todas as respostas, mas, pelo menos, como cidadão, obrigo-me à prática salutar da autorreflexão, chegando a considerações, não como verdades absolutas, mas identificando indícios de uma impercepção coletiva que, despretensiosamente, julgo como inadequada e estéril de soluções.
De fato, parece-me que as interconexões sociais na urbe entraram em colapso. Nenhum cidadão consegue ser uma ilha, ser sozinho em si mesmo, sem pagar seu preço. Explico: vivendo, talvez sobrevivendo, na complexidade de uma cidade que está doente, cada cidadão carioca, sem perceber, faz parte de um todo no qual hoje mal se reconhece. Fundamentalmente, perdemos a capacidade de nos indignar. A solidariedade individual resiste, mas o senso coletivo nem tanto, pois que deixou de existir no atual cenário, passando a ser perversamente compreensível nos parâmetros que, de maneira ostensiva, se agruparam na mesma equação da insegurança pública.
Reagindo instintivamente a isso, a população aprende a se isolar mentalmente, como se não fosse ela própria a comunidade (paciente da criminalidade), ou mesmo, não tivesse como se ajudar. Na gíria popular, o carioca “ligou o f…” diante do que o oprime.
Não generalizando, mas já o fazendo, afinal de contas, aceitar sem se indignar parece ser o melhor dos jeitinhos cariocas para se automedicar contra a violência. Cada um de nós escolheu sua bolha na psique e decidiu ser apenas mais um espectador, mesmo sendo o ator principal da peça sendo encenada, chamada “Morar no Rio – uma realidade cotidiana implacável”. Alguns, como o último censo demonstrou, preferiram abandonar o teatro. Entretanto, a imensa maioria – sem opções – presa em sua cadeira, assiste atônita e resignada o desenrolar da trama.
Perdemos sim, o poder de nos indignar. Não por sermos indignos de um Rio melhor, mas por aceitarmos várias desculpas indecifráveis para o “a que ponto nós chegamos”.
Talvez (quem sabe, talvez?) essa mistura de amor e ódio, que se apossou dos cariocas, fosse só passageira ao enxergarmos atitudes concretas de interesse público e coletivo, direcionadas às soluções, que mesmo não sendo rápidas e imediatas, viriam com um trabalho sério e engajado na realidade que se impôs.
Precisamos dialogar e cobrar dialogar sempre, para sermos interativos como sociedade. Reafirmarmos para quem as políticas públicas são feitas e buscarmos – todos juntos – meios hábeis para amenizar e deixar em níveis aceitáveis a insegurança que assola o Rio. E não nos esqueçamos: o Estado existe por e para nós!
Porém, não há mágica a fazer! A violência da guerra nas casas, nas ruas e nas comunidades do Rio de Janeiro aparenta – como se diz – ter chegado pra ficar. E não sabemos bem quem são os mocinhos e quem são os bandidos. O sincretismo político passou a ser a regra e nos cobra caro.
Os governos não se omitem em aplacar certas consequências quando as coisas ficam pior ainda, já que atrapalham a saga do poder, mas esquecem, e talvez nem saibam, como agir sobre as causas do recrudescimento da violência. Batem cabeças na ausência de diálogo efetivo entre si e com a população, embora tenha se tornado prioridade ouvir a todos e buscar a união contra o mesmo inimigo.
A realidade é que, quando os egos falam, o diálogo vai embora. O coletivo cede ao individual. O interesse público perde para o privado. Ordem vira caos. O corpo vivo e pulsante da metrópole estremece em convulsão. Qual o remédio? Eu diria motivação e vontade políticas humildes e sinceras para melhorar um Rio que deveria pertencer aos seus moradores. Para isso, todos nós precisamos participar e exigir soluções, sermos cidadãos ativos, reativos e proativos – corrermos atrás do “prejuízo”.
Não resta dúvida: o Rio de Janeiro entrou na emergência. Os médicos não estão de plantão. Olhar para o outro lado é nos omitir. A morte de qualquer um diminui-nos porque somos parte da humanidade nesse Rio desumano de violência e insegurança pública.
Precisamos – com urgência – fazer parte das soluções. E não me perguntem por quem os sinos dobram. Eles dobram por todos os cariocas.
esse lugar so foi maravilhoso pra alguns, e agora o descaso com as áreas distantes está engolindo tudo – não se sustenta uma sociedade com tanta tolerancia ao caos
“qualé seu guarda que papo careta – eu so to tirando chinfra coma minha lambreta”, quem cantou isso deve chorar ao se deparar com os malditos rolezinhos, por exemplo!
A resposta é simples. Pessoas ligadas à milícia atuam no poder legislativo e até no tribunal de contas do Municipio. E nossos governantes fazem qq tipo de aliança para se manterem no poder.
Artigo inútil, pois não falou nada novo, que ainda não se soubesse. Este artigo tb é o retrato atual do Rio de Janeiro: fala o que se sabe e não fornece solução para nada!
Artigo complexo, e confuso. Poderia ter escrevido menos para dizer
que a a sociedade carioca tem que lutar contra o sistema. Algo “fácil hoje em dia”, principalmente com a mídia em todos os sentidos manipulada.
O RJ tem como base da sua economia os royalties do petróleo. Que por sua vez foi “sequestrado” por outros estados. Não tem indústria e sofisticação, tendo péssimos empregos e salários.
Praticamente o mesmo grupo político comanda o Estado a 30 anos, tomando todas as decisões que poderiam mudar o patamar do Estado. A maioria dos governadores foram presos ou enrolados com a justiça.
O RJ só terá jeito quando a República Federariva do Brasil tiver jeito. As relações são muito imbricadas.