Manezinho da Flauta: em flauta, mestre do Choro

Thatiana Sant'Anna conta a história de Manezinho da Flauta no centenário de seu nascimento.

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Reprodução

Há um século, em 12 de abril de 1924, nasceu, no Rio de Janeiro, Manuel Gomes, instrumentalista, que ficou conhecido como Manezinho da Flauta e permite entoar uma trajetória sobre a música, o contexto histórico de seu tempo, da tradição e do choro, gênero musical reconhecido como patrimônio imaterial brasileiro.

Antes de permitir breve narrativa de sua história e difusão do choro por terras longínquas, tange providenciar possíveis reflexões sobre dada musicalidade somente possível pela tecitura social que convergiu, por força, por interesses diversos e por engenhosa busca por lucros exponenciais, pessoas de diferentes culturas nesta terra.

A cultura brasileira que conhecemos e preservamos não advém de uma série de elementos de um grupo, nem mesmo se fez refém em grilhões ou se criou em um roteiro planejado. Afinal, a cultura não é dada, é construída. E a Cultura brasileira acolheu “multifazeres” de tradições diversas e fez florescer ineditismos, traçando seus próprios moldes.

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O contexto econômico e social é o compasso do movimento para as afluências e influências, tornando não só valiosa, mas encantadora a Cultura brasileira que, disposta em grande espaço cartográfico, preserva regionalismos incríveis sem negligenciar ou se abster de toda gama de contribuição diversa.

Manezinho da Flauta, contribuiu, enormemente, não só para repercutir o choro, ultrapassando as fronteiras nacionais, como para reafirmar com novas criações este brasileiríssimo gênero musical.

O nome artístico que recebeu faz menção à flauta, antes de ao Choro. Este gênero musical acontece a partir da combinação de sons de outros instrumentos em afinado acordo e acordes para trazer sabor alegre aos ouvintes e admiradores.

A origem negra do instrumentalista promove reflexões relevantes sobre a habilidade de um instrumento próprio aos salões e espaços da nobreza. Rasgando as fronteiras do contexto social, Manezinho é do choro, mas Manezinho é antes da flauta.

A flauta, como os grandes concertos e obras musicais, aliada às celebrações da igreja, aos arranjos nas cerimônias festivas, aos bailes nos nobres salões, às anunciadas peças teatrais ganhou maior dimensão nos espaços da Cidade do Rio de Janeiro, nos tempos posteriores à chegada e permanência dos membros da corte e da nobreza advinda de Portugal.

Essa dimensão de pertencimento da flauta aos espaços e celebrações nobres ganharia, ao longo do século XIX, associada a outros instrumentos e arranjos, novos e alargados espaços propícios aos olhos e ouvidos na Cidade do Rio de Janeiro. A combinação promoveu composições inusitadas, vanguardistas e pioneiras que, habitando novos espaços, sem deixar de transitar nos salões, melodiosamente, fez-se de hábito em espaços públicos ecoando musicalidade própria brasileira.

As referências à Manezinho da Flauta remetem, em sua contada história de vida e trajetória como chorista flautista, seus ensinamentos recebidos pelo pai e à flauta que usou, ao longo de sua carreira, recebeu de legado do seu avô, após o falecimento deste. Assim, é possível compreender e enaltecer esse conhecimento sobre o aprendizado deste instrumento de sopro passado de geração para geração, nas camadas mais simples da sociedade. E, se o avô, já aderira à flauta, estamos nos reportando a tempos anteriores ao século XX de Manezinho da Flauta nesta tradição de aprendizagem.

No Século XIX, a flauta ganhou espaço nos anúncios dos quais se servia a imprensa da época e começaram a surgir anúncios de aula de flauta que indicavam bons mestres para tal aprendizado. No Diário do Rio de Janeiro, em 1846, há um anúncio de grande valia, do Conservatório de dança e Música:

Faz-se público que as lições de flauta, ela rineta, oboé, fagote, e corni-ioglez, dadas pelo Sr. Francisco da Mota, são nos dias terças, quintas e sábados, do meio dia às 3 horas da tarde. As de canto e piano pelo Sr. Lino José Nunes, nos ditos dias, das 3 às 6 horas da tarde. (…) Ainda se aceita gratuitamente as pessoas de ambos os sexos, que queirão dedicar-se à música e que não tenham meios para o fazerem. 

A possibilidade de dedicar-se ao aprendizado de instrumentos musicais, ao longo do tempo, começou a garantir formas de contemplar pessoas que não poderiam pagar por tal conhecimento, o que, sugere, a ampliação destes saberes e habilidades aos mais pobres em relação a tais instrumentos, tal como a flauta.

O flautista Joaquim Callado, nascido na Cidade do Rio de Janeiro, em 1848, aprendera a habilidade deste instrumento de sopro com o pai que era professor de música. Joaquim Callado é reconhecido como o “Pai do Choro”, foi professor do Conservatório de Música e inovou ao reunir violões e cavaquinhos aos instrumentos comuns da época. Callado criava o Choro, abrindo portas ao gênero musical próprio brasileiro.

Muitos se destacaram a partir de então na trajetória do Choro no Rio de Janeiro. No século XX, o gênero musical ganhou força e reconhecimento.  As criações continuavam. Na década de 1960, Manezinho da Flauta, importante representante do Choro, foi atuante no antigo restaurante ZiCartola, no Rio de Janeiro, e gravou seu primeiro LP solo: O Melhor dos Chorinhos. Em outro LP, lançado pela Odeon, “Gente da Antiga”, permitiu entoar o Choro acompanhado de Clementina de Jesus, Pixinguinha e João da Baiana. Manezinho da Flauta muito contribuiu para a que o Choro prosseguisse, ganhando espaço nas rádios e programas. Indo além, levou o Choro a terras internacionais, como Bélgica, França e Inglaterra, fazendo com que mais pessoas conhecessem a magia sonora do Choro e sua brasilidade.

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2 COMENTÁRIOS

  1. O Choro Carioca sim é o estilo musical Fluminense por excelência, não o Samba que é só um subgênero do Choro Carioca!
    Vai saber do por que a mídia Carioca colocar o Samba como estilo musical prioritário do Rio!?

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