Na manhã deste sábado (11/01), manifestantes se reuniram próximo ao 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, para pedir o tombamento do histórico prédio. O local, que já foi o DOI-Codi, centro de repressão e tortura durante a ditadura militar, foi o cenário de atrocidades cometidas contra opositores do regime entre 1970 e 1979. O ato reuniu centenas de pessoas na Praça Lamartine Babo, vizinha ao quartel, e contou com a participação de importantes organizações como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Grupo Tortura Nunca Mais RJ e a ONG Rio de Paz. O evento também marcou os 40 anos da fundação do Tortura Nunca Mais, movimento criado em 1985 para combater as violências praticadas pelo regime militar.
O DOI-Codi, durante sua operação, foi responsável por inúmeras violações dos direitos humanos. Criado pelo general Siseno Ramos Sarmento, então comandante do I Exército, o centro de repressão foi destinado a combater os chamados “inimigos internos” do regime, ou seja, aqueles considerados uma ameaça à segurança nacional. A estrutura do local foi projetada para realizar torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados, com o objetivo de silenciar qualquer oposição.
Durante os anos de funcionamento do DOI-Codi, cerca de 49 pessoas, entre elas Rubens Paiva, do filme Ainda Estou Aqui, perderam suas vidas em condições brutais. O quartel possuiu salas especialmente preparadas para infligir sofrimento extremo aos presos políticos. Um exemplo é a “geladeira”, uma cela de baixíssima temperatura onde os detentos eram isolados e obrigados a ouvir o som ensurdecedor de uma turbina de avião, conhecido como “caixinha de música”, um método cruel de tortura psicológica.
Na praça onde ocorreu a manifestação deste sábado, encontra-se, desde 2014, um busto em homenagem a Rubens Paiva.
A manifestação de hoje não apenas exigiu o tombamento do antigo DOI-Codi pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), mas também pediu que o local fosse transformado em um museu da memória, dedicado a preservar a história e conscientizar sobre os horrores da ditadura militar. Os manifestantes também pediram o encerramento das atividades do 1º Batalhão de Polícia do Exército, que ainda ocupa o espaço.
O DOI-Codi foi desativado no governo de João Figueiredo, com base em uma “portaria reservada”, um ato administrativo não publicado, assinado pelo então ministro do Exército, general Valter Pires. A partir de então, suas funções de repressão passaram a ser absorvidas pela “Segunda Seção”, a divisão de inteligência do Exército Brasileiro, que manteve o aparato de controle e vigilância.