Márcia Silveira – O rio entre nós: amor como memória e ausência

A colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o primeiro livro de romance do escritor Thiago Zanon

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O livro “O rio entre nós”, primeiro romance do escritor Thiago Zanon, conta a história do encontro ocorrido em Praga, nos anos noventa, entre o médico paulistano Alexandre e o chef tcheco Sebastian. Um encontro breve, mas que deixa marcas duradouras na vida dos dois personagens.

Escrita em primeira pessoa, a história é narrada por Alexandre, agora com cinquenta e três anos. Vinte e cinco anos antes, em uma longa viagem de férias pela Europa com o melhor amigo, o então estudante de medicina vai a um supermercado em Praga, vê Sebastian e logo fica encantado – e o interesse é correspondido. Os dois ficam juntos por apenas dois dias, pois Alexandre precisa voltar para o Brasil. O pouco tempo juntos, no entanto, é o suficiente para fazer surgir um sentimento que tornará aquele encontro inesquecível.

Alexandre é um personagem cheio de nuances. Filho único de um rico empresário e uma dona de casa, sente-se realizado na medicina, mas sofre pressão do pai para dar continuidade aos negócios da família. Pressão ainda mais intensa por não corresponder aos estereótipos de masculinidade idealizados pelo patriarca, que não esconde o desejo de ter um neto. Por mais que Alexandre tente passar a imagem de que não dá importância à vida de luxo que leva, seu comportamento muitas vezes deixa transparecer uma natureza narcísica e egoísta de quem sabe (ou acha) que pode ter tudo o que quiser – inclusive no que diz respeito à relação com outras pessoas. Esse traço de sua personalidade faz com que até o amor que afirma sentir o leve a comportamentos mesquinhos.

Alexandre e Sebastian têm alguns breves reencontros pela vida e são sempre momentos muito intensos. Décadas depois, aquele primeiro encontro em Praga ainda é capaz de mexer com as emoções dos dois personagens. Um amor que parece ser definido mais pela ausência do que pela presença, mais ou menos como Platão afirma no diálogo “O Banquete”: amor é desejo e desejo é falta. Amamos aquilo que não possuímos. Para o leitor de “O rio entre nós” fica a questão: será que é o fato de ser um relacionamento em suspensão que permite que o sentimento sobreviva por tanto tempo?

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“Olho a paisagem que se estende quase a perder de vista, neste lugar, cenário inseparável do meu pequeno drama, e penso que todo o tempo que não passei com Sebastian foi um tempo em busca daquilo que o mês de abril de 1994 me deu: minha vida durou dois dias. O resto foram os créditos de um curta, que se alongam mais que o filme.”

O livro traz muitas referências musicais e artísticas. Além disso, ao contar sobre o período de vinte e cinco anos entre o primeiro encontro com Sebastian e o momento em que escreve suas memórias, o narrador fala de algumas transformações políticas e sociais ocorridas no Brasil. Thiago Zanon desenvolveu uma narrativa de leitura agradável e com personagens interessantes. E as descrições dos cenários levam o leitor a também viajar, passeando pelas margens do rio Sena, em Paris, ou à beira do rio Moldava, em Praga. Uma viagem tão bela quanto intensa.

Livro: O rio entre nós
Autor: Thiago Zanon
Editora: Quixote+Do
Páginas: 272

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