O livro ”Pais e Filhos”, do autor russo Ivan Turguêniev (1818-1883), foi escrito entre 1860 e 1862, período em que terminou a servidão (escravidão) na Rússia – momento histórico que serve como pano de fundo para a narrativa.
O jovem Arkádi, após formar-se na universidade, volta para a casa de seu pai, Nikolai, numa cidade do interior. Ele leva junto seu melhor amigo, Bazárov, que possui uma personalidade um tanto arrogante. Os 2 amigos, em especial Bazárov, dizem-se niilistas. Numa conversa com o pai e o tio, que não estão familiarizados com o termo, Arkádi explica:
”O niilista é uma pessoa que não se curva diante de nenhuma autoridade, que não admite nenhum princípio aceito sem provas, com base na fé, por mais que esse princípio esteja cercado de respeito”, diz.
Logo, as ideias dos jovens começam a provocar estranheza e conflito com a posição dos mais velhos, ainda apegados a costumes mais antigos. Para Bazárov, os dois ”velhos” são românticos e ultrapassados.
Segundo Rubens Figueiredo, que assina a tradução e a apresentação do livro, ”Pais e Filhos” provocou na Rússia a maior polêmica já vista na literatura daquele país. Tudo isso em função do ”niilismo” apresentado pelos personagens. O livro de Turguêniev popularizou o termo na Rússia e foi utilizado como justificativa para uma série de atentados ocorridos após a sua publicação.
Os personagens de ”Pais e Filhos” são bem construídos e possuem profundidade psicológica. Assim como na vida real, ninguém é totalmente bom ou mau, os personagens também possuem suas contradições e complexidades – e este é um dos atrativos do livro. Além disso, o narrador escolhido por Turguêniev não apenas conta a história, mas também comenta, julga os acontecimentos e conversa com o leitor, aproximando-o da narrativa. É um belo livro, que aborda as relações humanas, o conflito de gerações e as questões sociais da Rússia daquele período.
”Pais e Filhos” foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras. Além da apresentação de Rubens Figueiredo, esta edição conta com um texto de Henry James sobre Ivan Turguêniev e um texto de Turguêniev chamado ”Hamlet e Dom Quixote”.
- Livro: Pais e Filhos
- Autor: Ivan Turguêniev
- Tradução: Rubens Figueiredo
- Editora: Companhia das Letras
- Páginas: 342
- Nota: 5 (de 5)
Um dos melhores, senão o melhor escritor russo. Já li Asya e Primeiro Amor. Estou terminando a leitura de Pais e Filhos. A opinião da colunista Márcia veio em boa hora. Recomendo a leitura do livro e da obra do autor.