Mario Marques: Pesquisando as pesquisas. Afinal, aonde elas estão indo?

Campo dos institutos parece ignorar favelas, evangélicos e municípios distantes da capital

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Foto: Nelson Jr./TSE

Na semana que acaba de dar tchau, 5 institutos de pesquisa divulgaram resultados de sondagens no estado do Rio de Janeiro para presidente, governador e senador. Para analisar essas pesquisas, é preciso, acima de tudo, entender como foi feita a distribuição amostral. Ou seja: por onde seus pesquisadores passaram, e com quem falaram. E isso não está claro. Mas algo chama a atenção nos bastidores: o feedback do campo Prefab Future, segundo nos informa seu diretor executivo Henrique Serra, não reportou encontros com outras equipes em favelas da cidade do Rio de Janeiro, em cidades do interior tais como Três Rios ou Paraíba do Sul, ou mais para o outro lado, como Tanguá e Rio Bonito, ou mais ainda em cidades da Baixada Fluminense menos centrais, como Mesquita e Queimados. Onde estavam os institutos?

Isso é definidor porque quando muitos institutos vão às ruas numa mesma semana os pesquisadores se esbarram nos principais pontos de coleta. Mas dessa vez os encontros foram esparsos, pelo menos foi o que se reportou via Prefab. Mas por onde terão passado os pesquisadores?

Possivelmente, eu digo possivelmente, porque não posso afirmar, na capital, Zona Sul e Zona Oeste, São Gonçalo, Niterói, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e algumas cidades mais próximas da capital. Se isso foi feito, com esse modelo, o processo está todo errado. E para isso precisamos olhar com atenção seus resultados anteriores, a chuva que caiu em três dias do período da coleta e os fatos relevantes da semana.

Vamos começar pelo Ipec, que entrevistou 1.200 pessoas contra as 2.000 do Prefab. Em julho, o Ipec foi às ruas com parcas 1.008 entrevistas. Nela, Claudio Castro tinha 19%, Marcelo Freixo, 13% e Marcelo Crivella, que não sabemos até hoje porque estava na listagem porque nunca se declarou candidato a governador, 10%. Rodrigo Neves vinha atrás com 5%. Na nova pesquisa Ipec, Castro foi a 21% (subiu dois pontos), Freixo foi a 17% (subiu o dobro de Castro) e depois aparecem Rodrigo Neves com 5% e Wilson Witzel com 4%.

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Bem, com o volume de campanha e de candidatos na rua, é presumivelmente difícil que Castro tenha subido a metade de Freixo. Ao contrário: a máquina do governo está, nesse momento, triturando os adversários. E isso você vê claramente quando se realiza uma pesquisa por dentro. Ou seja: por cidade. A média de Freixo não passa de 6% em todas as regiões, menos na capital, onde Freixo chega a 14%. Para presidente, o instituto registrou o crescimento de Bolsonaro, mas não a ponto de bater Lula: 41% a 37%. O campo Prefab da mesma semana mostra claramente que Bolsonaro cresceu estratosfericamente no estado do Rio, possivelmente devido à baixa dos combustíveis e ao depósito do auxílio emergencial.

O Futura, instituto que eu não conheço, também fez pesquisa. Mas… por telefone: e mais – apenas 800 entrevistas, o que limita a efetividade de seu resultado. O Futura apresenta uma vantagem maior de Castro sobre Freixo. O governador tem 28,3% contra 17,1% de Freixo. Na minha visão, pelo campo amostral, nem Castro está desse tamanho, nem Freixo ultrapassa, nesse momento, a faixa de 13% dentro da margem de erro. Eu não boto fé em pesquisa telefônica, simplesmente porque você não sabe quem está do outro lado da linha. É uma questão técnica que precisa ser analisada com a distribuição amostral na mão. O Futura mostra Bolsonaro na frente no Rio, com 41%, contra 39,9% de Lula. Não achei pesquisa anterior do Futura para o estado do Rio.

Em seguida veio a divulgação da pesquisa DataFolha, com 1.204 entrevistas, baixa amostra para o período analisado. Nela Claudio Castro tem 26% e Freixo, 23%. Rodrigo Neves tem 5%, pasmem, empatado com Eduardo Serra e empatado na margem de erro com Wilson Witzel, com 4%. Para presidente, Lula tem 41% contra 35% de Bolsonaro.

Em seguida veio a divulgação do Gerp, com 1.500 entrevistas. Nela Castro tem 26% e Freixo, 16%. Depois vem Rodrigo Neves com 8% e Wilson Witzel com 5%.

Logo em seguida veio a pesquisa Quaest, com 1.500 entrevistas, que registrou pesquisa presencial. Não sei por onde anda o campo desse instituto mineiro, mas o resultado foi o seguinte: Cláudio Castro com 25% e Freixo com 19%. Rodrigo Neves vem em seguida com 6% e Wilson Witzel aparece com zero.

Para fechar a maratona de pesquisas da semana temos o Real Time Big Data, que fez 2.000 pesquisas, amostragem igual ao Prefab, mas… em modo telefônico – e eu não achei o resultado em lugar nenhum.

A pesquisa Prefab, com 2.000 entrevistas e margem de erro de 2,19%, correu 38 municípios, tendo na capital 39 pontos de coleta, incluindo comunidades. O resultado vem mostrando desde a primeira sondagem da série um resultado coerente e tecnicamente factível: é visível o crescimento sustentável do governador Claudio Castro e o encolhimento de Freixo. Veja o panorama:

Março

  • Marcelo Freixo – 15,4%
  • Anthony Garotinho – 12,5%
  • Claudio Castro – 11,0%
  • Rodrigo Neves – 4,3%
  • Felipe Santa Cruz – 0,6%
  • Milton Temer – 0,5%
  • Gomlevsky – 0,4%
  • Paulo Ganime – 0,3%
  • Branco/Nulo – 25,0%
  • Não sabe/Indeciso – 30,0%

Junho

  • CLAUDIO CASTRO – 15,1%
  • MARCELO FREIXO – 11%
  • ANTHONY GAROTINHO – 10,1%
  • RODRIGO NEVES (PDT) – 2,6%
  • CYRO GARCIA – 1,9%
  • EDUARDO SERRA – 1%
  • PAULO GANIME – 0,7%
  • FELIPE SANTA CRUZ – 0,5%
  • MILTON TEMER – 0,4%
  • GOMLEVSKY – 0,4%
  • BRANCO/NULO – 24,6%
  • NÃO SABE/INDECISO – 31,7%

Agosto

  • Cláudio Castro – 22,8%
  • Marcelo Freixo – 9,6%
  • Rodrigo Neves – 4,7%
  • Cyro Garcia – 1,6%
  • Wilson Witzel – 1,2%
  • Eduardo Serra – 1%
  • Paulo Ganime  – 0,6%
  • Branco ou Nulo – 21%
  • Não sabe/Indeciso – 37,5 %

Notem que enquanto Castro vai crescendo consistentemente, Freixo vai murchando, e a diferença entre eles aumenta quando Garotinho deixa a disputa. Branco, Nulo e Indecisos também seguem comportamentos coerentes, assim como os números de Rodrigo Neves, dentro da margem de erro.

A ideia aqui não é provar que instituto x ou y está certo ou errado. Mas há questões primordiais para que entendamos esse caminhão de números: excetuando-se as pesquisas telefônicas, que não são críveis, onde está indo o campo das pesquisas, qual o número de evangélicos sondados, estão entrando em comunidades?

Precisamos fazer uma pesquisa com os pesquisadores.

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