Marroni Alves: na Baixada Fluminense ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais

No Dia da Baixada Fluminense, Marroni Alves reflete sobre a história, problemas e desafios comuns das 13 cidades da região

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O Dia da Baixada Fluminense surgiu a partir de um encontro da Comunidade Cultural da Baixada, na Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, FEBF/UERJ. Houve o entendimento que a região deveria ter um dia para relembrar sua história, seu desenvolvimento, suas riquezas, cultura, problemas sociais e que fosse uma data que servisse para tomada de posição em defesa da região. Então, desde 2002 através da Lei n° 3.822, todo dia 30 de abril é o Dia da Baixada Fluminense.

A Baixada Fluminense é formada por 13 municípios: Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica. Em torno de 3,7 milhões de habitantes moram aqui, e concentramos cerca de 22,57% da população do estado do Rio de Janeiro.

É preciso lembrar que a memória da Baixada é vilipendiada. Prédios, igrejas e casarões tombados pelos IPHAN e INEPAC, que contam parte da história do país, estão perto de cumprir o “tombamento” definitivo e outros já deram lugar a lojas. A luta mais recente, foi em defesa do Terreiro de Joãozinho da Goméia.

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Para quem vive na região o desafio de acordar bem cedo, dormir muito tarde, trabalhar, estudar, pegar trem lotado e correr em busca de um lugar para o sonhado cochilo são tarefas comuns. Aquele que chega ou sai da Baixada por uma rodovia, também sabe quando isso acontece de olhos fechados: é só pegar a Linha Vermelha e chegar na altura do Aeroporto do Galeão. É tanto desnível e remendo de asfalto que seu cochilo, logo avisará onde estará. É batata! Digo, Baixada!

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Pior ainda é o desafio dos trabalhadores de Magé e Guapimirim: pegam os trens movidos a diesel até Saracuruna, outro até Gramacho e enfim, o que vai até a Central do Brasil. Ufa! São as caras tristes de Solano Trindade, querendo chegar em algum destino, em algum lugar.

E a ferrovia conta muito de nós. Foi em um dia 30 de abril de 1854, a inauguração da primeira Estrada de Ferro construída no Brasil por Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, que ligava o Porto de Mauá (Estação Guia de Pacobaíba) à região de Fragoso, munícipio de Magé. A partir daí foram construídas outras ferrovias na região e a Estrada de Ferro tornou-se um marco histórico da ocupação urbana. Foi o começo do fim dos portos fluviais de navegação pelos rios e dos caminhos de tropeiros e o início do processo de surgimento de vilas e povoados que se organizaram em torno das estações ferroviárias e origem das cidades da Baixada.

Cidades que vivem o problema comum que é a falta d’água e o saneamento, que deveria ser básico. Nossos rios, tornaram-se valões, assoreados, com moradias irregulares e as doenças de veiculação hídricas batendo na porta dos barracos, que denunciam outro problema: o crescimento irregular, desordenado e a falta de programas habitacionais.

O problema da água, é o maior desafio da região. Muitas vezes, moradores do entorno da estação Guandu – a maior estação de tratamento de água do mundo -, não tem água na bica. Tome nota: é a Baixada quem produz o “ouro incolor” e manda para a capital. O engraçado é que lá, não falta, mas aqui ficamos mais de dez, quinze dias sem água. Final de rede, vão dizer alguns moços.

Na saúde, o cenário da COVID-19 monstra o quanto somos frágeis, esquecidos e colocados em segundo plano. Os índices de infectados e óbitos não param de subir, a vacinação virou palco político e até Satanás foi chamado. Faltam testes, leitos e respiradores e sobra descrença de muitos que seguem aglomerando nas praças e calçadões.

Imagine quem vem lá de Japeri? Vem com muita fome! Na Baixada, haja gente com fome! Mas quem dá de comer? A Baixada soma pobreza e desigualdade. E o resultado dessa equação é a violência. Segundo o ISP, os treze municípios da nossa região registram juntos 59,1% mais assassinatos que a capital. A grande maioria desses óbitos: jovens negros.

Não dá para esquecer a falta de creches, vagas nas escolas, o desrespeito às pessoas com deficiência nos transportes públicos, as religiões de matrizes africanas, a forma desrespeitosa que alguns gestores municipais tratam os servidores públicos e a transparência com a utilização de nossos impostos. As cidades da Baixada tem problemas iguais qualquer outra, mas a maioria são comuns. E como nenhuma cidade vai resolver de forma isolada esses problemas , os prefeitos poderiam começar a pensar nas soluções de forma consorciada e integrada. Seria um bom começo.

Enquanto isso, é difícil não pensar que na Baixada ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Mas com estusiasmo, reafirmo as palavras do poeta de Paracambi: “Eu moro na Baixada Fluminense, quem quiser que pense o que quiser pensar. Estou num sufoco medonho, mas não me envergonho desse meu lugar”. Viva e vive a Baixada Fluminense!

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Cidadão Baixada. Filho, neto e bisneto de pernambucanos é caxiense, portelense, tricolor, professor de História e Jornalista. É pesquisador na área da pessoa com deficiência, voluntário do Lions Clube Xérem e no Pré-Vestibular Comunitário da Educafro.
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2 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pelo seu texto, Marroni Alves. É um “grito” de revolta contra esse histórico abandono a que a Baixada Fluminense foi relegada. Mas não se iluda: somente a união da sociedade civil envolvida nos problemas sociais e econômicos daquela região do Estado pode mudar esse falso destino das populações menos favorecidas pelas políticas públicas. Boa sorte para todos os cidadãos de bem da Baixada!s

  2. Parabéns Marroni, pelo excelente artigo sobre a BF. Cheguei a conhecer uma boa parte dessas cidades. Vi lugares incríveis e horríveis convivendo em relativa harmonia, mas a BF é fantástica e tem historias!

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