Nos últimos anos, o Rio de Janeiro ganhou muitos investimentos na mobilidade urbana. Entre corredores de ônibus BRT´s, o VLT, ampliação do Joá e Túnel Marcello Alencar, a cifra ultrapassa os 10 bilhões. Se somarmos a extensão do metrô até a Barra, a ligação da Linha 2 com a Linha 1 (Linha 1-A feita em 2009), os novos trens e barcas, ultrapassamos a incrível marca de 22 bilhões de reais.
Seria ótimo se essa cifra astronômica tivesse sido usada de forma a aumentar a capacidade do sistema de transporte público de alta capacidade (metrô e trem), mas infelizmente não foi isso que ocorreu. As obras focaram em sistemas de transporte que funcionam com baixa capacidade, como o BRT e o VLT, que não possuem condições de atrair o usuário de automóvel. Além disso, algumas obras estão marcadas por erros de implementação, como a “linha 4” do metrô, cujo traçado original foi alterado e virou uma extensão da Linha 1, que já está sobrecarregando o sistema, mesmo trafegando somente torcedores e funcionários das Olimpíadas.
Vimos essa semana que mesmo restrito a funcionários das Olimpíadas, o BRT TransOeste não estava aguentando o fluxo de passageiros vindos do metrô, os ônibus passavam superlotados. E vejam que o metrô está ofertando apenas 12 mil passageiros/hora/sentido, imagina quando a nova linha abrir para a toda a população e o metrô passar a despejar o dobro de passageiros por hora no BRT do Jardim Oceânico?!
Trata-se de uma atitude completamente inadequada e desprezível prefeito Eduardo Paes pedir “compreensão da população“, ou ainda pedir que evitemos “ grandes deslocamentos”, na nossa própria cidade, depois de tanto dinheiro gasto em obras que, supostamente, deveriam ter melhorado a mobilidade urbana. O que vemos são erros de implementação de modais, que não estão aguentando nem mesmo a demanda restrita do público olímpico, que dirá os deslocamentos massivos de uma população de mais de 6 milhões de habitantes.
É nesse contexto que entra o questionamento, será que a prefeitura não poderia contribuir para a expansão do metrô? Ao vermos o mapa do sistema metroviário, constatamos que embora seja uma concessão estadual, o metrô está inteiramente dentro da cidade do Rio de Janeiro, das seis linhas de metrô que estão projetadas no PDTU (Plano Diretor de Transportes Urbanos), cinco linhas estão inteiramente dentro do município do Rio, apenas a Linha 3 vai para fora da cidade, ela sairia da estação Carioca e iria até São Gonçalo.
Os mais de 22 bilhões de reais gastos em transportes de baixa capacidade, como o BRT, no metrô em forma de tripa e em ampliação de vias para carros, poderiam ser gastos de forma mais racional em melhorias de sinalização e operação dos trens urbanos, que necessitam reformas em dezenas de suas mais de 100 estações além de eletrificação de alguns ramais que ainda operam com antigas locomotivas a diesel. O valor de R$ 22Bi, poderia ser revertido para criar uma rede consciente de metrô, que necessita a urgente finalização das Linhas 1 e 2 para aumentar sua capacidade de carregamento.
TRWCom essa cifra astronômica, daria para concluir o trecho Estácio- Praça XV, fechar o anel da Linha 1 e ainda levar a Linha 4 até o terminal Alvorada, sobrando ainda dinheiro para fazer um trecho da Linha 6 entre Alvorada e Madureira. Veja abaixo a comparação do metrô com as linhas 1 e 2 versus o metrô que poderíamos ter com os 22 bilhões investidos nesse modal de alta capacidade.
A Olimpíada foi uma oportunidade perdida para melhorar realmente o transporte público na cidade do Rio de Janeiro, agora resta aos futuros governos atuarem de forma mais técnica e menos megalomaníaca e publicitária como vem atuando as últimas administrações tanto do estado como da prefeitura.
Uma das grandes melhorias seria a revisão tarifária dos modais. Na última década vimos os preços das tarifas aumentarem muitas vezes acima da inflação, alia se a isso os péssimos serviços, com intervalos altos, superlotação e horários de funcionamento que não atendem a vida da cidade, esses fatores obviamente afastam o usuário do transporte público. Não adianta o prefeito apelar para pedidos desesperados se a prefeitura não incentiva, pelo contrário, desestimula o uso do transporte público. Ainda sobre tarifas, no Chile, cujo salário mínimo é maior que o do Brasil (cerca de 1200 reais, enquanto o nosso é 880 reais) a passagem de metrô em Santiago custa o equivalente a R$3,70 e ainda dá direito a usar qualquer ônibus urbano, o metrô do Rio custa salgados R$4,10 a passagem unitária.
A verdade é que os serviços dos vários modais, tanto operacionais quanto de pagamento, poderiam ser muito melhores se o interesse fosse não o de lucrar às custas do sofrimento da população, mas sim, lucrar com uma gestão levando em conta o interesse público, a melhora na qualidade de vida e o bom atendimento como prioridades. O bom contrato é aquele que é bom para ambas as partes e, infelizmente muito poucos estão ganhando com esse sistema de transporte precário, quando na realidade toda a região metropolitana deveria estar ganhando