O bairro do Caju, localizado na Zona Portuária do Rio, vem se destacando não apenas por seu papel no setor portuário e sua localização estratégica, mas também por uma iniciativa que tem trazido novos olhares sobre sua história pouco explorada. O local, conhecido principalmente pelo seu grande cemitério e por ser o “km 1” da maior avenida do país, foi um dos bairros mais prestigiados do Rio entre 1830 e 1940, ainda carrega as marcas de sua rica história. No entanto, a criação da Avenida Brasil na década de 1940 e a falta de uma revitalização eficaz deixaram o bairro com características bem diferentes das de seus tempos áureos.
Pensando nisso, a pesquisadora Fabiana Keller lançou o primeiro roteiro turístico do Caju com o propósito de resgatar e promover a história e a cultura local. Moradora do bairro há 24 anos, Fabiana é professora e líder comunitária, além de ser responsável por fundar o Coletivo Caju Cultural, que se dedica à valorização do passado do Caju e ao engajamento da comunidade local.
Os guiamentos turísticos gratuitos propostos pelo Coletivo oferecem uma visão detalhada dos principais pontos históricos do bairro, abordando aspectos que muitas vezes passam despercebidos. O roteiro inclui visitas a cemitérios históricos, como o Campo Santo da Misericórdia, inaugurado em 1839, que foi o cemitério destinado a escravos e indigentes. Outro destaque é o Cemitério São Francisco Xavier, inaugurado em 1851, conhecido por ser a segunda maior necrópole do Brasil e um importante ponto de referência na história funerária do país.
Além dos cemitérios, o tour inclui a visita a antigos estabelecimentos e estruturas que marcaram o desenvolvimento do bairro. Entre eles estão o Hospital Nossa Senhora do Socorro, a Fábrica de Tecidos Bonfim, a Estrada de Ferro Rio D’Ouro, e a Quinta do Caju. Os locais revelam a transformação do Caju de um bairro nobre e industrial para sua atual função portuária.
Fabiana destaca que o objetivo do projeto é não apenas educar e informar, mas também mobilizar o interesse público e privado pela revitalização da infraestrutura do bairro. “Acredito que, somente através da divulgação da história local poderemos chamar a atenção do Poder Público para investimentos em Infraestrutura, Cultura e Educação e lançar luz sobre os problemas que afetam não somente o Caju, mas bairros periféricos em geral. O turismo, para nós, é uma excelente ferramenta de mobilização social” afirma a moradora
O Coletivo Caju Cultural não se limita a passeios guiados. Também organiza eventos, aulas públicas e atividades em parceria com escolas e clínicas da família. Além disso, busca melhorias junto ao Poder Público para garantir que o bairro receba o suporte necessário para sua revitalização e preservação histórica.
O próximo passeio guiado pelo bairro está agendado para o dia 18 de setembro, às 9h. A rota inclui a Ponta do Caju e tem duração média de 4 horas, sendo realizado a pé. O ponto de encontro será no Cemitério São Francisco Xavier. As inscrições podem ser feitas, de forma gratuita, através do link disponível na página oficial do Coletivo Caju Cultural nas redes sociais.
Parabéns pela reportagem e, pelo excelente trabalho de guiamento turístico.