O Rio de Janeiro perdeu, nesta quarta-feira (09/03), uma das suas mais ilustres personagens: Dona Sybil Bittencourt. Inteligente, dona de um humor ferino e uma vontade férrea, D, Sybil, que tinha 98 anos e falava 5 idiomas, era filha de Paulo Bittencourt, herdeiro do jornal Correio da Manhã, fundado, em 1920, por Edmundo Bittencourt.
Ex-proprietária do Largo do Boticário, localizado no Cosme Velho, na Zona Sul do Rio de Janeiro, D. Sybil tentou a todo custo dar um destino abanador ao casario, que desde meados dos anos 1990, se encontrava em franco processo de degradação.
Ao voltar do continente europeu, onde residia, D. Sybil Bittencourt viu o Largo do Boticário bem distante do passado suntuoso que havia presenciado em sua infância e juventude, quando foi visitado por personalidades como Walt Disney. Agora, o casario recebia novas atividades: era depósito de carros roubados e ponto de prostituição. Os anos dois mil não seriam melhores para o local. Entre 2006 e 2008, um dos imóveis do Largo foi invadido e ocupado por um grupo de moradores de rua.
Em 2015, D. Sybil, que estava morando em uma das casas, alegou, através do seu advogado Bruno Siciliano, que não tinha condições financeiras para fazer a manutenção da propriedade e esperava uma posição mais incisiva por parte do poder público para solucionar a situação.
Em 2018, quando finalmente vendeu o conjunto arquitetônico que compõe o Largo, passou a residir em uma das suítes do Hotel Othon, em Copacabana, bairro da Zona Sul da cidade, onde viveu os seus últimos dias. Dona Sybil Bittencourt foi sepultada no Cemitério da Penitência.
Em comovente depoimento Washington Fajardo, secretário de Urbanismo da cidade do Rio de Janeiro, relembrou sua relação com D. Sybil, entre 2011 e 2016, quando buscavam dar um destino melhor ao casario.
“Faleceu Dona Sybil Bittencourt, 98, ex-proprietária do Largo do Boticário. Convivi muito com Dona Sybil entre 2011 e 2016, tentando buscar solução para o casario. Inteligentíssima, ferina, com uma vontade de ferro, Dona Sybil vivia num tempo presente precaríssimo e num tempo nostálgico fabuloso. As festas do pai, Paulo Bittencourt, dono do Correio da Manhã, no Largo do Boticário, convivendo com artistas, intelectuais e poderosos. Ela me falava de nobres europeus, milionários americanos e sheiks arabes. As vezes achava que ela fazia comigo o que Sherazade fez com o rei em As Mil e Uma Noites, contando fábulas para ganhar tempo. Vim aqui no Cemitério da Penitência me despedir dela. Após finalmente decidir vender o casario, em 2018 ela se mudou para uma suíte do Othon onde viveu seus últimos dias. As cidades são um leviatã, e nós vivemos na barriga desse colosso, mas também alteramos aquele que nos contém, sendo partícula e destino ao mesmo tempo. Na foto, Portinari com o retrato de Sybil Bittencourt ao fundo. Em breve, o Largo do Boticário voltará. O Rio de Janeiro é uma cidade fabulosa pelas estórias que abriga,” relembrou Fajardo.
A venda do Largo do Boticário
O Largo do Boticário foi vendido pela Sérgio Castro Imóveis por aproximadamente de R$ 12 milhões à rede de hotéis Accorhotels, que teria ainda que investir mais de R$ 30 milhões na reforma das edificações para transformá-las em um hostel boutique. Uma lei teve que ser aprovada para que os imóveis pudessem deixar de ser residenciais.
A concretização da venda levou 2 anos para ser realizada, dadas as condições adversas das edificações. Na época, a Sérgio Castro Imóveis chegou a levar o Largo do Boticário até a uma feira chinesa em busca de compradores.
Boas lembranças de quando íamos com a turma da faculdade de arquitetura fazer trabalhos por lá.
Fui váias vezes com a FAU UFRJ saudades.
O jornal era o “Correio da Manhã”!!!!! Por favor!