Nathalia Alvitos: Parece piada, mas é Lei

De acordo com Nathalia Alvitos, 67% das proposições dos vereadores do Rio não trazem mudança nenhuma para a cidade, a não ser de humor

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Foto: Reprodução

Quando decidi escrever esta coluna com as leis absurdas em vigor, não achei, honestamente, que fosse me assustar. Eu fui repórter do Wagner Montes e isso me dá um crachá de autoridade quando o assunto é aquele que todos querem evitar. Já me disseram que tenho cara de quem foi criada com leite em pó dinamarquês, e por isso, assusto todo mundo quando demonstro vasto conhecimento do interior das favelas do estado do Rio de Janeiro. Por aí você já entendeu que não é lá muito simples me surpreender. Ainda bem que existe o legislador brasileiro para virar a lógica do avesso.

Consultei um amigo, um marqueteiro político que tem vergonha e orgulho do próprio trabalho, e ele me deu um dado interessante. Segundo esse colega bipolar, reunindo todas as câmaras de vereadores do Brasil (note que continuo a escrever com letras minúsculas), chega-se à conclusão de que mais da metade das proposições que circulam nestas casas, se referem à homenagens, batismo de logradouros, simbologia, cidades-irmãs (que diabo é isso?), pedidos de sessões solenes para comemorações e homenagens, datas comemorativas e criação de honrarias. Nada na vida é por acaso. Essa amizade peculiar me fez pesquisar e agora posso compartilhar com vocês essa verdade censurada pela sociedade. Digo que é censurada sem fazer nenhum juízo de valor. Até porque acho que devemos agradecer esse recalque coletivo, pois ele diminui as chances de enlouquecermos diante de tantos nós górdios.

Descobri que um jornal respeitado (será?) estudou as 30.177 proposições dos 33 vereadores reeleitos na câmara dos vereadores do Rio de Janeiro (note o minúsculo) em 2012 e percebeu que 67% delas, só fazem cosquinha e não trazem mudança alguma, a não ser a de humor. Ao invés de lamentar com choro e atitudes rabugentas, fui comparar o nosso estado com os outros e fiz uma descoberta! Ela é tão incrível que nos conecta com o Além (esse com maiúscula). No ano passado em Ribeirão Preto aconteceu algo formidável: entrou em vigor uma lei que estabelece o dia 14 de setembro como o “Dia de Reconhecimento dos Ouvidores de Vozes.” O documento que aparece quando fazemos a busca por essa data comemorativa e necessária, contém o nome do vereador que fez a proposta e das autoridades que precisaram assinar para fazer valer a vontade da câmara. Fiquei com uma certa pena dessas pessoas. Deve ser difícil ser obrigado pela burocracia a colocar seu nome nessa jabuticaba toda. A justificativa do Projeto se limita às doenças mentais, que merecem todo respeito, é lógico. Mas ouso dizer que essa lei fez justamente o contrário, transformou uma condição complexa em piada pronta. Tem registros de comemorações da aprovação da Lei, como se fosse pura magia e alegria! Será que foi efeito colateral da pandemia? Seja o que for, essa produção é bem mais recente e desvairada do que o material que tem sido elaborado por aqui. Desta vez a malandragem carioca deixou a desejar e deu o troféu para a população ribeirão-pretana. Francamente…

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5 COMENTÁRIOS

  1. Aqui no RJ tem vereador q foi prefeito 3 vezes, que não se cansa de fazer leis que ele, como ex prefeito que foi, sabe que são leis de proposição exclusiva do prefeito. Conclusão: usa do cargo público para fazer leis que ele sabe que serão vetadas pelo executivo. Raras são as leis que têm alguma serventia pública.
    Quase todas são tais como descrito pela articulista no texto.

  2. O problema se resume a TOTAL incapacidade que o eleitor brasileiro, em sua maioria, tem de se informar bem sobre os candidatos, tanto para cargos legislativos, como para os executivos e o que cada um tem obrigação de fazer, mas, não faz, apesar de ser regiamente pago com nossos suados impostos. Aqui no RJ temos UM Vereador, que faz o que é pago para fazer. Seu nome? Pedro Duarte. Seu partido? Partido Novo. Votei nele e, ao contrário da imensa maioria dos brasileiros que INSISTEM em eleger os mesmos incapazes, se o candidato que receber meu voto fizer qualquer coisa errada durante seu mandato, NUNCA mais verá meu voto. Simples assim.

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