Neder: Lições da explosão do Porto de Beirute para a Estação Gávea do Metrô Rio

O engenheiro George Neder compara o desastre anunciado da explosão do Porto de Beirute com o imenso buraco da Estação do Metrô da Gávea

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Foto: UN Women, Ibrahim Dirani - Dar Al Mussawir, August 21st, 2020

Minha família materna tem origem libanesa e mantemos o contato com nossos primos no Líbano, os visitamos e acompanhamos o que ocorre naquele país. A explosão no Porto de Beirute, em 2020, é uma tragédia muito difícil de aceitar por seus erros facilmente evitáveis e vejo situação igualmente preocupante ocorrendo no Rio. 

Em 2013, o navio MV Rhosus, transportando 2.750 toneladas de nitrato de amônio teve problemas técnicos e fez uma parada de emergência no Porto de Beirute. Após ser inspecionado, foi impedido de seguir viagem por não pagar as taxas portuárias, a tripulação foi liberada e o material apreendido e colocado em um contêiner no porto.

Ao longo dos 7 anos entre a chegada do navio e a explosão, 6 cartas foram enviadas à Justiça pedindo que o material fosse exportado, destinado ao exército ou vendido a alguma empresa de explosivos. Infelizmente, a burocracia e a negligência causaram a perda de 214 vidas, ferimentos em 7.500 pessoas, 300.000 pessoas sem moradia e a destruição da infraestrutura portuária essencial ao país. Uma tragédia absolutamente revoltante.

No Rio de Janeiro, a Linha 4 do Metrô, tem um longo e ruim histórico, até que, em 2015, o Tribunal de Contas do Estado instaura o primeiro processo, nº 108.762-2/2015 por despesas sem respectivo empenho, ao qual se somaram outros seis processos até dezembro de 2018, além de outras 4 ações civis públicas, com destaque para o processo nº 0102232-92.2017.8.19.0001, que pede reparação ao erário de R$ 3.170 bilhões por superfaturamento e sobrepreço na execução do contrato L4/98.

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Assim, a obra da estação Gávea foi interrompida, com 42% da sua execução. É uma obra com 2 poços com 35m de profundidade, altura de um prédio de 12 andares, por 9m de diâmetro cada, sem a parte estrutural acabada, contando com tirantes provisórios que, pela norma, têm vida útil máxima de 2 anos (ABNT NBR 5629: 2018), tempo muito inferior ao que já se passou, e a solução para a contenção provisória foi a sua inundação com 36 milhões de litros d’água para auxiliar na sua estabilização.

O relatório do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente da PUC-Rio alerta que “não existem dados que permitam quantificar a probabilidade de um fenômeno de subsidência” (afundamento do solo), mas que não é baixa e as consequências poderão “incluir a ruína de edifícios lindeiros e a perda de vidas humanas, não contabilizáveis”.

Em fevereiro, a obra da estação Gávea completou 7 anos paralisada. É o mesmo período de negligência da terrível tragédia ocorrida no Porto de Beirute e precisamos aprender com os erros que observamos. Outro fato que serve de alerta foi ter ocorrido, recentemente, o desmoronamento na obra do Metrô da Linha 6 (Laranja) em São Paulo.

Esta carta é mais um alerta, antes que seja tarde e nos custe a inaceitável perda de vidas, ferimentos e destruição de parte da universidade e dos edifícios do entorno.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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graduado em Engenharia Civil pela UFRJ e em Direito pela PUC-Rio, com master em administração de empresas pelo IAE – Grenoble (FR). Empresário do mercado imobiliário, criador e coordenador do projeto social em educação para crianças Dom Hélder Câmara (VRC/PUC-Rio) e Vice-presidente de Patrimônio da AABB-Rio. Pai do Wilson, um Golden Retriever encontrado abandonado em uma ilha.
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1 COMENTÁRIO

  1. Opinião não deveria ser pois além de contar com argumentos, logo citações, foi produzido por alguém com embasamento científico. Opinião poderia ser optar por não fazer nada sem querer saber dos ricos… ops – falha do corretor… *riscos.

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