Neurocientista explica as mudanças do cérebro para a gravidez

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Nos nove meses de gestação, o corpo da mulher passa por uma série de mudanças cruciais para o desenvolvimento do bebê, mas não é o único afetado: a mente também se transforma para a maternidade. Denominadas de Mommy Brain (cérebro de mãe, no português), as alterações que ocorrem no cérebro durante a gravidez são estimuladas pelas intensas transformações hormonais e neuroquímicas – que condicionam a ação do cérebro para o desenvolvimento, sobrevivência e futuro do bebê.

Estudo publicado no jornal científico Nature Neuroscience aponta que, na gestação, a mulher apresenta redução de volume na massa cinzenta, ou seja, o cérebro diminui. Ao mesmo tempo, o córtex pré-frontal dorsomedial, responsável pelas interações sociais, também é afetado, o que deixa a mulher mais sensível ao feto e menos atenta a outras pessoas e situações.

A neurocientista Elainne Ourives destaca que, neste estado mental específico, a mãe pode apresentar sintomas neurológicos como “falha” de memória e desconcentração em demandas corriqueiras. “Há uma mudança de foco e de atenção, pois todo o condicionamento, experiência sensorial, emoções, desejos, química, hormônios e consequentemente as conexões cerebrais são direcionadas para o bebê”, pontua.

Se com relação ao bebê, as áreas cerebrais relacionadas à empatia e cuidado são ativadas, o mesmo não pode ser dito das relações com outras pessoas e consigo mesmo. “No mom brain, podem existir momentos de falta de organização e autocuidado da mãe com ela mesma, com a casa, com a vida financeira e com próprio relacionamento. Ela pode se sentir mais distante dos amigos e da família. Há também uma espécie de ebulição das emoções, que se reflete em mudanças bruscas de humor, no excesso de sentimentos de frustração ou euforia, cansaço, alegria, amabilidade, etc”, destaca a neurocientista.

Foram sintomas como esse que a influenciadora e empresária Simony Braga vivenciou em 2020, quando descobriu gravidez do filho Bryan, um mês após estourar a pandemia. Com histórico de perdas gestacionais, os sintomas do mom brain vieram com ainda mais intensidade. “Foi pior ainda, sentimentos como medo e ansiedade foram meus companheiros. Tinha dias que eu estava extremamente chorosa, sem motivo aparente, brigava muito com meu marido por qualquer coisa, já em outros eu era muito mais alegre, eufórica. Nós, quando grávidas, temos mais pensamentos ruins que bons, inclusive tive muitos pesadelos nesse período”, conta.

Apenas quatro meses depois do nascimento do primeiro filho, a funcionária se viu grávida novamente, mas desta vez de gêmeos. “Foi literalmente uma bomba de hormônios na minha cabeça. Juntou tudo, ansiedade, medo, insegurança, meu corpo ainda não tinha voltado e com isso veio a culpa, me sentia culpada por pensar que ainda não era a hora, parecia um pecado. À medida que o susto foi passando, eu fui tentando levar a gravidez de forma mais leve”, relata a influenciadora.

Estado passageiro

Apesar de ser confuso, Elainne Ourives garante que o Mom Brain é um estado natural e passageiro do cérebro que pode apresentar sintomas de declínio cognitivo até dois anos após o parto. “É temporário, mas esse período requer paciência e apoio familiar grande para que a mãe não se sinta culpada pelos próprios sentimentos, ou mesmo incapaz. A mamãe deve fazer o pré-natal, acompanhar a evolução do quadro clínico com seu pediatra, fazer os exames normais e de rotina, além de entender a naturalidade do processo e que esse novo estado mental não é ruim”, diz.

No caso de Simony Braga, o acompanhamento psicológico foi fundamental para lidar com as alterações sociais, mentais e corporais das gestações “No meu puerpério eu acabei procurando uma psicoterapeuta, pois não estava conseguindo me adaptar bem a algumas situações. Como as gestações foram próximas, eu acabei fazendo esse acompanhamento durante toda a gestação do Zyan e do Aaron”, relata.

Como alternativa para driblar esses sintomas, a neurocientista aponta que a meditação – individual ou em conjunto – ajuda a reduzir o estresse, ansiedade pela falta de sono e pela falta de interações sociais, bem como equilibra a produção de cortisol. “Ao invés de cortisol, a mãe passa a liberar serotonina e ocitocina no cérebro e em todo o seu organismo, melhorando não apenas o sentimentos negativos que o mom brain pode causar, como influenciando desenvolvimento cognitivo e emocional do feto, pois toda a bioquímica da mãe é transmitida ao bebê por meio do cordão umbilical”, comenta.

Exercícios de visualização, áudios de reprogramação com frequências específicas, bem como a prática de exercícios físicos regulares e acompanhados podem ajudar na regulação hormonal e refletir na saúde mental. “A neurociência orienta ainda a manter a mente ativa, mas de modo moderado e sob a supervisão clínica, para reduzir estresse, ansiedade e os níveis de cortisol elevados no sangue e nas células. É um conjunto de fatores que vai, com certeza, ajudar no desenvolvimento pleno do feto e na saúde cognitiva-emocional do bebê”, garante Elainne Ourives.

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