A crença geral é que para aumentar a segurança no nosso estado precisamos de mais polícia, e principalmente mais polícia na rua. Verdade seja dita, há artigos acadêmicos que validam a hipótese de que contratar mais policiais tem um efeito negativo sobre a quantidade de crimes, por exemplo, um artigo do economista e autor Steven Levitt, autor do livro Freakonomics. (Using electoral cycles in police hiring to estimate the effect of police on crime).
Porém, os dados do Rio de Janeiro não se alinham com essa hipótese. Desde o começo da gestão do Secretário Beltrame houve um significativo aumento de força policial no estado, principalmente devido as Unidades de Policia Pacificadora que absolveram a maior parte de novos recrutas. Em 2010 a PM contava com aproximadamente 38 mil soldados. Hoje já passamos de 47 mil, e a meta é chegar a 60 mil durante as Olimpíadas. Isso sem falar no efetivo de 12 mil Policiais Civis.
Durante esse tempo os índices de violência se movimentaram de maneiras distintas. Mortes violentas caíram forte, depois voltaram a subir, e permaneceram em nível menor que o anterior. Prisões e apreensões de menores batem recordes atrás de recordes (Gráfico 1). Já assaltos diminuíram forte também, mas voltaram a crescer e estão em nível mais elevado do que há anos atrás (furtos nunca foram afetados negativamente) (Gráfico 2).
Achar que simplesmente mais policiais nas ruas vão afetar significativamente os índices de violência na nossa cidade é ignorar que houve um aumento substancial do efetivo policial (+23% até hoje) sem que houvesse um impacto consistente e duradouro nos números de segurança pública. Por outro lado, houve um período de três anos (2010, 2011 e 2012) com quedas muito significantes de mortes violentas, roubos e roubos de carros. Ou seja, durante esse período de tempo alguma coisa de certa foi feita (e posteriormente abandonada?). E o aumento de efetivo policial não pode ser a causa, já que continuamos crescendo nossa força policial depois de 2012 e a tendência desses três índices inverteu para alta.
Em outro post, no CaosCarioca, mostrei como o ritmo de implantação das UPPs foi acelerado em 2012 e que pouco depois os índices de violência voltaram a subir. Temos, portanto, indícios que os problemas de segurança pública podem estar ligados mais a gestão e a qualidade do trabalho policial do que a quantidade de policiais em si. Juntando PM´s e Policiais Civis temos uma quantidade de policias por habitantes que supera a maioria dos países do mundo.
Mais policiais não resolverão o problema, e podem até mesmo agravar a situação atual, uma vez que uma estrutura maior necessita de melhor gestão e coordenação. Mais UPP´s não resolverão o problema sem um sistema de gestão de qualidade para garantir a efetividade das que já existem (se é que ainda há UPPs que funcionem). E de forma análoga, mais PMs na rua não vão surtir efeito sem um sistema de gestão que garanta a qualidade do trabalho policial. Simplesmente pagar mais agentes para que eles fiquem o dia inteiro estacionados em uma esquina da cidade não vai surtir efeito algum que não seja o maior gasto mensal nas contas do estado.