A figura jurídica do microempreendedor individual (MEI) tem sido o principal caminho escolhido pelos tatuadores no Brasil. Segundo relatório divulgado pelo Sebrae, 6.763 pequenos negócios especializados em tatuagem foram abertos em 2022. Destes, 97%, ou 6.544, foram registrados como MEI. O Rio de Janeiro ficou na terceira posição da lista, com 650 novos CNPJs registrados durante o ano passado.
Mesmo com os números oficiais, ainda é impossível mensurar quantos estúdios e tatuadores autônomos atendem informalmente, principalmente em comunidades cariocas. Fil’G, especialista artista visual e tatuador, conhecido por atender grandes estrelas como o Neymar Jr do PSG, Rodrygo Silva do Real Madrid e o campeão do BBB22 Arthur Aguiar, começou sua carreira dentro de uma comunidade, no litoral de São Paulo, e traça um paralelo da realidade de hoje com a que ele encontrou há quase 15 anos.
“Há 15 anos atrás havia uma ideia de querer crescer e sair da comunidade, era como uma missão de todos que permaneciam ali, significava vencer na vida. Hoje, as pessoas se estabelecem nas favelas através de empreendimentos onde é possível acessar qualquer tipo de produto ou serviço, das mais diversas qualidades. Quem se estabelece em uma comunidade tem a consciência quase instintiva de fazer seu dinheiro girar ali dentro, fortalecendo outros empreendedores ao seu redor”, explica o tatuador.
Fil explica ainda que, no início da sua carreira, os únicos materiais de referência eram as revistas. Então, era comum para tatuadores de comunidades pararem o processo de aperfeiçoamento da sua arte no momento em que o valor cobrado era o máximo que podia ser praticado ali. Hoje, com a internet, que oferece diversos cursos com preços acessíveis e vídeos de referência do mundo todo, um tatuador tem condições de se aperfeiçoar dia após dia, e agregar valor à sua arte.
“Hoje em dia, as pessoas da comunidade conseguem diferenciar a qualidade de uma tatuagem, e estão dispostas a pagar o valor que elas custam, principalmente se for dentro do lugar onde moram. Antigamente, existia um teto que elas poderiam pagar, então para continuar se aperfeiçoando, era necessário sair. Atualmente, é possível se aperfeiçoar cada vez mais e permanecer com seu empreendimento na favela, cobrando o valor equivalente ao seu trabalho”, finalizou.