As sucessivas crises econômicas, políticas e sociais pelas quais o Rio de Janeiro passa nos últimos anos levaram o estado a números assustadores no quesito emprego. De acordo com dados levantados pela Comissão de Trabalho da Assembleia legislativa do estado do Rio de Janeiro (Alerj), do ano de 2014 para cá, o RJ teve um crescimento de 194% no desemprego. Quanto maior o desemprego, mais difícil a vida das pessoas, sobretudo as mais pobres, e os impactos negativos na economia se tornam notórios.
Presidido pela deputada estadual Mônica Francisco, o relatório avalia o panorama do período como “desalentador”: “Estão enumeradas as audiências públicas promovidas para debates com a sociedade civil e autoridades públicas para construção de caminhos para geração de trabalho e renda, dinâmicas trabalhistas e referentes a seguridade social”, explica a parlamentar eleita pelo PSOL.
Durante a pandemia causada pelo Coronavíris, em cinco meses (entre Maio e Setembro), o contingente de desempregados no Rio de Janeiro teve alta de 48%. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o estado encerrou o mês de setembro com mais de 1,2 milhão de desempregados, cerca de 405 mil a mais que o registrado em maio. Um recorde histórico e negativo. Essa é a pesquisa mais atualizada sobre o tema.
Os setores que mais sofreram com os impactos da desaceleração econômica foram os setores industriais, comerciais e de construção civil. Por conta dos resultados mais fracos de atividade produtiva nos últimos trimestres, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) prevê uma queda de 4,6% para o PIB fluminense de 2020, sendo a maior queda registrada na série histórica iniciada em 2002.
Em 5 anos, entre 2015 e julho de 2020, o Rio de Janeiro perdeu quase 800 mil vagas com carteira assinada. De acordo com Mauro Osório, diretor da Assessoria Fiscal da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), esses postos de trabalho representam um quarto do total de vagas ocupadas no estado.
“Estou desempregado há quase dois anos. Consegui um bico ou outro nesse tempo, recebi o auxílio emergencial, mas acabou e ficar no bico não é a mesma coisa. Não dá. Minha mulher é doméstica, ela acaba segurando a renda da casa, temos filho pequeno”, conta Renan Oliveira, que é soldador, nascido em Duque de Caxias e morador do Rio das Pedras, Zona Oeste da cidade do Rio.
Ainda de acordo com o relatório da Alerj, o desemprego é mais presente entre mulheres, pretas ou pardas, além de ter viés juvenil, sendo que a maior parcela dos empregos precários é ocupada por mulheres negras. Do total de 6,2 milhões de pessoas que atuam nas funções de empregadas domésticas, babás e diaristas “de forma subvalorizada”, 5,7 milhões são mulheres, sendo 3,7 milhões negras. Além de trabalharem fora, segundo o documento, as mulheres fazem 75% de todo o trabalho de cuidados não remunerado do mundo.
Quando o assunto é remuneração e raça, o rendimento médio de uma pessoa branca empregada é 73% maior do que o de uma pessoa preta ou parda, a renda média de uma pessoa branca é de R$ 2.976, a de uma pessoa negra é de R$ 1.608.
De acordo com a mesma análise da Alerj, durante a pandemia, 60% da população branca aponta ter perdas nos rendimentos, já na população negra esse número é de 73%. Negros são a ampla maioria entre os mais pobres. Porém, entre os que recorreram ao auxílio emergencial do Governo Federal, a população negra foi contemplada em 74%, já entre os brancos esse número salta para 81%.
Todo esse cenário gera temor. Um levantamento do Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec RJ) divulgado nesta quarta-feira (16/12) mostra novo aumento no percentual de fluminenses que estão, de alguma forma, com medo de perder o emprego nos próximos três meses. Em novembro esse percentual era de 64,6% dos cidadãos, passando para 67,9% em dezembro.
“A gente só quer trabalhar, ganhar o nosso, viver com o mínimo de dignidade. Do jeito que está, fica difícil”, frisa Renan.