Quando em 2007 a Prefeitura do Rio concluiu a montagem do último dos quatro arcos que emolduram a cobertura do estádio olímpico João Havelange, no bairro do Engenho de Dentro, o Rio de Janeiro dava um passo decisivo para pouco mais de um ano depois, ver sua candidatura à sede das Olimpíadas de 2016 confirmada pelo Comitê Olímpico Internacional.
O novo estádio, que nascia sob um cenário em que só existia o antigo Maracanã como palco do futebol na cidade, tornou-se rapidamente num novo ícone na malha urbana daquele trecho da zona norte. Sua maior contribuição entretanto, foi ajudar a credenciar o Rio para os Jogos de 2016, pois éramos a única cidade-candidata que apresentava seu estádio olímpico construído, legado maior dos Jogos Pan-americanos de 2007.
Durante 6 anos o Engenhão funcionou. Administrado por um dos quatro grandes clubes da cidade, o estádio viabilizou também a participação dos demais nos campeonatos do calendário anual do futebol. O Botafogo o considera como casa. Mas os outros times, sobretudo Flamengo e Fluminense, passaram a jogar lá com frequência, principalmente a partir do segundo semestre de 2010, quando o Maracanã fechou para as obras da Copa.
E quando o estádio ainda se fazia necessário, com o Maracanã ainda em obras, o Engenhão fecha, com uma justificativa de emergência e sob o manto de um suposto problema na cobertura, empurrando as finais do campeonato estadual para Volta Redonda.
O engenheiro que a projetou garante que não há riscos, e que o estádio poderia continuar aberto, mas a Prefeitura prefere o zelo e avisa que a interdição é por tempo indeterminado, provavelmente até 2014.
Curioso é que isso ocorra no momento em que, há alguns quilômetros dali, na mesma zona norte da cidade, o novo Maracanã se prepara para reabrir, e traz a reboque um edital de concessão que exclui os clubes de sua participação, prejudicando a dupla Fla-Flu, sem estádio e abrigada momentaneamente no Engenhão, e indiretamente os empurra para o cobertor do futuro concessionário, que tem de garantir o uso do novo Maracanã por pelo menos dois dos quatro grandes do Rio.
Mais curioso ainda é que semanas antes da interdição, Flamengo e Fluminense haviam anunciado parceria com o Botafogo para uso do Engenhão no campeonato brasileiro deste ano, inclusive no segundo semestre, quando o novo Maracanã estará reaberto, recém testado na Copa das Confederações.
Sob bombardeio intenso da opinião pública, e com seguidas ameaças judiciais, o edital caminha para consolidar a privatização do Maracanã, e embute na sua nova arquitetura, instrumentos que deem a certeza de que tanto Flamengo, como Fluminense jogarão uma quantidade mínima de jogos lá, pulverizando os riscos para o futuro concessionário. Não havia dúvidas que com o uso em paralelo do Engenhão, sobretudo pelos dois clubes, as incertezas aumentavam.
Em breve o país receberá a Copa das Confederações. Após ela, inicia-se um novo cenário no futebol do Rio com o novo Maracanã. Mas que a Prefeitura não esqueça o Engenhão, e conclua de vez as intervenções que lá são necessárias, aproveitando inclusive esse período para intervir no entorno ainda abandonado do estádio.
Com capacidade para 45 mil pessoas, o Engenhão tem projeto para chegar a 60 mil e assim abrigar as competições de atletismo durante os Jogos Olímpicos. Basta a conclusão dos setores norte superior e sul superior, com 7.500 lugares cada, totalizando 15 mil novos lugares, ainda que provisórios.
E que o fim das obras no novo Maracanã possibilite que os jogos dos cariocas seja novamente divididos entre os dois estádios.