O medo de viver na Cidade Maravilhosa

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Assalto Rio de Janeiro O medo de viver na Cidade Maravilhosa
Sou nascido e criado em Campo Grande, importante bairro da Zona Oeste do Rio. Hoje, por conta do trabalho, vivo na Tijuca. Estou nesse momento em um trem da Supervia, ramal Santa Cruz, a caminho do bairro onde me criei, por conta de um compromisso. Gosto de voltar a Campo Grande, de ver as mudanças que ocorrem nas ruas onde sempre passei diariamente. Mantenho vínculos com o bairro propositalmente e assim tenho motivos para visitar.
Acordei cedo hoje e me peguei pensando se a viagem me traria algum risco. Percebi que, assim como muitos outros cariocas, já está impregnado em mim um certo receio de transitar na cidade. Concluí que, na verdade, haveria risco em qualquer ponto do Município.
Pegar a Avenida Brasil? Nem pensar! Linhas Amarela e Vermelha, está louco? Essa Transolímpica vive vazia, e se tiver arrastão? A Dutra está um perigo! Cuidado com o Rebouças e o Santa Bárbara. Não ando mais a pé no Centro“. São frases que escuto diariamente.
As notícias também não são animadoras: “Bebê atingido na barriga da mãe. Criança alvejada. Pessoas saíram dos carros e se jogaram no chão. A cada duas horas uma família chora um ente perdido”.
Enquanto isso, o governo estadual segue inerte, passivo, sem soluções a apresentar, sem assumir responsabilidades. Cobra seus impostos com rigor, aplica multas com gosto, mas não nos devolve uma prestação de serviço que garanta nosso ir e vir, que permita a tranquilidade do comércio que gera emprego e renda, que acalme as famílias.
O Rio perdeu mais de 300 milhões de reais em turismo por conta da violência. Quantos empregos esse número representa? Quantas famílias sem sustento? Os cariocas que podem pagar – e que se desprendem da mística da Cidade Maravilhosa – se mudam para o exterior, ao mesmo tempo em que os deputados estaduais atuais apresentam a ideia de retirar os pardais de fiscalização de velocidade nas áreas de risco, já que pelo visto se desistiu de fazer com que essas regiões não sejam mais arriscadas.
Essa situação vai mudando a própria sociedade, que fica agressiva na tentativa de se defender. Cada vez mais brigas no trânsito, mais pessoas assustadas quando são meramente abordadas na rua por um conhecido. Um banhista esfaqueia um guarda municipal que apenas alertava sobre a proibição de passear com um cachorro na areia da praia da Barra.
Escrevo esse texto em meu celular, com receio de que alguém possa querer tomá-lo de mim aqui no trem. Ao mesmo tempo, fico sabendo que um médico foi baleado agora há pouco em uma tentativa de assalto no túnel Rebouças. Eu poderia estar passando por ali hoje.
Faltam providências, falta gente com coragem no comando dos órgãos públicos, falta vontade política, falta o dinheiro que nos foi roubado, falta paz a um pai e uma mãe cujo filho foi ao cinema. Pessoas de outros estados e de outros países perguntam o que houve com a Cidade Maravilhosa. Até quando teremos medo de viver?

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