O nascimento da Barra da Tijuca

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plano-lucio-costa-barraO ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM) colocou em sua newsletter hoje um vídeo que vai deixar empolgado os cariocas fãs da história, além dos moradores da Barra da Tijuca. O vídeo mostra  história da ocupação urbana de nossa cidade e do projeto do urbanista Lucio Costa para a região da Barra. É de 1970 mas parece séculos tamanho foi o crescimento da região.

 

Muita coisa ficou no projeto apenas, provavelmente não imaginar o boom dos shoppings, o atraso na chegada do metrô. Mas podemos perceber que parte do projeto foi realizado, infelizmente nem tudo.

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O plano diretor de Lucio costa tinha o intuito de orientar o crescimento urbano e preservar a “natureza agreste” da Barra, o que ainda dá para ver, as dunas se perderam mas a região é bem preservada, infelizmente o progresso faz sua cobrança. Assista o vídeo e leia o texto sobre o projeto de Lucio Costa.

 

Selecionei trechos de artigo de Luciana Araújo Gomes da Silva na Revista Geo-Paisagem para entender mais o projeto de Costa para a Barra da Tijuca:

 

 

O ponto central do Plano era a construção de duas vias principais, a Avenida das Américas e a Avenida Alvorada (atualmente Avenida Ayrton Senna), que fariam a ligação de todo o bairro, e a criação de núcleos autônomos; também limitava os gabaritos para construção dos prédios, previa áreas de preservação, dentre outros aspectos.

 

A apresentação do Plano Diretor para a Baixada de Jacarepaguá, escrita pelo então Secretário de Obras Públicas Engenheiro Raymundo de Paula Soares, ressalta toda a importância e expectativa do que se ergueria na região, “a mais bela cidade oceânica do mundo”.

 

Não seria exagero, pois considerando a beleza da região, sua amplitude e a baixíssima densidade populacional, seria ali o palco ideal para planejar-se a expansão (inevitável) da cidade do Rio de Janeiro, guardando toda sua beleza natural, que se estendia nessa imensa região plana.

 

(…)o governador Negrão de Lima, pensou no arquiteto e urbanista Lucio Costa para planejar a urbanização da região. Lucio Costa foi convidado para elaborar a ocupação dessa baixada ainda selvagem porque, segundo o Secretário,

 

“tal planejamento não poderia resultar do raciocínio frio de computadores (…) Trouxemos Lucio Costa com a certeza de que o seu gênio criaria um Rio mais humano, aliando a beleza selvagem da Baixada às necessidades e ao progresso da cidade que explodirá nos próximos 30 anos” (COSTA, 1969: 1).

 

(…)

 

Lucio Costa almejava que nascesse na região da Baixada de Jacarepaguá um novo pólo Distrito Central Financeiro (CBD – Central Business District) para contrabalançar com a região central (o atual Centro da Cidade). Acreditava que a área era um foco natural de encontro do eixo Norte/Sul (Zona Norte e Zona Sul da cidade, através de Jacarepaguá) e do eixo Leste/Oeste (por está no centro da ligação entre Santa Cruz – zona industrial – e o Centro da Cidade), o que faria convergir o fluxo para a região, criando um novo Centro Metropolitano.

 

(…)

 

Ao conceber o Plano, o arquiteto se via em um grande dilema, ao mesmo tempo em que precisava planejar a inevitável ocupação da área, sua maior desígnio era que ali não se fizesse nada, que toda a área fosse preservada assim como se encontrava, tornando-se parque nacional:

(…)

 

O objetivo principal do Plano-Piloto para a Urbanização da Baixada Compreendida entre a Barra da Tijuca, o Pontal de Sernambetiba e Jacarepaguá, também conhecido por Plano Lucio Costa, era o de controlar a expansão urbana e preservar a geografia do lugar, suas belezas naturais como as praias, as dunas, restingas, manguezais e lagoas, já que era uma das últimas áreas disponíveis para onde a cidade poderia se expandir. Nas palavras do arquiteto, para urbanizar a região era (é) preciso “encontrar a fórmula que permita conciliar a urbanização na escala em que se impõe, com a salvaguarda, embora parcial, dessas peculiaridades que importa preservar”.(1969, p.8) Ele acreditava que qualquer implementação urbanística para a área deveria ser feita “sob medida”.

Como Lucio Costa acreditava que nasceria nessa área o novo Centro Metropolitano, no Plano foi dada a devida atenção às vias de circulação, que deveriam possuir ligação com toda a cidade.

A principal via de circulação do bairro seria, e ainda hoje é, a Avenida das Américas. Quando da elaboração do Plano, essa via já existia (fazia parte da BR-101, e assim era chamada) e Lucio Costa pretendia mantê-la como uma via expressa de circulação. Essa via não deveria conter sinais para travessia de pedestres e retorno dos carros, e sim travessias em nível inferior que fariam a comunicação de veículos e pedestres das áreas ao entorno. Paralela a BR haveria uma outra avenida, ao longo do canal Cortado, que faria a circulação interna do bairro.

 

Previa, além de vias rodoviárias, um eixo metroviário ligando a região a Cidade Universitária (hoje conhecida como o projeto da Linha 6 do Metrô). Contudo afirmava que a oferta de meios de transporte deveriam ir aumentando gradativamente, de acordo com as necessidades, para que não ocorresse um boom, e a ocupação saísse fora do planejado.

 

Com relação aos espaços de construção das habitações, uma das principais preocupações era de fixar as áreas onde seria possível construir e seus respectivos gabaritos. Para isso, Lucio Costa propõe que a urbanização deveria ser feita em núcleos de urbanização, intercalando residências multi-familiares (prédios) com uni-familiares (casas), para uma melhor circulação do ar, não deixando acontecer o mesmo que nos bairros da Zona Sul, uma muralha de cimento na frente do mar e nas quadras interiores, barrando a brisa do mar e impedindo a vista da paisagem praiana pelos moradores do interior do bairro. Para tal, todos os núcleos deveriam ter taxas de ocupação reduzidas, sendo, por exemplo, 10% de ocupação para construções de dois pavimentos, e 20% para um único pavimento.

 

A concepção de moradia detalhada no Plano fala sobre a construção de núcleos autônomos. E esses núcleos seriam construídos com 1km de afastamento entre si, seus edifícios teriam de 8 a 10 andares, e seriam ocupados também por escolas e comércios. Esses núcleos se localizariam entre a Avenida das Américas e o Canal de Marapendi, sendo que comércios e serviço deveriam ser localizado nas articulações junto ao canal, podendo sofrer alterações, de acordo com a conveniência dos interessados, os moradores. Porém as áreas onde ocorressem dunas seriam construídas apenas residências uni-familiares, mansões ou casas menores, limitando a taxa de ocupação a 10% e ligadas as estradas e aos núcleos de moradias por caminhos entre as dunas, tentando conservar a paisagem próxima de como esta se apresentava.

 

Esses núcleos autônomos constituíram e ainda constituem a característica mais marcante da Barra da Tijuca, os condomínios fechados, embora distorcidos das suas características originas, no que diz respeito ao gabarito, a separação entre eles e a área ocupada.

 

Na área entre a Avenida das América e a Lagoa de Marapendi haveria núcleos, com os mesmos afastamentos entre eles, porém não alinhados como os da Avenida principal. As edificações seriam em número reduzido, porém com gabarito de 25 a 30 andares, e contariam com a mesma infra-estrutura dos demais núcleos residenciais. Contudo, a área ao redor da pedra de Itaúna deveria ser preservada íntegra e devidamente ambientada, sem ocupação ao seu entorno.

 

Entre a Litorânea e a Lagoa e o Canal de Marapendi, com exceção das construções que já havia, a paisagem deveria ser mantida o quanto mais preservada, se possível mantendo seu ar agreste, intocada. Com exceção para algumas construções de caráter muito especial, para atender aos seus freqüentadores. Lucio Costa não queria que a Avenida Litorânea se transformasse em uma avenida de mão-dupla, com canteiro central e retorno, acreditava sim, que essa seria a área que mais deveria ser mantida “rústica para integrar-se no ambiente agreste” que deveria ser preservado.

Ao mesmo tempo em que estava preocupado com a preservação da praia intocada, Lucio Costa estava preocupado em organizar vias de acesso a ela: “duas pontes-passarelas nos seus trechos mais estreitos e em três pontos do canal, a fim de garantir-se um mínimo de articulação viária” (COSTA, op cit.: 11).

 

Com relação ao atrativo turístico da região, que deveria atrair por sua paisagem, algumas considerações foram feitas: não foram definidas áreas para a instalação dos hotéis, mas foram indicadas as áreas onde não poderiam ser construídos. Essas áreas seriam as áreas próximas a Lagoa de Marapendi, com exceção do entroncamento com a Via 11, atual Av. Ayrton Senna. As localizações ideais eram as extremidades do cordão arenoso da Avenida Litorânea.

 

Os locais da Barra da Tijuca já habitados (Jardim Oceânico, Tijucamar e Barrinha, e a Lagoinha no Recreio) para se enquadrarem a “composição paisagística do conjunto” deveriam ser arborizados, o que beneficiaria também a população, gerando áreas sombreadas.

 

A área pertencente a Aeronáutica, ao longo da Av. Ayrton Senna, ocupada parcialmente com o aeroporto de Jacarepaguá, deveria ser mantida como parque (ainda hoje é, chamado de Bosque da Barra).

 

Para construções que necessitam de espaço aberto e ambientação – como clubes, campos de golfe, estádios, a nova hípica (que deveria ser construída) etc. – foram reservadas as áreas entre os Morros Dois Irmãos e a Pedra Negra, a sudoeste (onde hoje se localiza o Projac) em Vargem Grande, e a área a extremo leste do bairro da Barra da Tijuca, próximo a Pedra da Panela. Também deveriam ser construídos dois ancoradouros: um próximo ao morro da Joatinga e outro no Canal de Sernambetiba, a oeste, no bairro do Recreio.

 

Para os demais bairros que compõe a Baixada de Jacarepaguá, o Plano delimitava zonas industriais em Jacarepaguá, e afirmava que Vargem Grande, Vargem Pequena e os campos de Sernambetiba – a oeste da baixada – deveriam ser áreas de cultura, com sítios, granjas e chácaras.

 

Outra determinação do plano era a desapropriação de uma área de 4 km2, destinada a implementação do novo Centro Metropolitano, e também para a construção dos aparatos públicos necessário, mas não indicava sua melhor localização, apenas falava de sua prevista elaboração por um grupo de trabalho que ficaria a cargo de elaborar uma segunda etapa do Plano.

 

(…)

 

Plano Lucio Costa: O realizado

(…)

Com a construção das vias de acesso e com o Plano Lúcio Costa, começa efetivamente a ocupação e urbanização da Barra da Tijuca. A área se transforma, como o piscar dos olhos, na grande área de expansão e especulação da cidade do Rio de Janeiro.

 

O Estado começa, então, a criar infra-estrutura para a ocupação da Barra. No final da década de 60, ocorre o início da construção da Auto Estrada Lagoa-Barra, principal via de ligação com a Zona Sul da Cidade. Sua construção é o marco para a aceleração do processo de ocupação da região.

 

(…)

A construção das vias de acesso e das vias internas é o marco mais importante. O Plano estabelecia duas vias principais – a Via 11 e a BR – e que até hoje são responsáveis pela circulação do bairro, e fazem ligação com os acessos do mesmo. Hoje, as vias de acesso se fazem através da Avenida das Américas: a leste, a ligação com a Auto-Estrada Lagoa-Barra e a Estrada do Auto da Boa Vista; a oeste, o Recreio do Bandeirante até a Estrada da Grota Funda, seguindo para Santa Cruz; e a Avenida Ayrton Senna, ligando Jacarepaguá com a Linha Amarela, fazendo a ligação do bairro com a Zona Norte.

 

Uma primeira etapa da realização e ocupação da região se dá através da implementação dos Condomínios Fechados. Isso ocorre na segunda metade da década de 70. Esses Condomínios marcam uma nova forma de viver na cidade, aliando a privacidade à segurança e à concentração próxima de serviços. Esses condomínios são a realização dos núcleos urbanos estabelecidos por Lucio Costa: associam moradias com serviços. Os primeiros desses núcleos foram os condomínios Novo Leblon e Nova Ipanema, este no entroncamento da Avenida das Américas com a Avenida Ayrton Senna, e aquele 1 km a oeste do primeiro, conforme padrões estabelecidos no Plano Piloto.

Logo depois foram construídos os condomínios Barramares, Atlântico Sul, Riviera del Fiori, Village Oceanique e Terrazas da Barra, porém esses já não seguiram a risca o Plano Lúcio Costa, havendo modificações no gabarito permitido, espaçamento entre os condomínios e a não construção das edificações de serviço e comércio.

 

(…)

A década de 70 é caracterizada, então, pelo surgimento dos primeiros condomínios, criando uma nova forma de morar, pois associavam as residências com serviços e lazer, conforme proposta original do Plano, destinado a uma classe média alta.

 

Na década seguinte, as principais construções estavam voltadas para o setor comercial, de serviços e lazer, localizados fora desses condomínios fechados. Ocorre a construção de prédios isolados, no sentido de não formarem condomínios fechados, porém, por estarem construídos próximos uns aos outros, formam associação – como é o caso do Parque das Rosas, do Bosque Marapendi, e mais recentemente do Parque Lúcio Costa. Em outros casos, alguns prédios caracterizam-se por possuírem um gabarito bem mais baixo do que o permitido por lei, principalmente próximo a Avenida Canal de Marapendi e na Avenida das Américas.

 

Durante a gestão de Marcelo Alencar foi implantado o projeto RIO-ORLA, que transformou a Avenida Litorânea – Sernambetiba – exatamente no que Lúcio Costa não gostaria que ocorresse. A Av. Sernambetiba foi duplicada, ganhou canteiro central, transformado em jardim, com estacionamento e retorno.

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É difícil hoje, com todo o acelerado processo de urbanização que ocorreu na Barra da Tijuca, imaginar a orla com as mesmas características da década de 60. O projeto Rio Orla ganhou prêmio internacional na Itália, como o melhor do gênero no mundo.

 

Antes da realização desse projeto, a orla já se encontrava completamente distorcida do Plano Piloto. Havia prédios de mais de 25 pavimentos, fazendo sombra na areia; apart-hotéis; comércio o mais variado possível; e se encontrava em uma grande desordem, principalmente no que diz respeito ao estacionamento dos automóveis em dia de praia.

 

(…)

Esse projeto ajudou na imagem da orla, mas pouco contribuiu para manter o ar agreste da região. Contudo, isso se fez necessário devido ao caos que se encontrava a Avenida Sernambetiba, principalmente durantes os fins de semana, quando o número de freqüentadores aumentava consideravelmente. Com o projeto a orla perdeu o ar agreste e ganhou um ar urbanizado.

A Avenida das Américas recebeu suas alteração durante o primeiro mandato do prefeito César Maia. A Avenida se transformou em uma grande auto-estrada, primeiro sendo duplicada e depois ganhando pistas auxiliares, para fazer a ligação interna do bairro, conforme previa o Plano Lúcio Costa. Contudo, ao invés de serem construídas as passagens de nível para a circulação dos carros e pedestre, foi implantada a sinalização em toda sua extensão, da Barra da Tijuca ao Recreio dos Bandeirantes.

 

A preocupação paisagística também esteve presente nos mandatos de César Maia e Luiz Paulo Conde. As vias de rolamento principais ganharam canteiros centrais arborizados, que se encontram sempre bem cuidados. Esse fato se faz importante por dois fatores: 1° esses canteiros antes eram cobertos por capim e lixo; e 2° porque essas áreas, não cimentadas, contribuem para a infiltração da água da chuva, o que ajuda no abastecimento das lagoas.

 

Os anos 90 são fortemente marcados pela construção de edifícios comerciais e de escritórios – Centro Empresarial Barra Shopping, Barra Medical, Centro Médico Richet e Centro Comercial Esplanada da Barra. Não se sabe se devido a isso, ou como causa, a sede de grandes empresas se transfere para o bairro, como a Amil, Shell, CBF e mais recentemente a Unimed, aumentando o contingente populacional do bairro.

 

Também é a partir dessa mesma década, que o turismo ganha importância na Barra da Tijuca. Podemos observar a construção de parques temáticos – Terra Encantada, Rio Water Planet, Wet n’ Wild – e de hotéis, como o da rede Sheraton e Blue Tree, e mais recentemente o Transamérica, e os shoppings também se multiplicam.

 

No final da década de 90, surgem duas “novas formas de morar” na Barra da Tijuca. A primeira é o “home-office”, novos condomínios privados, que procuram conciliar, em um mesmo espaço a moradia e o escritório, para poder-se trabalhar em casa; e a segunda é a construção para um outro estrato da classe média, de edifícios construídos em terrenos menos valorizados, distantes um pouco do núcleo de concentração da Barra, como é o caso do Rio 2 e do Nova Barra (esses condomínios são construídos no Recreio ou Jacarepaguá mas seu grande atrativo é estar “a alguns minutos” da Barra da Tijuca).

 

Contudo, a função do bairro se modifica. No início da década de 70, sua função era extremamente de moradia: as famílias moravam na Barra, mas trabalhavam e estudavam fora do bairro. Com o passar do tempo, a construção de novos edifícios e toda uma gama de comércio e serviço que veio ao longo da década de 80 e 90, o bairro, se caracteriza hoje, além do uso residencial, por funções das mais diversas possíveis: comércio, serviços, lazer, turismo e começa a ganhar forma a função de um novo centro metropolitano, assim com previsto por Lucio Costa e pelo PUB-Rio.

 

(…)

 

Muitas das preocupações estéticas de Lúcio Costa, hoje ainda estão presentes na Barra da Tijuca. A preocupação com as instalações elétricas, que no princípio eram aparentes, só da década de 90 se tornam subterrâneas. A paisagem verde, outra grande preocupação, se faz presente nos canteiros centrais arborizados, na presença de parques, bosques, áreas de preservação, áreas de reflorestamento etc.

 

(…)

As construções residenciais e comerciais continuam a se multiplicar no bairro. O “marketing ecológico” é amplamente utilizado, o que garante, em parte, a preservação dos ecossistemas costeiros, principalmente a faixa de mangue das lagoas. Já o pouco que ainda podemos encontrar das dunas, continuam sendo retiradas para a construção das edificações.

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