Hoje me lembrei de um post muito antigo do Diário do Rio, de março de 2007, reprodução de um texto de Renata Maneschy, como certamente a esmagadora maioria dos atuais leitores não leram, e é um texto que exprime tão bem a alma carioca que tinha de repetir.
Ser carioca é demais…
Ser carioca
É duro admitir mas ser carioca é falar sem medir consequências. É dizer “vem” e se assustar com o tocar da campainha.
Ser carioca é não ter hora de ir pra praia nem ter hora pra sair de lá. É de repente nem aparecer. É a cultura da espontaneidade que só quem é, sabe. Só quem mora no Rio, entende. É mudar de opinião, mudar de atitude ao sentir vontade. Desejo, logo faço. Não quero, tudo bem.
É ser sincera ao falar e verdadeiro ao omitir. É viver sem obrigações. Ser responsável com o seu querer.
Me desculpem os paulistas, mas ser carioca é ser natural. É confiar nos próprios instintos.
É encontrar com celebridade na rua e virar o rosto para olhar o pôr-do-sol. É ser blasé com a própria rotina. É sorrir para o surreal.
É sair para a night de havaianas e cabelo molhado. Ir para o shopping como quem muda de cômodo. É fazer de tudo uma ida à esquina. É ver o inédito como óbvio. É dizer sim sem balançar a cabeça e depois virar pro lado e dizer: “Ahn?”
Ser carioca é voltar pra casa depois de trabalhar e olhar a paisagem verde. É dormir até tarde sem pressa de viver. Porque a vida está lá fora. A natureza é aqui. Sem pressa, sem compromisso. É apenas sentir.
É gostar de roda de samba na esquina. Sem clube nem turma. É ser amigo do estranho. É ver corpos bonitos passar e poder contemplar a beleza de ser e de estar.
É viver na cidade maravilhosa e não se orgulhar de monumentos. É sorrir para qualquer mendigo na rua. É conhecer barulho de fuzil, ter medo mas não se afligir.
Ser carioca é se permitir.
Foto: Rio de Janeiro por Iko