O Regresso: vá de estômago vazio

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O Regresso

Indicado em 12 categorias do Oscar, The Revenant (O Regresso) é o filme mais badalado do momento.
Também pudera, com direção do ganhador do Oscar de melhor filme do ano passado (Birdman, 2015), o mexicano Alejandro González Iñarritu, e Leonardo DiCaprio vindo com tudo sedento pelo sua tão sonhada estatueta, o filme é pra quem gosta de técnica e belas atuações, enredo aqui passa longe.

Baseado na obra de Michael Punke e ambientada na Carolina do Sul em meados de 1823, a história trata do (real) Hugh Glass (DiCaprio) que para sobreviver une-se aos caçadores de pele que seguem viagem sob o comando do Capitão Henry (Domhnall Gleeson) para os guiar pelo tortuoso caminho que os leva até seu acampamento evitando o encontro com os índios, considerados seus inimigos.

As primeiras dificuldades de Glass já aparecem dentro do próprio grupo com a hostilidade de Fitzgerald (Tom Hardy) que deixa claro o tempo todo que não o suporta, nem a seu filho mestiço Hawk.
Essa divergência só acontece pra criar um elo de vingança de um para com o outro, que veremos adiante, e dar ao filme algum tipo de enredo que o sustente.

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O Regresso
Após um feroz ataque de uma ursa (uma das cenas que mais prendem o fôlego), Glass fica completamente imobilizado e incapaz de seguir viagem guiando o grupo.
Por acabar se tornando um fardo, Cap. Henry promete uma gorda recompensa a quem ficar para trás e ajudá-lo em seus últimos dias de vida.

De olho no bônus, Fitzgerald se encarrega da tarefa junto com o doce Bridger e o filho de Glass.
Fica nítido que em algum momento o ‘caldo vai desandar’ e Fitzgerald não demora a tentar matá-lo e a assassinar seu filho a sangue frio diante dos seus olhos enquanto Bridger está ausente. Abandonado e dado como morto, até esse momento a atuação de DiCaprio é extremamente bela e dolorosa e logo a falta de empatia dos personagens pai e filho se desfaz e fica marcada como a cena mais bela do filme.

Como o próprio nome diz, comendo o pão que o diabo amassou e enfrentando vários percalços em seu caminho (vale lembrar que além de manco, garganta cortada, costas em carne viva, corpo cheio de terra dentre outras coisitas más, ainda há a forte nevasca e índios no meio do caminho como agravante), Glass jura vingança e parte em busca de Fitzgerald que a essa altura já se encontra longe com Bridger.
Essa segunda parte é a mais monótona do filme e a história não se aprofunda em mais nada, sequer na questão colonização e índios versus brancos.

O regresso

Antes do clímax do reencontro entre os dois, o enredo abre espaço para o cenário belíssimo, para a fotografia impecável de Emmanuel Lubezki e o som de congelar a alma.
Só que isso depois de um tempo cansa, daí a importância de se pensar em uma história capaz de prender o telespectador.

Na contramão da obscena e apelativa atuação de Léo que só falta gritar no meio do filme “ESSE OSCAR É MEU”, há Tom Hardy impecável como vilão. Seu papel abre precedentes para além de um simples homem mesquinho, egoísta e arrogante.

Fitzgerald na verdade é um homem de convicções, que já passou por muitas na vida, fala em Deus o tempo todo para justificar seus atos e só tem um desejo: sobreviver para chegar ao Texas e levar uma vida tranquila.
Os constantes retornos ao passado de Glass também acabam arrastando o filme para a monotonia e em determinado momento não se aguenta mais ver seu sofrimento.

Com um final previsível e sem grandes emoções, o filme não conseguiu me arrebatar.
Talvez a perfeição dele estivesse justamente no fato de não precisar ser perfeito o tempo todo.
O nome de Leonardo DiCaprio vem mais forte que nunca para a grande premiação do cinema e se ganhar é justo, visto todas as últimas indicações e atuações maravilhosas não reconhecidas pela Academia, porém engolir insetos e sofrer, sofrer e sofrer perpetuamente até enobrece um ator de seu quilate, entretanto, não o define.

DiCaprio é bem maior do que o personagem e Iñarritu não precisava gritar aos quatro ventos como é um diretor maravilhoso como faz nesse seu último trabalho.
Se tivesse o filme menos apelação e mais consistência de narrativa, seria minha aposta certa na premiação.
Duas horas e quarenta minutos depois, o estômago embrulhado e uma leve decepção na conta, aguardemos o dia 28 com ansiedade.

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Carioca, apaixonada por cinema, gastronomia, viagens, livros e sua família. Troca qualquer balada por uma sessão de cinema e adora o gênero drama, pois assim consegue se esquecer dos seus próprios. Se emociona em todas as aberturas dos filmes (até os do Adam Sandler. Mentira!) Administra a página @oquefazernorio no Instagram e Youtube e a página @ondecomernorio com dicas gastronômicas da Cidade Maravilhosa!
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