Acho que sou realmente um cara demodé. Quando escuto as pessoas falarem, chorando de alegria, que compraram um imóvel novo, na planta – salvo raras exceções de acabamento primoroso – como se isso fosse milhões de vezes melhor que adquirir um imóvel mais antigo, ainda mais ciente de que estes custam muito mais, fico chocado.
Se na Zona Oeste e da Zona Suburbana os apartamentos antigos eram construídos com acabamentos muitos simples, e sem qualquer requinte, isto simplesmente é o oposto do que ocorreu na Zona Sul, na Zona Norte, e em vários locais do Centro.
Moro num prédio dos anos 20. Sua portaria é inteira em mármores importados; sua fachada, histórica, tem detalhes que custariam uma fortuna para fazer. Seu elevador, com espelhos belgas e todo em imbuia, é uma pérola. Meu hall de elevadores tem praticamente 15m2, espaço que hoje em dia não mais seria “perdido”(sic) com área “não-vendável”, e duas janelas com vista para o mar. Isso, vista para o mar FORA DO APARTAMENTO. A escada de serviço é inteira em mármore português. Por ser dos anos 20, o prédio já teve praticamente todos os seus encanamentos trocados, ou seja, pouco tem a estourar. Meu apartamento, refiz completamente, e tem tubos igualmente novos.
Narro isto para dizer que me choca o fato de um apartamento com varanda de parapeito em alumínio tubular, portaria em porcelanato, fachada sem qualquer inspiração (mais-do-mesmo, tudo sempre igual, com raras exceções – vide os magníficos projetos de Sergio Conde Caldas, e alguns outros poucos inspirados), escada de escola, possa valer praticamente a mesma coisa que um apartamento antigo com o DOBRO do tamanho.
Por que esta obsessão doentia pelo novo? E pior, pelo novo sem inspiração alguma, pela má arquitetura? A construção civil do Rio de Janeiro, salvo raras exceções – e honrosas – tende a colocar à venda apartamentos minúsculos, sem charme, em prédios sem alma, que são vendidos pelos mesmos preços que apartamentos verdadeiramente magníficos construídos dos anos 20 aos anos 80.
O pior de tudo é quando observo que os acabamentos utilizados em muitos prédios novos (texturas, porcelanatos, etc) simplesmente não são duráveis, além de não terem qualquer inspiração. Eu por exemplo jamais trocaria um apartamento dos anos 50 no Catete por um apartamento no Quartier Carioca, aquele empreendimento enorme que foi feito no lugar da concessionária Wilsonking. Apertados, com cara de “qualquer coisa”, têm a seu favor apenas a infraestrutura “de condomínio na Barra”, o que poderia ser facilmente obtido associando-se a algum clube próximo.
As exceções em acabamento normalmente são nos apartamentos de altíssimo luxo, que, mesmo novos – como alguns da península – tem acabamentos primorosos. Mas isto não é normal. Pelo amor de Buda, quem pode aturar mais textura, alucobond e porcelanato?
Quem não se choca ao chegar na Barra da Tijuca e encontrar aquele hotel simplesmente pavoroso, que deveria ser implodido pois, além de impedir a vista linda que outrora tínhamos ao chegar ao bairro, mais parece um banheiro gigante?
Enfim, não cabe a mim discutir com os Moinhos.