Com o objetivo de levar à sociedade o debate sobre saúde mental, o grupo Teatro de DyoNises celebra um mês de ensaios abertos na Biblioteca Parque Estadual, no Centro do Rio. O uso da arte como ferramenta para despertar emoções e solucionar conflitos psíquicos é o método que foi pensado pela consagrada psiquiatra transcultural Nise da Silveira. No último mês, cerca de 100 pessoas passaram pelas atividades, entre elas, população em situação de rua, crianças, idosos, psicólogos, estudantes, músicos e atores.
Quem explica um pouco sobre a ação é o psiquiatra comunitário e ator Vítor Pordeus, que lidera o grupo e leva à população carioca o método de dramaterapia, pesquisado e aplicado por ele há mais de dez anos. “Vivemos em uma sociedade adoecida por consequência de traumas e emoções que não foram expressadas. Depressão, ansiedade, estresse, tudo isso são sintomas de uma pandemia de saúde mental que ocorre a nível mundial. Por meio do teatro, conseguimos trabalhar essas emoções e identificar as origens dos problemas.”
O grupo ensaia a peça Hamlet, de Shakespeare, às terças e quintas-feiras, das 15h às 17h na biblioteca, alternando com cortejos musicais até o Campo de Santana. Segundo Vítor, a resposta do público é muito positiva.
“Nós trabalhamos com essa metodologia há mais de dez anos. Começamos no Hospital do Engenho de Dentro, onde fundamos o Hotel da Loucura, que integrava arte como principal tratamento, como fez a Nise. Hoje, estamos no Centro da Cidade, e a recepção é incrível. Toda semana vivenciamos o despertar da consciência, emoções emergindo e atores nascendo. É transformar dor em arte”, ressaltou Pordeus.
Vítor, além da experiência no Hospital Nise da Silveira, é professor visitante da Divisão de Psiquiatria Transcultural da McGill University, no Canadá. Lá, escreveu a tese “Restaurando a arte de curar numa era científica”, recentemente publicada em livro vendido em todo o mundo. Há um ano de volta ao Brasil, o psiquiatra tem como desafio promover arte e saúde mental gratuita para o povo com acolhimento, afeto e método.
“Primeiro saúde mental, esse é o lema. Política de saúde mental não se faz com eletrochoque e internação, se faz com anamnese e entendimento da origem dos traumas. O teatro desperta a consciência, e é com ele que a cura acontece de fato. Temos experiências, método e resultados”, afirmou.
As oficinas acontecem até dezembro, na Biblioteca Parque Estadual, e é aberta para todas as pessoas, com faixa etária livre.
“O Teatro de DyoNises convida toda a população carioca para entrar em cena, antes que a cortina feche. Venham brincar, encenar, amar e viver uma experiência artística de cooperação e cura”, convidou o médico.