Ônibus sem ar-condicionado: questão de saúde pública

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foto - Pedro Kirilos, Agência O Globo

O quente verão carioca se aproxima. Com ele, um problema que percorre o ano todo, todos os anos, encontra boa parte da população do Rio de Janeiro. Ônibus sem ar-condicionado em um local com altas temperaturas como é o Rio é, acima de tudo, uma questão de saúde pública.

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foto – Pedro Kirilos, Agência O Globo

Em um levantamento realizado em julho deste ano e divulgado pelo jornal O Globo foi mostrado que mais da metade dos ônibus da cidade do Rio de Janeiro não tem ar-condicionado. Dos 7.240 ônibus, 3.928 ainda são “quentões”, totalizando 54,3% de coletivos sem o equipamento, que, de acordo com uma promessa da prefeitura anterior, estaria em 100% da frota até o fim de 2016.

Atualmente, tanto a prefeitura quanto as empresas de ônibus aguardam uma decisão da Justiça para definir um novo cronograma de substituição dos coletivos sem ar-condicionado por veículos climatizados.

Recentemente, o preço da passagem no Rio de Janeiro teve uma redução de 20 centavos, custando, hoje, R$ 3,60. Um dos motivos foi a não totalização da climatização de todos os ônibus que rodam na cidade.

Todavia, muitos usuários do transporte público reclamam, alegando que depois da redução, o número de ônibus com ar-condicionado ficou, aparentemente, ainda menor. Segundo o consórcio Rio Ônibus, isso não ocorre.

Poucos anos atrás, em um teste promovido pelo jornal Extra com ajuda de cientistas e pesquisadores, foram constatadas temperaturas acima dos 40 graus dentro de alguns coletivos cariocas.

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foto – Ana Branco, Agência O Globo

É muito ruim. Você chega a passar mal, de verdade. Eu já até tive um desmaio uma vez. Quando está cheio, então, é algo quase insuportável, desumano, mesmo”, conta Maria da Costa, de 52 anos, que pega ônibus todos os dias para ir ao trabalho, no Centro da cidade, saindo de um bairro da Zona Oeste.

Nos meses mais quentes do ano, a Associação de Passageiros do Rio de Janeiro recebe mais de 50 reclamações por dia relacionadas a calor no interior dos coletivos.

Entre os principais problemas de saúde que afetam as pessoas que usam ônibus no calor sem ar-condicionado estão a desidratação e o aumento do estresse, afetando tanto passageiros quanto motoristas e cobradores – que praticamente não existem mais na cidade do Rio de Janeiro.

A desidratação acontece porque o calor aumenta a transpiração. Logo, vamos perdendo água e isso pode ocasionar tonteira, mal-estar e outros sintomas. A sensação desconfortável por conta do calor também provoca reações em nosso corpo que estimulam o aumento do estresse, que, por sua vez, traz uma série de outros problemas graves de saúde”, pontua o médico Valmir Machado.

Segundo especialistas do portal Rica Saúde, entre as consequências da desidratação, encontram-se o cansaço, pele seca, acidez no estômago, gastrite, colite, prisão de ventre, infecções urinárias, artrite, mucosas secas, dores de cabeça, diminuição do desejo sexual e mesmo depressão.

Já o estresse tem como decorrência insônia, transtornos alimentares, problemas cardiovasculares, depressão, entre outros.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), motorista de ônibus urbanos está entre as profissões com maior nível de estresse no Brasil. A Sul América Saúde realizou uma pesquisa que constatou que existem mais de 30 doenças que são desenvolvidas ou agravadas em trabalhadores do setor de transportes por causa do estresse. Entre elas, problemas cardiovasculares e ortopédicos.

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O Rio Ônibus disse, recentemente, em nota oficial, que a renovação da frota tem sido dificultada, nos últimos anos, pelos efeitos da crise econômica no setor. “Além da falta do reajuste anual da tarifa previsto no contrato de concessão, que deveria ter ocorrido no início deste ano, outras decisões do poder municipal acentuam o desequilíbrio econômico-financeiro das empresas de ônibus no Rio, tais como: atraso, desde 2015, na revisão do cálculo da tarifa (também previsto no contrato de concessão); o congelamento da tarifa em 2013 e 2017; e o não ressarcimento das empresas de ônibus pelas gratuidades de estudantes universitários, benefício criado em 2014”, afirma a nota.

Coordenador do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente, o promotor Marcus Leal destaca que, para viabilizar a climatização, foram incorporados incentivos tarifários entre 2013 e 2016. Pare ele, desde que foi feita a concessão, em 2010, um quarto da tarifa foi destinado para a renovação de frota, totalizando uma receita de R$ 3,5 bilhões. Com esse dinheiro, os técnicos do Ministério Público concluíram que daria para trocar toda a frota atual, com a aquisição de 9.576 ônibus com ar-condicionado.

Em 2011, Fernando Mac Dowell, vice-prefeito de Marcelo Crivella e secretário municipal de transportes, disse que ônibus sem ar-condicionado é uma questão de saúde pública, não de luxo. É hora da prefeitura cuidar das pessoas e resolver esse problema o quanto antes.

 

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