A primeira noite de desfiles das Escolas de Samba do Grupo Especial na Passarela do Samba Professor Darcy Ribeiro, deixou aberto o título de campeã de 2020 para os desfiles desta segunda-feira (24/02). Desde 1985, apenas seis vezes a campeã saiu de uma noite de domingo. Estácio de Sá, Unidos do Viradouro, Mangueira, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio, União da Ilha do Governador e Portela foram as sete primeiras escolas a cruzarem a Avenida Marquês de Sapucaí. Pelo que foi apresentado, dificilmente, a campeã virá de domingo. A Unidos do Viradouro e a Portela, foram as que erraram menos, tinham um canto muito forte, levantaram o público e estarão na disputa que será decidida por décimos. A União da Ilha, é uma das prováveis rebaixadas. A fé é a religiosidade foi o tom da primeira noite. Passando por Jesus, o babalorixá Joãozinho da Gomeia, São Sebastião, São Jorge e diversos santos de religiões de matrizes africanas. Uma verdadeira procissão e romaria.
Estácio de Sá
A primeira Escola de Samba do Brasil, entrou na Sapucaí com vontade de “garimpar” sua permanência na elite do Carnaval carioca. O trunfo da vermelho e branco de São Carlos, foi a professora Rosa Magalhães, que está completando 50 anos de trabalho na Sapucaí. O enredo da Estácio contou a história da “pedra” e teve um bom desenvolvimento e compreensão. Apesar dos poucos recursos da escola, é impossível não ver nas alegorias e fantasias a assinatura da professora. Muitas alas passaram mórbidas, samba pesado, faltou comunicação com o público e uma bateria em ritmo acelerado. Destaque da noite para o Abre-Alas com o Leão, símbolo da campeã do Carnaval de 1992. Erros estéticos foram notados, do meio para o final do desfile a qualidade das alegorias e fantasias caíram muito, o quarto carro foi o pior. Mas o desfile foi valente e de quem vai brigar para ficar!
Unidos do Viradouro
Os ensaios demonstravam o que seria o samba da Viradouro na Avenida. Um refrão forte e que pegou fácil as arquibancadas. A vermelho e branco de Niterói, reafirmou seu brilho, força e vontade de voltar a ganhar títulos. O destaque é para a bateria do mestre Ciça que trouxe variações rítmicas com bossa e referências a músicas de santo. Letra, música e samba casaram perfeitamente. O enredo contou a história das Ganhadeiras de Itapoã, mulheres negras que prestavam serviços para ganhar dinheiro e assim comprar a alforria dos escravos. Desfile colorido, com brilho nas fantasias e as pessoas gritando o samba. O último carro passou apagado e deve tirar uns décimos da escola. Com esse desfile, a comunidade de Niterói pode até perdoar o “Arriba Viradouro!” de 2010.
Mangueira
Infelizmente o samba da Mangueira não pegou na Avenida como esperávamos e o bicampeonato ficou distante. A verde e rosa passou cumprindo a promessa de um desfile crítico e um soco no estômago de muitos. Destaque para o primeiro casal de Mestre-Sala e Porta Bandeira, para a Comissão de Frente e o menino Jesus negro e baleado na cruz. Um desfile além de tudo muito respeitoso e contido, conforme Jesus Cristo viveu. Por fim, achei o desfile morno, com uma arquibancada sem reação, uma bateria que não inovou e carros bem simples. O carnavalesco Leandro Vieira entregou uma belíssima reflexão e fez muita gente se incomodar.
Paraíso do Tuiuti
Melodia boa, cria memória. O refrão “No morro do Tuiuti, no alto do terreirão” junto com a Bateria, foi o destaque da azul e amarela de São Cristóvão. A Tuiuti pediu as bençãos do seu padroeiro e passou de forma técnica e permanecerá no Grupo Especial. Samba empolgante, enredo interessante, alas belíssimas, além de alegorias bem feitas e atraentes. Um desfile em seu conjunto de fácil compreensão e leitura.
Grande Rio
Belíssimo desfile da tricolor de Duque de Caxias. O enredo narrou a vida do Rei do Candomblé Joãozinho da Gomeia desde sua infância até chegar no terreiro de Caxias. Destaque para a comissão de frente e a bateria. Na apuração, observar notas no quesito Evolução e Harmonia que vai ser penalizada devido a problemas no Abre-Alas e no terceiro carro. Nos últimos dois carnavais, a tricolor ficou fora do Desfile das Campeãs e ainda busca seu primeiro título no Grupo Especial. Um ponto negativo da Escola é falta de destaques negras/os em um enredo afro.
União da Ilha
A irreverente União da Ilha entrou na Avenida fazendo uma crítica sobre as favelas. O destaque foi o carro Abre-Alas que retratou uma favela com helicópteros emitindo sons de disparos em cima das frisas. Para muitos, assustador, nas favelas, realidade! O desfile vinha simples, irreverente até o segundo carro quebrar, a harmonia não agiu rápido deixando alas passar à frente e formou-se um enorme buraco na Avenida durante 10 minutos. Além disso, faltando 13 minutos para estourar o tempo, permitiram a Bateria entrar no recuo. A Ilha estou em 1 minuto, vai iniciar a apuração com menos 0,1 décimo e vai ter muito prejuízo em Harmonia e Evolução. A letra do samba também estava muito difícil de compreender. Caso não aconteça nada nos desfiles desta segunda-feira, a Ilha é uma das duas rebaixadas.
Portela
A azul e branca de Madureira entrou na Avenida para encerrar o primeiro dia de desfiles e soube aproveitar muito bem esse design de luz com o início do dia. Alegorias e fantasias com uma paleta de cores cítricas que casou bem com o amanhecer. A águia deste ano com belíssimo movimento sobre as asas um belíssimo azul na ala das baianas. A Majestade do Samba passou bonita, com um samba poético que acabou pegando e com um chão muito forte. Achei que as alegorias estavam com um acabamento primoroso, com destaque para o carro Aldeia Karioka. Desfile forte, de candidata a disputar título. Ponto negativo para a comissão de frente e a última alegoria. O casal de Mestre-Sala e Porta Bandeira que realizaram um parto em sua apresentação, também perderão uns décimos. Lucinha Nobre derrapou em frente a cabine 1 e a bandeira enrolou no mastro. Por fim, senti falta de paisagens do Rio de Janeiro antes da chegada dos portugueses. Como seja, fechou muito bem o primeiro dia de desfiles.