Opinião: Quando a obesidade precisa ser tratada com cirurgia

Luiz Gustavo de Oliveira e Silva, cirurgião geral e bariátrico, escreve artigo sobre o que ele chama de 'epidemia da obesidade' e faz um alerta

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Luiz Gustavo de Oliveira e Silva, cirurgião geral e bariátrico, coordenador do Programa de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital Marcos Moraes

Atualmente, vivemos uma verdadeira epidemia de obesidade, uma doença crônica e progressiva. Segundo a World Obesity Federation, cerca de 46% da população mundial – aproximadamente 1,5 bilhão de pessoas – apresenta obesidade ou sobrepeso. Esses números alarmantes ainda podem piorar: a previsão é de que esse percentual alcance 54% até 2035. No Brasil, o cenário é igualmente preocupante. Dados da última pesquisa Vigitel (2023) mostram que 55% dos brasileiros estão acima do peso, enquanto 24% foram diagnosticados com obesidade, uma condição de difícil controle caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal.

A obesidade é, ainda, um agravante para a saúde geral, pois eleva o risco de desenvolvimento de doenças como diabetes tipo 2, hipertensão arterial, cardiopatias, apneia do sono, câncer e transtornos do humor. Como consequência direta, observamos uma taxa crescente de mortalidade associada a essas condições.

O tratamento da obesidade é complexo e demanda suporte multidisciplinar. Mudanças no estilo de vida – com alimentação mais saudável, prática regular de exercícios físicos e cuidados com a saúde mental – são fundamentais. Em muitos casos, o uso de medicamentos pode ser indicado, mas há situações em que a cirurgia é a melhor opção para um controle mais eficaz e duradouro.

A cirurgia bariátrica e metabólica se destaca como o procedimento mais eficaz para pessoas com obesidade e doenças associadas. O estudo sueco SOS mostra que pacientes submetidos à cirurgia perdem, em média, entre 30% e 35% do peso corporal ao longo de 20 anos. Além disso, a intervenção melhora significativamente o controle de comorbidades, como diabetes tipo 2 e hipertensão arterial.

Um dos estudos mais respeitados na área, o STAMPEDE, conduzido pela Cleveland Clinic (EUA), acompanhou, por cinco anos, pacientes com diabetes tipo 2 de difícil controle. Os resultados demonstraram que a remissão da doença foi significativamente maior entre aqueles que realizaram a cirurgia, em comparação aos que receberam o melhor tratamento clínico-medicamentoso disponível.

No Brasil, o estudo GATEWAY, realizado pela Universidade de São Paulo, mostrou que, após três anos, pacientes hipertensos submetidos à cirurgia reduziram em mais de 30% o uso de anti-hipertensivos, em comparação a indivíduos não operados. Diversas pesquisas científicas ao redor do mundo indicam que a cirurgia bariátrica e metabólica reduz a ocorrência de eventos cardiovasculares graves, como infartos e acidentes vasculares cerebrais.

Apesar dos benefícios comprovados, a obesidade ainda enfrenta preconceitos, e o acesso à cirurgia é limitado. A conscientização sobre a gravidade e as opções de tratamento é crucial. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) de 2023 revelam que, embora mais de oito milhões de brasileiros sejam elegíveis para a cirurgia, apenas 0,097% dos indivíduos com obesidade grave têm acesso a esse tratamento.

Vale destacar que a segurança da cirurgia bariátrica hoje é comparável, ou até superior, à de procedimentos comuns, como a remoção da vesícula biliar. Esse tratamento não só amplia a expectativa de vida dos pacientes, como também proporciona uma vida com mais qualidade e bem-estar.

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