Os 448 anos da Ilha do Governador

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Ilha do Governador por Marcão

É difícil falar de 448 anos em um único artigo, tamanha é a imensidão histórica da Ilha do Governador. De um acidente geográfico, inicialmente povoado por gatos maracajás e golfinhos – assim como uma flora exuberante que ainda é motivo de preservação em determinadas áreas – a uma região-cidade, com quatorze bairros heterogêneos e, em certos aspectos, até desintegrados. Um dia já foi “Ilha de Paranapuã” – ou, simplesmente, “Ilha do Gato” -, em alusão, respectivamente, a ocupação primitiva dos indígenas no século XVI e dos felinos que aqui lhes serviam de campanhia. Depois se tornou do Governador, enquanto sesmaria concedida em 1568 à Salvador Correia de Sá, “o velho”, governante, por dois períodos, da Capitania do Rio de Janeiro. Este era sobrinho de Mem de Sá, e seu engajamento junto ao tio nas lutas contra os franceses e tamoios lhe renderam essa maravilhosa compensação.

A Ilha realmente não reserva mais a essência de um local de veraneio, como Dom João VI lhe atribuía quando aqui praticava suas caças no período colonial. Também não é mais comumente classificada como “o paraíso”, qualidade característica de suas dezenas de praias, muito apreciadas pela população local e visitante no decorrer da primeira metade do século XX. Contudo, nossa região ainda preserva elementos de sua exuberância histórica, como as igrejas, o casario antigo, os monumentos, os parques e praças, ainda que a modernidade por muitas vezes tenha interferido na sua descaracterização e depredação.

A Ilha do Governador evoluiu, mas também regrediu nestes 448 anos. Evoluiu demograficamente, atingindo, hoje, mais de 200 mil habitantes. Desenvolveu suas infraestruturas, com abertura de vias importantes nas décadas de 1940/50, entre as quais a Galeão – Ribeira e a Estrada Paranapuã, e com o assentamento de galerias de água e esgoto e redes pluviais, conforme ocorre até os dias de hoje. Experimentou uma ampla transformação do espaço urbano nas décadas de 1990 e 2000, com o Programa Rio-Cidade Galeão, Cacuia e Cocotá, assim com a modernização das orlas das praias da Bica, Engenhoca e Freguesia, mais recentemente. Muitas de suas favelas ganharam programas de urbanização, e um moderno hospital público que para muitos é uma conquista. Entretanto, regredimos na qualidade do transporte público, ao termos hoje apenas um terminal hidroviário, quando no passado já possuímos pelos menos seis pontos pontos de atracação. O transporte rodoviarista também deixa muito a desejar, seja na qualidade do serviço dos ônibus ou kombis e vans, e também nos rotineiros congestionamentos.

Evidentemente estes seriam alguns dos muitos exemplos positivos e negativos desta longa história. Contudo, em nenhum momento nós, insulanos, deixamos de amar esse lugar. Tenho muito orgulho de ser filho desse chão e cria dessa terra. Ser herdeiro de uma família de insulanos do século XIX me enche de orgulho e ânimo para buscar qualidade de vida para nossa comunidade. Na Ilha está o meu início, meu meio e meu fim. Parabéns, minha amada região!

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Nascido e criado na Ilha do Governador, a família está lá desde o final do século XIX. Seu bisavô foi André Gomes Bonel, popularmente conhecido como “Seu André”, proprietário da primeira farmácia da da Ilha, no Zumbi. Com 28 anos, Allan possui graduação em Sociologia pela Universidade Candido Mendes (UCAM – RJ) e Pós-graduação em Política e Planejamento Urbano, pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR – UFRJ).

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