Em 21 de junho o país comemorará 50 anos da conquista do tricampeonato mundial da Copa do Mundo ocorrida no México. De acordo com especialistas, a Seleção Brasileira de 1970 foi a maior de todos os tempos. Na decisão, o Brasil goleou a Itália por 4 a 1 com direito a uma campanha avassaladora e irretocável: seis vitórias e 19 gols marcados. Pelé, Tostão, Rivellino, Carlos Alberto Torres, Gérson e o furacão Jairzinho encantaram o mundo.
Contudo, comparando aquela época com a atual, percebemos que há um crescente abismo econômico. Atualmente o esporte vivencia uma nova dimensão social, se assemelhando a uma indústria produtora de novos mitos. Naquele tempo os jogadores faziam propagandas de comida, bebida e itens mais banais. Hoje são propagandistas de grandes marcas internacionais. Ao explorar o potencial econômico do futebol, os empresários têm por objetivo transformar sentimentos em consumo e logicamente visam o lucro.
Analisando, portanto, o elenco tricampeão da Copa do México, percebemos que alguns daqueles atletas encerraram a carreira em modestas equipes, algo que seria impensável ou até bizarro no futebol contemporâneo. O goleiro Ado, por exemplo, reserva imediato de Félix, possuía 23 anos e obteve sucesso atuando pelo Corinthians. Curiosamente, veio a encerrar sua carreira no Bragantino, em 1982. Já o zagueiro Brito, na época com 30 anos, atuava pelo Flamengo e, apesar de memoráveis passagens por grandes clubes do futebol brasileiro como Vasco, Internacional, Cruzeiro e Corinthians, seu último time foi o modesto Ríver, do Piauí, em 1979.
O caso talvez mais emblemático tenha sido o do zagueiro Joel. Após uma brilhante carreira, pontuada por grandes partidas pelo Santos, resolveu aos 29 anos parar de jogar para mergulhar na bebida. Sua última participação ocorrera pelo extinto Saad, de São Caetano do Sul. Veio a torrar todas as economias duramente conquistadas com o futebol até se dar conta que, aos 35, não havia lhe sobrado absolutamente nada. Tomou então uma decisão radical: vendeu todas as medalhas que guardava em casa, incluindo a de campeão da Copa do Mundo. Inteiramente falido e com uma filha para criar, se viu obrigado a trabalhar como estivador no Porto de Santos. Invariavelmente quando era reconhecido, negava a sua origem, pois não admitia que interpretassem sua triste realidade como fracasso. Morreu de insuficiência renal aos 69 anos, em 23 de maio de 2014, pobre, enfermo e esquecido pelos clubes que um dia se renderam a sua indiscutível classe.
O lateral-esquerdo Marco Antônio, também com grandes momentos por Fluminense, Vasco e Botafogo veio a terminar a carreira no modesto Fast, do Amazonas, em 1984. Atualmente leva uma vida de dificuldades e luta contra um inimigo invisível e poderoso, o alcoolismo. Zé Maria, o consagrado lateral-direito do Corinthians pendurou as chuteiras, em 1984, na Internacional de Limeira. O volante Clodoaldo, titular por mais de uma década no Santos, vestiu a camisa do Nacional em 1981, para defender o clube no Campeonato Brasileiro. Também atuou pelo Fast, no emblemático jogo contra o New York Cosmos. Já o último clube de Jairzinho foi o desconhecido Nove de Octubre, do Equador, que hoje atua na segunda divisão do futebol do país. Outros atacantes que não atuaram no Mundial, mas integraram o plantel foram Edu, do Santos, e Dario, do Atlético Mineiro, os quais encerraram suas carreiras respectivamente no Dom Bosco (MT) e e Comercial de Registro (SP).
Comparando aqueles tempos com os de hoje nos parece impensável imaginar Neymar terminar seus dias no São Cristóvão ou Gabriel Jesus assinalar seus últimos gols com a camisa da Ferroviária, de Araraquara. O futebol passa por um processo crescente de elitização e a tendência é que somente os clubes de massa possam realmente prevalecer em um futuro cada vez mais dominado pelo crescente poderio econômico.