Abordar alguém de forma discreta, se esforçar para soar sedutor, lidar com a falta de assunto… com tantas preocupações na hora do flerte, dominar a habilidade da paquera pode parecer tão difícil para boa parte dos brasileiros — mas certamente não para aqueles que vivem no Rio de Janeiro.
Depois de encabeçarem o pódio dos sotaques mais inconfundíveis e invejáveis no ano passado, os fluminenses acabam de levar um novo título no mínimo curioso segundo brasileiros de todo o país: o de maiores paqueradores nacionais, conforme revela o levantamento mais recente da Preply.
Isso porque, para compreender quais estereótipos as pessoas tendem a atribuir a cada região no dia a dia, no último mês, a especialista no ensino de idiomas pediu que mil internautas de todas as partes do Brasil indicassem que estados correspondiam a uma lista de rótulos sociais previamente selecionados pela plataforma, que abarcaram características como “festeiros”, “bons anfitriões” e “reservados”.
De acordo com os respondentes, quem vive no estado do Rio não é apenas mestre na arte da paquera, mas faz parte da segunda população mais comunicativa e festeira a nível nacional, atrás apenas dos paulistas e baianos.
Principais conclusões
- Para os brasileiros, os maiores paqueradores do país estão no Rio de Janeiro (33%);
- Os mineiros (22%), por sua vez, são os campeões no quesito bons anfitriões;
- Todo o pódio dos habitantes mais reservados foi ocupado por estados da região Sul;
- Os baianos foram tidos como festeiros por 35,5% dos entrevistados;
- À frente dos cariocas e baianos, o título de pessoas mais comunicativas do país (17,7%) é dos paulistas.
Cariocas, os mestres nacionais na arte da paquera?
Descontraídos para alguns, intensos para outros, quem reside no Rio de Janeiro também parece levar uma fama bastante peculiar nas diferentes regiões do Brasil: a visão de que estes são os grandes “bons de lábia”, sobretudo quando a habilidade de convencimento em questão é estrategicamente usada para conquistar outros corações.
Para as pessoas dos demais estados, a destreza na hora do flerte que supostamente marcaria a essência fluminense é tanta que, se comparados ao restante do Brasil, são eles os responsáveis por ocuparem o topo do ranking dos paqueradores de mão cheia (33%), ao lado dos paulistas (19%) e baianos (9,1%). A disputa, de toda maneira, está longe de ser acirrada… e só reforça como seria preciso tomar cuidado com o jeitinho “xavequeiro” desses mestres na arte da paquera.
Ora, mas o que poderia explicar as frequentes associações entre os moradores do Rio e o bom “xaveco”?
Embora tal estereótipo admita diversas origens, a plataforma atrela boa parte da impressão ao sotaque e à maneira típica de se portar no estado, comumente percebidos como charmosos e autênticos por outros brasileiros. Graças à desenvoltura para interações sociais, em especial entre os cariocas, é provável que os mais irreverentes sejam vistos como conquistadores, mesmo quando o interesse romântico não faz parte do bate-papo.
Mineiros, os melhores anfitriões do Brasil
Sorriso no rosto, uma boa conversa, disposição para ajudar… se existe algo que ninguém no país dispensa é ser bem recebido seja qual for o lugar — algo que os mineiros, aparentemente, dominam como ninguém. Afinal, reforçando o título de um dos destinos mais acolhedores do mundo dado em 2021 pela plataforma Booking, de acordo com os entrevistados pela plataforma, não há quem ganhe dos residentes de Minas Gerais (22%) em matéria de hospitalidade.
Para aqueles que atrelam tal estereótipo à população do estado, razões não costumam faltar: há quem justifique o rótulo na suposta modéstia e simplicidade de seus moradores ou, ainda, na tradição mineira de se oferecer comida aos visitantes como forma de carinho, abordagem que tenderia a contribuir para o conforto de quem acabou de chegar. Que ambiente, aliás, não se tornaria mais acolhedor em meio ao cheiro dos pães de queijo recém-saídos do forno, o sabor do clássico doce de leite e as boas e velhas conversas regadas ao café?
Cariocas – Vice em festeiros
Não é por acaso, nesse sentido, que os baianos sejam a população que mais se aproxima de Minas Gerais em tal associação, conforme indicaram os respondentes durante o estudo.
Isso porque, também famoso pela cordialidade e gentileza, estamos falando de um estado bastante associado à sua culinária afetiva, sem contar a atmosfera positiva das populares festas típicas da Bahia — relação que provavelmente explica não apenas o título de segundo melhor anfitrião nacional (14%), mas o porquê de, na opinião dos brasileiros, este levar o estereótipo de povo mais festeiro de todo o Brasil (35,5%).
Paulistas e cariocas: os mais comunicativos
Em um país tão elogiado por sua sociabilidade e abertura aos demais, será que daria mesmo para dizer que existe um estado mais comunicativo que o restante? Pelo menos de acordo com os entrevistados pela Preply, ainda que desafiadora, a resposta é sim… e estaria na mesma região cujos habitantes vira e mexe recebem as etiquetas de “estressados”, “apressados” e “viciados em trabalho”: São Paulo.
Mesmo com concorrentes de peso para o título como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, segundo 17,7% dos respondentes, o estado que abriga a capital mais agitada do país também seria aquele onde as pessoas apresentam as melhores habilidades de comunicação se comparadas aos habitantes dos outros 26 estados.
Por outro lado, não surpreende que todos os três estados sulistas tenham sido eleitos os mais reservados do Brasil, cada qual em uma posição de destaque no pódio. Constantemente associados a comportamentos retraídos pelos de fora, tanto paranaenses quanto catarinenses receberam o título de comedidos por 10% dos respondentes, num ranking encabeçado por ninguém mais, ninguém menos que os gaúchos, símbolos da discrição por 2 em cada 10 entrevistados ao redor do país.
“Embora as representações culturais sobre determinadas populações nem sempre sejam negativas — como nos mostra os estereótipos comumente associados aos mineiros e paulistas —, é fundamental reconhecer de onde vêm e questionar certas impressões generalizadas, que tendem a simplificar e reduzir a diversidade dentro de qualquer comunidade“, comenta Sylvia Johnson, líder de Metodologia da Preply. “Não é por acaso que enfrentamos dificuldades ao tentar explicar por que categorizamos certos estados como ‘festeiros’ ou ‘reservados’. Isso revela como muitas de nossas percepções sobre esses estados são, na verdade, reflexos de narrativas simplistas perpetuadas quase que inconscientemente.“
Metodologia
Entre os dias 18 e 21 de dezembro de 2023, foram entrevistados 1000 brasileiros residentes em todas as regiões do país. Para determinar os estereótipos relacionados a cada parte do Brasil, os entrevistados responderam a questões associando diferentes rótulos sociais aos residentes de cada um dos estados: “comunicativo”, “reservado”, “festeiro”, “paquerador” e “bom anfitrião”. Uma vez finalizada a coleta das respostas, os percentuais de cada região de Norte a Sul possibilitaram a criação de diferentes rankings, cada qual com os vencedores em uma das cinco categorias.
Parabéns, essas são informações muito relevantes!
A Globo nos anos 70 e 80 trouxe para trabalhar na Rede Globo jornalistas de São Paulo.
Foram esses jornalistas paulistas que criaram o estereótipo do Carioca como vagabundo e que só pensa em praia, futebol e Carnaval.
Acho que de modo geral o brasileiro tem é pelo exterior.