Os Oliveiras Tejo: Capítulo I

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N.E.: Para quem não sabe André Delacerda escreve ficção e em uma edição especial para o Diário do Rio escreverá sobre a história da família Oliveiras Tejo que vem para o Rio de Janeiro com a Família Real e até os dias de hoje participou dos principais momentos de nossa cidade.

 

O trote do eqüino de origens mouras e cor mascava, em velocidade rompia as montanhas que circundavam o velho Tejo. O cavaleiro de vestes oficiais parecia afoito por chegar logo ao destino, por isso, impulsionava o cavalo a correr mais e mais com o bater das botas de encontro a parte inferior da cela do animal.

 

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Chegando ao alto de uma colina o oficial pôde ver o leito do Tejo emoldurado pelas montanhas de oliveiras e vinhais. Observou parado como que se quisesse recuperar o fôlego das muitas léguas andadas desde Lisboa até aquelas bandas.

 

Deu mais um toque no cavalo que voltou a correr sobre a inclinação e passou rente a uma placa de maneira que distintamente indicava que ali entrava-se na propriedade dos Oliveiras Tejo.

 

Puxou mais o arreio para tentar deter a velocidade do animal, passou por entre um arco de pedra que se compunha por uma murada de media altura, tendo a sua frente um jardim de oliveiras e cortiças que servia de cortina para o belo sobrado de dois andares sob uma pequena inclinação próximo ao leito do Tejo.

 

 

Dentro do sobrado ao ouvir o trote do cavalo, um senhor de media estatura e ainda de camisola, grita para um dos criados de uma janela.
– Fernão, veja quem estar diante da casa!

 

Ao ouvir a voz do senhor, o criado prontamente saiu de um dos cômodos e atravessou um amplo salão, abrindo a porta principal da casa que dava acesso aos degraus diante do terreiro.

– Qual sua graça na Quinta Oliveiras Tejo?

 

O oficial retira uma carta do embornal e a ler com entonação
– Venho em nome de D. João VI Rei de Portugal que tem uma mensagem para o seu senhor, Dom Manuel Pedro Idalgo Oliveiras Tejo.

 

Neste instante o criado faz sinal para um outro criado que estava varrendo o terreiro e o ordenou que cuidasse do cavalo do oficial.
– Venha oficial.
– Vou leva-lo ao meu senhor.

 

Dizia o criado subindo as escadas do sobrado de cor branca e detalhes em azul anil. Ao adentrarem o grande salão da casa, D. Manuel já estavas a posto e sentado em uma grande poltrona que lhe dava uma pose de rei, e demonstrava tão importante era a sua pessoa.

 

– Que devo a graça da vossa presença oficial?

Exclamou o patriarca dos Oliveiras Tejo.

 

– Venho desde Lisboa com ordem do Regente para lhe comunicar em vossa morada que vossa alteza irá partir dentro de três dias rumo a colônia portuguesa nas América.
– Ora pois pois…

 

Monossílaba Oliveiras Tejo recebendo a carta do rei e a lendo com uma expressão de perplexidade. Para em seguida passar uma das mãos sobre o rosto e dizer.
– Fernão traga-me pena e tinta!

 

O criado prontamente se dirigiu ao gabinete e retornou com os utensílios.  Oliveiras Tejo redige um manuscrito e em seguida recebe das mãos do criado um carimbo com o brasão da família, o qual grava em cor vermelha na folha de papel de cor parda.  E diz.

– Diga a vossa majestade que iremos ao seu encontro no porto.

 

Oliveiras Tejo acompanhou o oficial ate o cavalo que o esperava no terreiro. E ao vê-lo partir continuou parado olhado as cercanias da propriedade, e com sentimento de perda começou a ordenar aos criados que começassem a arrumar as bagagens.

 

Na alvorada do dia seguinte três carroças estavam a postas em frente ao sobrado. Sobre elas, baús, caixas menores, relíquias da família. Além destas, duas carruagens serviram de transporte para a família e três criados. Antes da partida, Dom Manuel, se aproxima de um ancião que estava junto a escada principal de acesso a residência e o orienta.

– Cuide de minha preciosa Quinta quando da minha ausência. Confio-lhe o trato, assim como meu pai, meu avô, o confiou a teu pai e ao teu avô.

 

O homem com olhar sereno, segurou as mãos de Dom Manuel com firmeza, fazendo uma reverencia com a cabeça. Assim partia a família deixando suas posses, a bela quinta a beira do Tejo, na qual gerações foram criadas, e que de um dia para noite teriam que abandonar as pressas. Uma das mais tristes era a pequena Maria João, que soluçava ao tempo que ganhava o consolo do irmão Malaquias.

 

Aos 27 dias de outubro chegavam ao cais do porto em Lisboa, na foz do Tejo, e a cena que tinham era de completo caos.Oficiais da corte davam acesso ao tombadilho a somente, mais que somente os escolhidos do rei, a família recebe ordens para embarcar na nau Martins de Freitas. Enquanto aguardavam o vento dar-lhes força para sair da foz do Tejo, Dom Manuel Oliveiras Tejo caminhava pelo pequeno espaço que restara no convés do navio repleto de caixas e pessoas amontoadas, e olhava a Lisboa que parecia arranhada pelas garras de uma tragédia.

 

Pensamento mil lhe passavam a mente. Abandonara a sua terra, a suas poses, o seu banco. Por sorte levava as riquezas que pudera carregar, e o mais precioso bens sua famílias e seus pequenino, levava também a quituteira que acompanhara-lhe desde a infância e que certamente repassaria seus ensinamentos aos criados que ele teria que encontrar em terras que na sua visão lhe remetiam há um universo selvagem. Brasil.

 

Aos 29 dias daquele mês graças a ajuda do bom vento que chegava junto ao mar de Lisboa, as caravelas já podiam encontrar a esquadra inglesa de Graham Moore.

 

Com segurança iniciava-se a saga daquela viagem. Durante a passagem daquele ano tormentoso uma enfermidade cometera a vida de sua pequena filha, mas o bom Deus lhe guardaria um presente que iria descobrir meses seguintes. Aos primeiros dias de março do ano seguinte, estavam ao largo de uma baia cercada de montanhas de pedras, ainda abalados com a fuga, com a tristeza eram saldados por tiros de canhões que indicavam festividades pela presença daquela esquadra que antes aportara por um tempo da cidade da Bahia.

 

As naus navegavam suavemente rumo ao cais do Largo do Paço de São Sebastião do Rio de Janeiro onde podia-se ver sinais de festividades pela chegada da Família Real à aquelas terras.  De uma fuga apresada e tumultuada de terras lusitanas, passando por uma travessia atlântica com incertezas e até perdas, desde 1807, há uma chegada apoteótica já em 1808 nas terras do Rio de Janeiro.

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