A polêmica em torno da obra de modernização da histórica Igreja de Nossa Senhora das Neves, em Santa Teresa, continua a evoluir com novos capítulos. Após o DIÁRIO DO RIO noticiar, nesta última quinta-feira (20/06), que a igreja datada de 1860 estava passando por alterações estruturais internas sob a supervisão do Padre André Luiz Rodrigues, conhecido como “Padre Maravilha”, as repercussões foram imediatas entre os órgãos fiscalizadores, incluindo a Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.
A Comissão declarou que uma equipe técnica observou que a paróquia não seguiu as orientações previamente estabelecidas pela Arquidiocese. Em virtude disso, um relatório será encaminhado à Cúria Metropolitana para as devidas providências.
O Padre justificou que o altar centenário, descartado em caçambas de lixo na rua, estava infestado por cupins, assim como o teto da paróquia. No entanto, vale ressaltar que a Igreja de Nossa Senhora das Neves passou por uma cuidadosa revitalização em 2020, preservando todo o seu mobiliário original de mais de 160 anos, assim como o piso hidráulico, que foi refeito fiel ao original. Insatisfeito, o “Padre Maravilha” também removeu os pisos para substituição por porcelanato.
Na mesma quinta-feira, a igreja recebeu uma notificação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU-RJ). Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO RIO, o CAU-RJ confirmou ter realizado uma ação de fiscalização na Paróquia Nossa Senhora das Neves, constatando que a obra no altar estava em andamento sem a presença de um profissional habilitado. Uma intimação fiscal foi deixada exigindo a apresentação deste responsável técnico e a instalação de uma placa de obra.
O Conselho destacou que a atividade de restauro é exclusiva dos arquitetos e urbanistas, conforme entendimento consolidado pelo STJ. A presença desses profissionais é crucial para assegurar a conformidade da obra perante o CAU. No entanto, a regularização junto ao CAU não exime a necessidade de licenciamento perante outros órgãos fiscalizadores, especialmente os responsáveis pela tutela do patrimônio.
Leila Marques, Conselheira Federal do CAU/RJ destaca a obra como uma aberração: “Lamentavelmente, o exercício ilegal da profissão do arquiteto acaba nos apresentando uma ‘aberração’ como essa. O clérigo , além de ter contrariado o que se espera do responsável pela guarda dos dogmas e do próprio templo, profana a arquitetura e pratica uma mutilação irreversível imperdoável ao nosso patrimônio”
Procurados pelo DIÁRIO DO RIO, os órgãos municipais confirmaram que a Igreja de Nossa Senhora das Neves não era tombada individualmente, mas está compreendida dentro da Área de Proteção do Ambiente Cultural (APAC) de Santa Teresa, criada pela Lei Municipal N° 495, de 1984. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE) afirmou que irá embargar a obra nesta sexta-feira, realizada sem licença ou autorização prévia.
A Gerência de Fiscalização do Centro, da SMDUE, comunicou ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) sobre a situação, enviando uma equipe ao local para avaliar os danos causados pelas intervenções inadequadas e elaborar um relatório com as medidas necessárias para a preservação do patrimônio.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE) reforça que os canais da Prefeitura, como o Portal 1746, são fundamentais para viabilizar denúncias de irregularidades no município.
Desde ontem, a redação tentava contato com o Padre. Após a publicação da matéria, ele procurou o DIÁRIO DO RIO, mencionando que a Paróquia estava preparando uma nota de esclarecimento sobre o ocorrido. Em um esforço para amenizar a situação, o Padre tentou “vender” a descoberta de achados arqueológicos importantes durante a troca do piso. “Espero que isso possa dirimir as informações divulgadas até aqui.”, acrescentou.
Na tarde desta sexta-feira, a Paróquia emitiu um comunicado oficial à imprensa esclarecendo que as obras emergenciais seriam resultado direto da infestação descontrolada de cupins e do estufamento dos pisos. Segundo o comunicado, na semana passada, durante essas intervenções, teriam sido descobertos dois arcos que estavam ocultos por detrás das estruturas do altar, o qual não fazia parte do acervo original da igreja. A nota enfatiza que a avaliação de toda essa documentação já está sendo examinada pelos órgãos competentes civis e eclesiásticos, ressaltando que nunca foi a intenção da Paróquia transformar a igreja em um espaço moderno.
Confira a nota na íntegra:
“É do nosso interesse acatar toda liberdade de expressão e direito à informação. Lamentamos, no entanto, não termos sido ouvidos diante dos eventos que tomaram tanta projeção negativa. Por isso, cabe-nos dizer que as obras emergenciais na Paróquia Nossa Senhora das Neves devem-se exclusivamente à infestação descontrolada de cupim que nos surpreendeu e ao estufamento dos pisos instalados em 2021. Esse piso tinha sido instalado por ocasião de obras de recuperação da Igreja, que então se encontrava em uma situação de abandono.
Ao longo dessa desventura, mais precisamente na semana passada, em decorrência das obras emergenciais, surgiram dois arcos que se escondiam por detrás das estruturas do altar que já não fazia parte do acervo original da igreja.
Isto é atestado e verificado em documentos fotográficos que detalham o presbitério desde o início do séc. XX. Também se descobriu um objeto de valor arqueológico muito importante, tornando-se o testemunho mais antigo da igreja de Nossa Senhora das Neves, anterior a 1860, ressaltando como provavelmente era a topografia da Igreja e qual era a disposição original do presbitério.
Os indícios documentais são de alterações frequentes e constantes no que diz respeito a obras dentro e fora dessa nossa Igreja.
A avaliação de toda essa documentação já é objeto de atenção dos órgãos de competência civil e eclesiástica. Respaldamos que jamais foi e nem será nossa intenção a construção de uma igreja moderna.”
Esse padre agiu como um bandido, nunca vi isso antes , padres são pessoas dignas e honestas, mas esse daí passou dos limites, a obra era ilegal? Ele destruiu antiquidades, e quem vai pagar? Tem que processar esse meliante, talvez até a paróquia por omissão, é inacreditável que essas coisas aconteçam no século XXI, bandidos!!