Cercado por um belo e bem cuidado jardim, o Palácio do Catete, onde funciona o Museu da República é um oásis de tranquilidade e sociabilidade para moradores do bairro e adjacências. No local, que é habitado por patos, gansos, marrecos e peixes, é frequentado por mães com suas crianças, idosos, caminhantes ou apenas por pessoas que querem relaxar um pouco.
O espaço, bem tratado, destoa de muros e portões pichados, além dos gradis em estado de deterioração. A parte externa da edificação, que foi sede do Governo Federal entre 1897 e 1960, quando o Rio de Janeiro foi a capital da República, passa uma imagem de desleixo. A população de rua que dorme enfrente à instituição é outro plus na desordem que circunda área externa.
No final da década de 1990, em um movimento de revitalização e revalorização histórica, os muros do parque ao longo da Rua Silveira Martins e da Praia do Flamengo foram trocados por gradis semelhantes àqueles que circundavam as demais margens do palácio. A medida permitiu que o jardim tivesse mais visibilidade. Atualmente, trechos da estrutura estão quebrados. “O gradil sempre sofreu muito. Não há como proteger o entorno 24 horas por dia. É triste”, disse o historiador e professor Milton Teixeira ao jornal O DIA.
Milton Teixeira, que também é guia turístico, visita o Museu da República desde os anos 1970 e costuma levar grupos para conhecer o histórico local, onde o presidente Getúlio Vargas cometeu suicídio, em 1954. “É um centro de vivência local. Grupos da terceira idade marcam encontro no jardim. Havia seresta de tarde. Ele tem a vantagem de ser fechado, tem policiamento, pessoas que tomam conta. É importante pra comunidade”, comentou Teixeira.
O jornal O DIA entrou em contato com a direção do Museu para ter um posição sobre o estado de conservação parte externa da instituição. A administração relatou que não há registro de roubo do gradil e que guarda fragmentos recolhidos por sua equipe para futura restauração. “Pretendemos no próximo ano restaurar pelo menos mais dois portões e desenvolver o projeto executivo global de restauração de todo o complexo”, disse a entidade por meio de nota, acrescentando que em relação às pichações no palácio, firmou parcerias com a artista Panmela Castro e com o coletivo TTK para estabelecer ações pedagógicas reduzir a ação de pichadores.
Prédio marca mudança no Rio
O Palácio do Catete, segundo o professor Rafael Mattoso, também representou um marco na ocupação do Rio de Janeiro, pois antes de ser a sede da capital brasileira, pertencia ao fazendeiro e comerciante Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo. A sua construção representou uma transição da burguesia da Região Central para a Zona Sul da capital.
“Representa ainda um resquício daquela sociedade escravocrata que fez riqueza a partir da exploração do trabalho das pessoas escravizadas. O palacete do Barão de Nova Friburgo era um dos mais caros e célebres da cidade e marca a transição em direção à Zona Sul. Naquele momento as pessoas estavam querendo fugir daquele centro conurbado, escravista, muitas vezes retratado pelos artistas Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas na Região Central”, explicou o professor ao veículo, destacando como a abertura da Avenida Beira Mar acelerou esse processo: “A entrada principal é voltada para a Rua do Catete porque não havia ainda esse padrão de se voltar para o mar. Naquele prédio tem muita história para contar e com relação à preservação, é sempre difícil manter as características originais com a preservação de um prédio histórico tão significativo, tão grandioso e tombado, que traz as limitações [de intervenções]”.
Restauração do museu
De acordo com a direção do Museu da República, um processo de licitação já está em andamento para contratar um grande projeto de restauração de todo o complexo cultural, que foi tombado em 1938 e recebe acompanhamento e fiscalização do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Recentemente dois portões foram restaurados. O Museu tem buscado apoio variado para a restauração do Palácio, do Gradil e do Jardim Histórico. Recentemente foram realizadas obras de revisão da rede de esgoto”, informou a direção.
O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) está à frente do processo de licitação através do escritório Regional. No final do governo de Jair Bolsonaro (PL), o Instituto perdeu sua autonomia financeira, o que comprometeu a administração de tais instituições. O Ibram também está à frente da licitação de uso do cinema do Museu, fechado desde 2022. O Ibram é uma autarquia vinculada ao Ministério do Turismo, órgão responsável pela Política Nacional de Museus.
Informações: O DIA.