Tenho um livro do Rubem Braga com 200 crônicas. É inspirador. Foi um cronista de alto nível, com olhar afiado para ver poesia no cotidiano. Faleceu em 1990. Não considero escrever algo fácil. Tenho aqui o privilégio de ter essa coluna no Diário do Rio. Muitas vezes fico pensando sobre o que escreverei. Quais palavras valem a pena vir à tona? Que mensagem posso passar? Um texto pode mudar vidas, assim como um simples bom dia pode mudar jornadas.
Hoje lembrei de algumas cachoeiras do Rio de Janeiro. Da cidade mesmo. Muita gente nem sabe que existem. A maioria dos cariocas nunca nem foi ao Corcovado. Eu mesmo só fui uma vez e porque levei dois estrangeiros amigos que pagaram minha entrada gentilmente. Ao Pão de Açúcar fui algumas vezes. Na verdade fui mais ao Morro da Urca porque tem uma trilha no final da pista Cláudio Coutinho que leva até lá sem ter que pagar o bondinho. Sempre fui econômico. E adoro fazer trilhas. Um dos motivos pelos quais amo o Rio de Janeiro. Tem muitas!
Lá na Prainha tem o Mirante do Caeté e o Morro dos Cabritos, com suas vistas arrasadoras. Antes ainda tem a Pedra do Pontal que parece um elo unindo forças da natureza. Na Floresta da Tijuca, são várias quedinhas d’água. A mais famosa é a Cachoeira das Almas.
No Horto é onde temos um conjunto de cachoeiras cheias de energia. Sim, a água é fria. É bom demais. Pode ser uma boa pedida buscar esses locais depois dos turbilhões urbanos desse mundo louco onde irmão trai irmão por causa de dinheiro e outros materialismos. Após tais decepções que sempre trazem lições, o que me resta é caminhar descalço pela terra e chegar nas maravilhas que limpam. Pessoalmente, fecho os olhos e deixo tudo que não interessa ir embora nas águas do rio. Agradeço, agradeço e agradeço.
A Cachoeira do Chuveiro é um abraço no meio das pedras. Acima dela tem a do Jequitibá. Mais embaixo, a Cachoeira da Gruta é portal para a alegria. Embaixo das águas, logo me vem reflexões. Mais um dia de vida, mais uma oportunidade de conectar com os elementos do meio ambiente e fortalecer para os desafios que nunca cessam. E nem podem cessar. Enquanto há vida, tem de haver desafios. Eles que nos criam, formam cascas protetoras. Mas quando tem alguma rachadura, lá estará me esperando, de braços abertos, a natureza em forma de mãe, a mãe em forma de natureza, para me acalentar, pegar no colo, fazer um cafuné, batizar com fé e dizer: “Segue firme, meu filho. Estamos juntos”.