O Rio de Janeiro passa por momento ímpar no que diz respeito à valorização imobiliária, impulsionada por diversos fatores, como o aumento do poder aquisitivo da população e da oferta de crédito; o resgate de regiões antes dominadas pelo tráfico, realizada com as UPPs; e os investimentos dos governos federal, estadual e municipal em infraestrutura e mobilidade urbana (Arco Metropolitano, metrô até a Barra, BRTs etc).
Na Zona Sul, área nobre da capital, esse fenômeno se potencializa como resultado, também, da legislação sobre prédios tombados e Áreas de Proteção ao Ambiente Cultural (APACs). O caso do Rio de Janeiro, segundo especialistas, é atípico porque aqui a oferta de áreas nobres, diferentemente do que ocorre em São Paulo, se concentra em poucos bairros, tornando o metro quadrado de construção ainda mais valorizado.
Áreas urbanas adensadas populacionalmente sofrem com o tráfego intenso, a poluição sonora, o aumento de violência e outras mazelas comuns a bairros semelhantes. Por essa razão, qualquer referência à intenção de criação de um novo empreendimento, seja residencial ou comercial, causa grande apreensão entre os seus moradores do bairro e os do entorno.
Um dos bairros mais atingidos pelo temor de novos empreendimentos de médio porte, sejam eles residenciais ou comerciais, é a Gávea, área residencial que chama a atenção de turistas e moradores por seu potencial de entretenimento e lazer, reunindo um grande número de atrativos culturais, como museus, cinemas, teatros, shoppings e restaurantes, e que apresenta um dos mais altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado do Rio de Janeiro. Essas características fazem do bairro um dos mais valorizados da cidade, com preço médio por metro quadrado de imóvel para venda em torno de R$ 16 mil.
Moradores da região têm, agora, um novo motivo para preocupações. Trata-se do terreno de número 104 da Rua Marquês de São Vicente, abandonado há mais de 20 anos. Além do temor de que o local seja sede de mais um empreendimento de grande porte, inviável para um bairro que sofre as consequências do crescimento verticalizado, ele se transformou em problema de saúde pública, servindo como criadouro de mosquitos e ratos.
Não se sabem as razões pelas quais ainda não foi dada destinação ao terreno. O fato é que cidadãos que pagam altos impostos não aceitam mais um empreendimento residencial ou comercial numa região adensada, com fluxo intenso de veículos e sem alternativas viárias. Porém, também não devem ser obrigados a conviver com terrenos baldios disseminadores de doenças e esconderijo para praticantes de ilícitos.
Uma cidade como o Rio de Janeiro, cujo prefeito foi recém-empossado presidente do C-40, grupo de grandes cidades mundiais empenhadas em debater e combater a mudança climática, deve dar o exemplo no que diz respeito à sustentabilidade ambiental. Uma das formas de realizar transformações, que garantam mais qualidade de vida aos moradores, é através do incentivo à instalação, em áreas degradadas e abandonadas, de novos espaços verdes. Além de reduzirem o CO² na atmosfera e a temperatura, eles são espaços democráticos propícios às atividades de lazer, entretenimento e lúdicas para cidadãos de todas as idades.
A criação de um parque sustentável no referido terreno da Gávea poderá atender a todos esses objetivos. O primeiro passo para viabilizá-lo foi dado na semana passada com a aprovação, na Câmara, do Projeto de Lei 725/2014, de minha autoria, que cria o Parque e que foi à sanção do prefeito Eduardo Paes. Outros dois projetos para desapropriação e para tornar a área non aedificandi estão em tramitação no legislativo municipal.
Uma sugestão é que o projeto do parque seja escolhido a partir de concurso promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), com a participação de representantes de moradores e comerciantes da região e que seja um marco na comemoração dos 450 anos do Rio de Janeiro.