Na Rua Marmiari, em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio, o deteriorado imóvel do Parque Urbano Fazenda do Viegas, com sua fachada pichada e mal conservada, atrai olhares de curiosos que passam pelo trecho. Muitos imaginam se tratar apenas de mais um prédio abandonado na cidade, mas na verdade, o local esconde valores históricos e culturais inestimáveis para o Rio de Janeiro e para o Brasil.
Datada do século XVIII, a obra arquitetônica pertencente ao período colonial, é um dos marcos do início do processo de estruturação urbana na Zona Oeste. Ela fica localizada numa elevação isolada que tem, ao Sul, a Serra do Viegas, e ao Sudoeste, a Serra do Lameirão, que formam o Maciço da Pedra Branca.
Sede do antigo Engenho da Lapa, a Fazenda do Viegas foi fundada pelo colonizador Manuel de Souza Viegas, que deu nome ao morro, ao caminho, à estrada e, consequentemente, à fazenda no século XVIII. No ano de 1725, o espaço sofreu sua primeira alteração em relação a sua arquitetura original, com a construção da Capela de Nossa Senhora da Lapa.
A fazenda se destacava pela sua produção semanal de 22 caixas de açúcar de 50 kg e 1.000 litros de aguardente, números expressivos de produção para a época. Em 1777, o Engenho da Lapa foi considerado o segundo engenho açucareiro mais importante da região na então freguesia de Campo Grande.
O complexo produziu cana-de-açúcar por quase 80 anos. Naquele tempo, a Zona Oeste da cidade se caracterizava pela atividade canavieira e pela presença de grandes fazendas, entre as quais se destacavam, além da própria Fazenda do Viegas, a Fazenda Bangu (a maior da freguesia) e a Fazenda Piraquara. Já no século XIX, começou a se destacar na produção de café.
As instalações receberam D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II, que se hospedaram na casa quando viajavam de São Cristóvão pra Fazenda Imperial de Santa Cruz.
A realidade dos dias atuais é bem diferente do passado fervilhante. Impulsionada por lideranças locais e movimentos que lutam pela preservação da nossa memória e identidade, a Fazenda do Viegas chegou a ter uma cena de eventos culturais promissora nos últimos anos, que, inclusive, teve boa resposta dos moradores locais, mas o cenário atual é de descaso e pouca movimentação do Poder Público para reativar essa joia da história brasileira. A última reforma feita pelos órgãos competentes foi realizada no ano de 1999.
Aluno do curso de História da Uerj, Pedro Paulo Teixeira, de 19 anos, que integra um movimento em defesa da Fazenda do Viegas, conta que o local só “funciona” por conta da atuação solitária de um profissional da Subprefeitura da Grande Bangu.
“É um patrimônio histórico do Rio caindo aos pedaços, sem teto, sem piso, completamente pichado e frequentado, em sua maioria, por usuários de drogas, infelizmente. Muitos artefatos históricos foram roubados, como a Capela de Nossa Senhora da Lapa, que fica dentro da propriedade, ela foi completamente delapidada, não tem bancos, não tem portas, nem teto tem mais“.
O jovem também conta que durante a gestão do prefeito Marcelo Crivella, sequer apareciam equipes da Comlurb para recolher o lixo, que não para de acumular no local. O mesmo ocorre, até o momento, na administração do prefeito Eduardo Paes.
“O Parque precisa de tudo. Começar do zero. Não tem gari, não tem Guarda Municipal, não tem funcionário nenhum da prefeitura, não tem nada. Dentro do parque tem trilhas que estão fechadas, ou pelo mato ou pela queda de árvores. A casa, que é de 1725, é parte da história do Rio de Janeiro e está caindo aos pedaços, assim como uma senzala histórica e um cemitério de escravos que estão completamente abandonados“, lamenta.
O estudante relata que além do abandono, o Parque enfrenta muitos problemas em função da criminalidade local.
“Tem uma favela próxima ao local, de vez quando acontecem alguns tiroteios que parecem que são muito próximos ao parque e já aconteceu de facções rivais invadirem essa favela pelo parque.
O advogado João Luiz Pereira, de 32 anos, que coordena um projeto na área de educação comunitária, cultura e resgate histórico e ambiental na Zona Oeste, comenta sobre os esforços para a retomada de eventos no imóvel.
“Nossa ideia é mostrar, não apenas a importância histórica, ambiental e as utilizações que o parque pode ter, não só para Senador Camará, mas para o Rio de Janeiro inteiro, é mostrar toda utilidade que o parque pode ter para atividades de cunho cultural, que se comuniquem com todo o legado histórico e ambiental do imóvel”, e completa:
“Fizemos uma primeira reunião no último fim de semana pra delimitar um cronograma de ações para reabrir o parque. Queremos chamar a atenção das autoridades, da população e poder fazer isso de uma forma segura para todos. Estamos planejando promover um mutirão de limpeza e mostrar a importância que esse equipamento histórico tem para todos“.
O historiador Vitor Almeida, um estudioso dos subúrbios cariocas, lamenta o profundo estado de descaracterização que se encontra a Fazenda do Viegas: “O imóvel histórico da Fazenda do Viegas entra para o roteiro de patrimônios suburbanos cariocas jogados ao abandono. O Engenho da Lapa, dentro de sua propriedade, chegou a ser o segundo mais importante do sistema econômico açucareiro da freguesia de Campo Grande no século XVIII. Um local repleto de significados, que já recebeu imperadores, mas hoje não contempla a população local devidamente. Muito triste”.
O DIÁRIO DO RIO entrou contato com a Prefeitura, mas até a publicação desta matéria, não obteve retorno.
Acho engraçado alguns dizendo sobre boca de fumo e tudo mais, porém quando lá era subprefeitura de bangu também havia tráfico, sempre houve. Então é questão de querer. Só isso..
Imagino que não deve ser nada fácil, conseguir a restauração, conservação e assim manter esse lugar histórico, não por falta de dinheiro, mas sim, por causa perigo da criminalidade local que existe, segundo eu entendi pelos comentários anteriores. Interessante mas muito esquisito é o fato de que, ainda nos anos 90 era ponto cultural – vi em um dos comentários – onde alunos visitavam. Se foi nos anos 90, então esse patrimônio de 1725, viveu nada menos que 265 anos. Porque, então, de 1990 para cá, “somente” em 31 anos, ficou nesse estado? Eu sei, a pergunta é meio besta, mas creio que necessária, para pensarmos mais profundamente nisso. Além desses alunos que visitaram os prédios/local, deve ter muita gente que, com certeza, deve ter alguma lembrança por ter estado lá e sabendo do estado atual desse patrimônio, poderia despertar emoção e interesse em mante-lo com a dignidade merecida, visto fazer parte da historia de cada carioca, do Rio, do Brasil. Será que a Unesco não iria se interessar? Sei que quase impossível, mas falo sério. Infelizmente eu não conheço e talvez nunca vá conhecer, visto que não moro no Brasil, mas da dor no coração em ver um absurdo desses. Com certeza, tem muita gente interessada em manter esse patrimônio, mesmo sem saber como fazer. Talvez com uma campanha? De 50 alunos que visitaram e que hoje são adultos, deve ter um que se emocione pela manutenção. No Rio, tem muita gente rica e com certeza, alguns com simpatia e interessados em historia e que amam o Rio. Tudo isso, com certo apoio do governo….será que não daria certo? Ou vale a pena tentar organizar algo? Sei que estou sonhando alto, mas li o artigo – aliás a imprensa poderia dar apoio também!!! – e os comentários, os quais me parecem todos a favor da manutenção e por isso resolvi escrever. Cada um preserva o que tem e a própria historia faz parte. Seria triste nossos filhos, netos, bisnetos conhecerem a historia deles somente através de fotografias.
Triste saber d tudo isso ?
Triste saber d tudo isso ?
Que tristeza. As escolas municipais faziam visitas, há muito que fazer, desanimar nunca. Nossos pequenos precisam deste conhecimento, resignificar este espaço com música, teatro, dança, bordados, leituras…..Vamos a luta!!!!
Alô pessoal do Diario. Voces tem a materia da pergunta feita a segurança pública a respeito da Fazenda Viegas
O pessoal do diário tem a materia da resposta da pergunta feita ao pessoal da segurança pública a respeito da FAZENDA VIEGAS
Olá! Participei deste projeto, monitorando as visitas. Foi construído um viveiro tinham bastantes aves no local. História linda contada do povo para o povo. Que pena. Só tristezas!
Isso aí, falar que o governo não faz nada é mole, quero ver tirar o tráfico de lá, nem na cachoeira da pra ir que os caras tão lá pra te levar pro pneu
disse tudo! quem quererá ir a um lugar tomado pelo poder paralelo?
ESQUECERAM DE DIZER QUE É A 50 METROS DA BOCA DE FUMO DA FAVELA DO SAPO! VÃO LA VISITAR VÃO….
Isso aí, falar que o governo não faz nada é mole, quero ver tirar o tráfico de lá, nem na cachoeira da pra ir que os caras tão lá pra te levar pro pneu
Nos anos 90, o lugar contava com um projeto de visitação guiada. Levei meus alunos para conhecerem os prédios históricos e também o projeto de reflorestamento do maciço da Pedra Branca que estava em curso. Esse é o triste destino dos locais históricos na Zona Oeste, já tão carente de atenção por parte da Prefeitura!
INFELIZMENTE, NO NOSSO PAIS, O PASSADO NAO TEM VALOR, SO INTERESSA PROJETOS QUE DARAO LUCROS FANTASTICOS!
Ja no século XIX a sede foi residência do Barão de Campo Grande Francisco Gomes Campos magistrado e politico vereador ds Corte Imperial, casou-se com sua sobrinha Luisa Maria de Campos Suzano.Ela era herdeira do Engenho da Lapa por laços de parentela ,co herdeira da fazenda do Viegas.Descendente dos primeiros povoadores da cidade do Rio de janeiro por parte do capitão José Viegas de Azevedo.
Quem não conhece a sua história está condenado a ignorá-la e repeti-la…
A realidade é outra! Traficantes domina este território e dificilmente podemos visitalo.
Boa Tarde Ferreira. Voces possuem a materia a respeito da pergunta feita a segurança pública sobre a Fazenda Viegas?