Preços dos seguros de carros no Rio ficaram 92% mais caros

Capital fluminense é a segunda, entre as dez pesquisadas, onde o seguro auto teve aumento drástico; especialistas indicam que a alta pode ser atribuída a volta das atividades econômicas na cidade e ao crescimento da criminalidade

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Imagem ilustrativa - Foto: CC0 Domínio público

Motoristas do Rio de Janeiro podem estar sentindo um aperto no bolso com o preço dos seguros. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA-IBGE), as apólices ficaram 2,27% mais caras em agosto de 2022. No acumulado dos últimos 12 meses, a alta é de 43,63% na média nacional e a última variação negativa foi em junho do ano passado, quando o seguro caiu apenas 1,59%.

A capital fluminense é a segunda, entre as dez pesquisadas, onde o seguro auto ficou mais caro. A alta, por pouco, quase chegou a 100%. O aumento foi de 92,22% desde agosto do ano passado, perdendo apenas para Belo Horizonte que tem 121,36%. Desde janeiro, a alta no Rio foi de 54,54%, também a segunda maior registrada, atrás da capital mineira, 77,84%.

O aumento possui uma explicação: o “fim” da pandemia. Com a retomada das atividades econômicas os preços sofreram recomposições e de acordo com o IPCA, em 2020, com o início da pandemia e a redução na circulação dos veículos, o preço do seguro caiu, tendo apenas 7,91% em todo o país, apesar de subir 11,80% no Rio. Já no ano passado, o preço do seguro fechou em 9,06% em dezembro.

Marcelo Sebastião, presidente da comissão de seguro auto da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), disse, ao Extra, que além de fatores tradicionais, como o perfil do condutor e especificações do veículo, têm pesado também na definição do valor do contrato as dificuldades no abastecimento de peças, em função de fatores internacionais, como a pandemia e a Guerra na Ucrânia.

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“Tem faltado insumos para os fabricantes produzirem as peças de reposição. Essa situação causou aumento no preço das peças e falta de muitas delas, variação que é repassada para o preço do seguro”, afirma Sebastião ao jornal Extra.

Outro motivo que tem salgados os preços são os altos índices de criminalidade na cidade do Rio que impactam nas apólices. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP) de janeiro a julho deste ano, 4280 furtos e 7.686 roubos de veículos foram registrados na cidade do Rio, cerca de 9% a mais do que o registrado no mesmo período de 2021.

Ronaldo Vilela, diretor-executivo do Sindicato das Seguradoras do Rio (Sindseg RJ/ES), relata, ao Extra, que apesar da variação relativamente pequena, o, defende que pesa também a comparação com um ano em que a retomada das atividades econômicas ainda estava começando. “Com a pandemia, a circulação de veículos diminuiu e o índice de criminalidade também, o que fez o valor dos seguros cair. Com a retomada, os carros voltaram às ruas e os roubos também. Estamos comparando cenários diferentes”.

Vilela ainda diz que em 2021 ainda remanescia uma situação diferente do período pré-pandemia. “Atribuo esse aumento a cenários estatísticos diferentes que causam uma distorção. No ano que vem, a comparação já passa a ser mais robusta, porque haverá uma equivalência com 2022”, conclui.

Troca de seguradora

No atendimento aos consumidores, corretores têm observado os efeitos na alta dos preços. A principal mudança tem sido a de proprietários mudando de seguradora com mais frequência em busca de apólices mais em conta.

O corretor, Maurício Lins, explica, ao Extra, que o segurado não está mais procurando por nome, credibilidade, de uma seguradora, mas sim pelo um custo menor. “Temos casos de empresas cobrando mais do que o dobro do ano passado para um mesmo veículo. Não é interesse nenhum ter um custo mais alto, porque isso assusta o cliente. Já começo o atendimento justificando os preços que vou passar”, diz. 

Segundo Lins, quem está interessado em trocar de carro têm antes feito cotação de uma lista de modelos para só a partir daí decidir qual comprar. “Tenho clientes que me passaram uma lista de cinco, seis modelos similares para ver se conseguem pagar o seguro antes de fato comprar. Isso começou há uns três anos, mas tem se intensificado”.

Redução foi adiada

Presidente do Sindicato dos Corretores do Rio (Sincor-RJ), Henrique Brandão lembra ainda que a paralisação na produção de novos automóveis durante a pandemia fez com que modelos usados se valorizassem, elevando os custos para as seguradoras — despesas que agora estão sendo repassadas aos segurados.

“Até meados do ano passado, quando algo acontecia, o valor pago era muito maior do que o valor inicial na assinatura do seguro. No segundo semestre de 2021, a sinistralidade voltou a subir. As seguradoras estavam com valores defasados e começaram a ter prejuízo”, informa o presidente da Sincor-RJ e ainda falou que o consumidor mudou, está buscando mais alternativas, como calcular o valor do seguro em múltiplas seguradoras antes de fechar.

Brandão observa ainda que apesar de apresentarem preços mais baratos que as apólices tradicionais, os seguros flexíveis ainda são pouco procurados pelos consumidores. O modelo foi autorizado há um ano pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão federal que regulamenta o setor. Há contratos que cobrem, por exemplo, apenas roubo e furto ou apenas colisões. “O consumidor brasileiro é muito tradicional. O carro é um patrimônio, e o condutor está preocupado em mantê-lo. A procura por seguros mais flexiveis ainda é muito tímida. Quem procura é aquele segurado que tem mais condições financeiras de comprar um outro veículo”, diz ao Extra.

Outra medida que poderia ajudar a baratear o valor das apólices ainda este ano acabou adiada em junho com a troca no comando da Susep. A substituição de Solange Vieira por Alexandre Camilo — empresário oriundo da corretagem e aliado do Centrão — freou uma agenda de inovações que prometia uma revolução no setor, como a implementação do Open Insurance. O modelo, equivalente ao Open Finance do mercado financeiro, consiste no compartilhamento de dados de clientes para aumentar a concorrência entre as seguradoras.

Estimativas da Susep mostravam que a implementação da medida levaria a uma redução entre 30% e 50% no preço do seguro de automóveis, mas a chegada do modelo foi adiada do fim de 2022 para meados do ano que vem, o que levou analistas a preverem que o impacto no mercado só aconteça a partir de 2024.

Definição

A definição do preço da apólice de seguro auto leva em consideração diversos fatores, como a marca, modelo e ano do veículo, passando pelo perfil do condutor e região de circulação. Atualmente, segundo o setor, cinco fatores são os que mais pesam na variação do valor, para cima ou para baixo:

  • 1. Pandemia – A circulação de veículos caiu e a redução de risco levou à queda no preço do seguro. Com a volta à dinâmica anterior, a tendência é um retorno ao patamar de valores cobrados antes, segundo a FenSeg.
  • 2. Abastecimento de peças – Com a pandemia e a guerra na Ucrânia, insumos têm faltado para que fabricantes produzam peças de reposição, o que fez com que esses itens ficassem mais caros, impactando o valor das apólices.
  • 3. Criminalidade – O número de veículos roubados e furtados tem aumentado, segundo a FenSeg, com o objetivo do desmanche para revenda de peças, por canais irregulares. Por conta dos crimes, o endereço onde o segurado vive e trabalha pode encarecer ou baratear a apólice, dependendo dos índices aferidos pelos institutos de segurança pública.
  • 4. Índice de recuperação de veículos – Por se tornarem alvos dos desmanches para venda de peças, a recuperação de automóveis tem se revelado um desafio cada dia maior, segundo a entidade.
  • Outros fatores – Com o aumento da circulação de veículos, outros fatores passaram a ter destaque no quadro de sinistros registrados entre as seguradoras, como as colisões e atendimentos de assistência técnica, que voltaram a apresentar índices iguais ou superiores aos de 2019.

O Instituto de Segurança Pública (ISP) revela as dez regiões do Rio com maior número de roubos e furtos de veículos registrados entre janeiro e julho de 2022

35ª DP – Campo Grande, Cosmos, Inhoaíba, Santíssimo e Senador Vasconcelos: 888 casos

34ª DP – Bangu, Gericinó, Padre Miguel e Senador Camará: 764 casos

29ª DP – Cavalcanti, Engenheiro Leal, Madureira, Turiaçu, Vaz Lobo, Oswaldo Cruz (parte), Cascadura e Quintino Bocaiúva: 652 casos

27ª DP – Colégio (parte), Irajá, Vicente de Carvalho, Vila Kosmos, Vila da Penha e Vista Alegre: 625 casos

21ª DP – Benfica, Bonsucesso, Higienópolis, Manguinhos, Maré e Ramos: 613

33ª DP – Campo dos Afonsos, Deodoro, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Realengo e Vila Militar: 613 casos

39ª DP – Acari, Barros Filho, Costa Barros, Parque Colúmbia e Pavuna: 489 casos

38ª DP – Brás de Pina (parte), Cordovil, Jardim América, Parada de Lucas,Penha Circular (parte) e Vigário Geral: 482 casos

40ª DP – Coelho Neto, Colégio (parte), Honório Gurgel e Rocha Miranda: 451

44ª DP – Del Castilho, Engenho da Rainha, Inhaúma, Maria da Graça e Tomás Coelho: 399 casos

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4 COMENTÁRIOS

  1. Pudera! Dirigir no Rio tornou-se um risco potencial. Será que ninguém percebeu que a Prefeitura de Eduardo Paes, o político indesejável, tornou inoperante toda a sinalização de tráfego da cidade?
    Este descaso incompetente submete os motoristas a atravessar cruzamentos no susto. Quantas colisões provocou?
    Votar em político responsável é também uma forma de abater prêmio de seguro.

  2. Eu entendo que o aumento da criminalidade aumente o preço dos seguros, concordo. O preço das peças e dos carros ter subido para mim não pode ser motivo: o cliente segura um valor-teto, não a peça ou o veículo em si. Então, o valor segurado sempre é o mesmo que foi contratado inicialmente. Se o cliente vai lá e aumenta o valor segurado, isso impacta o valor do seguro apenas na renovação. O que me faz perguntar: fora o aumento do seguro por questão de maior risco de assalto/furto, as apólices aumentaram para dar a mesma cobertura em valor ou aumentaram porque o valor segurado vem aumentando junto?

    No fim, o que eu quero dizer: o valor inflacionado que os carros agora têm certamente foi repassado ao custo das apólices. Isto é parte da explicação dos seguros ter aumentado. Isso não tem jeito. Outra parcela do aumento é a criminalidade – que é a parte vergonhosa e deveria ser combatida.

  3. Quanto menos seguro é ter carro, mais caro o seguro do carro. Eu dispenso. Salvo casos de real necessidade, ter um carro no RJ é um “investimento” burro. Até que ponto o ganho de autonomia e status supera o elevado custo/risco?

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