A gente continua naquela vibe de visitar os mais tradicionais restaurantes de Copacabana, como vocês viram na nossa ida recente ao restaurante O Caranguejo. Desta vez, a dúvida pairava entre dois ícones da minha infância: o Príncipe de Mônaco e O Peixe Vivo. Será que continuam tão gostosos como na minha memória afetiva?
Moeda pro alto, deu cara. É dia de revisitar o tradicional restaurante fundado em 1955, bem na esquina da Rua Miguel Lemos com a Rua Aires Saldanha. É dia de Príncipe de Mônaco. Chegando lá, o restaurante é uma pequena cidade-estado mesmo: o bicho é grande! Um toldo novinho na cor marrom cobre a calçada, com mesas e cadeiras lotadas, e um público bem familiar.
Mas, meu negócio é mesmo sentar dentro, pra pegar o feeling real do local. No acesso à lojona, um grande balcão de salgados com cara apetitosa, e também peixes e crustáceos – incluindo lagostas enormes – prontos para serem escolhidos e ir parar no prato dos comensais. Lá dentro, com ar condicionado – ainda que desligado, possivelmente devido à pandemia – são também muitas e muitas mesas. A decoração, típica dos tradicionais restaurantes do Centro, São Cristóvão e Copacabana, não impressiona mas também não causa má impressão. Mas é Copacabana, e todo mundo está mesmo é tomando chopp e petiscando nas mesas do lado de fora. Sentamos dentro, junto com mais umas 20 pessoas. Verdade, você já aprendeu que nosso almoço é sempre tarde, e passam das 16:00.
Toalha de mesa plástica com o simpático logotipo do restaurante – uma lagosta alegre que lembra o Sebastião do desenho da Pequena Sereia. Mesa de madeira, cadeira confortável.
Rapidamente um garçom vem nos atender. Pedimos Coca-cola zero (R$ 7,00), Chopp Brahma Claro (R$ 8,00), e entramos de cabeça no extenso cardápio. Depois de ver aqueles salgados lindos no balcão logo na entrada – tática tão deliciosa quanto maldosa – é claro que caímos dentro das sortidas opções. Pra meter o pé na jaca, pedimos bolinhos de bacalhau (R$ 7,00 cada), Risoles de Camarão (R$ 5,00 cada), empadinhas de camarão (R$ 5,00 cada) e a famosa casquinha de siri (R$ 25,00).
Primeiro chegaram as empadinhas, já fora da forminha, mas fervendo a ponto de sair fumaça. Fomos avisados. Perfeitas. Ao dar a primeira mordida deu pra sentir o recheio bem quente, com tempero aguçado e uma massa muito fina. A massa fina, ao menos pra mim, é requisito mínimo pra este tipo de salgado ser palatável. Aquela empada grosseira, imensa, embatumada e fria tipo a do Belmonte me dá arrepios. Dentro da empadinha do Príncipe de Mônaco a tradicional azeitona preta com caroço era um toque absolutamente especial. Ao mesmo tempo que o recheio vem com bastante camarão, ele é caudaloso, com tempero forte e proporcional, e junto com a massa fininha da empada, faz um conjunto nota 10. Com a pimenta forte da casa – que vem num copinho descartável de café – é de comer de joelhos.
Logo depois vieram os bolinhos de bacalhau. Em formato “salgado de boteco” (não são redondos), e fritos na mesma hora, tinham a temperatura perfeita. Um dia conto sobre minha especialização em bolinhos de bacalhau – conheço todos de todos os lugares – mas a questão é que este surpreende mesmo. A casquinha da fritura, fina e quebradiça, complementa o interior de bacalhau e batata feito na razão absolutamente acertada, de forma a que o bacalhau é sentido fibra por fibra, formando aquela espécie de fio quando a gente morde. O azeite da casa – Mondegão – traz aquele complemento mais que apropriado, junto com meu vício – a pimentinha.
Em seguida vieram os risoles de camarão. E que risoles: eram enormes. E disso decorre o primeiro defeito da refeição de hoje. Apesar da massa estar deliciosa – fina, temperada, e com a casquinha quebradiça – o recheio generoso estava quase frio, mas não gelado. Apesar de ser possível notar que o recheio é delicioso, bem refogado, e com sabor forte e gostoso de camarão, pimentão, tomate e alho – e não de mar, como ocorre muitas vezes – não foi possível curtir o risole como ele merecia, devido à temperatura. Afinal, quem é apaixonado por fritura e salgados como a gente, aprende que a textura, o tempero e a temperatura (os três Ts!) se complementam e são igualmente relevantes. Uma pena, na trave!
Sempre bem servidos pelos garçons – o Chopp sempre gelado, e as latinhas de coca cola sempre chegando à mesa suadas e geladas como tem que ser – chegou a hora da casquinha de siri. Essa veio muito bonita e generosa. Num prato de sobremesa, o cheiro do siri quentinho misturado ao do queijo gratinado por cima, davam água na boca. A casquinha vem acompanhada de farofa de dendê, numa quantidade generosa, dentro da casca do siri. Servida sem pedacinhos de casca de siri – o pesadelo das casquinhas – e na temperatura correta, com tempero eficiente e uma cor alaranjada muito atrativa, o aperitivo conquistou a gente.
Um dia explico como me irrita restaurante que serve a latinha de coca-cola em temperatura ambiente, achando que colocar gelo no copo resolve o problema. Mas como todas as bebidas no Príncipe de Mônaco vêm super geladas, como todo carioca adora, vou deixar pra outra ocasião.
Apesar de vermos (virtualmente) todo mundo comendo lindos pratos de frutos do mar grelhados, dignos da capa dos melhores manuais gastronômicos, decidimos dar trabalho pro cozinheiro. Nossa pedida foi a Moqueca de Lagosta (foto de capa da matéria), vendida a R$ 269,00.
A moqueca de lagosta chegou rápido, ainda borbulhando, no refratário de cerâmica. Acompanhada de farofa de dendê, arroz (parboilizado) e pirão de peixe.
A farofa de dendê estava quentinha, crocante e saborosa. Muito bem temperada. O arroz deve ter ficado muito tempo em banho maria e estava um pouco grudado, mas estava quente. Confesso que não sou mesmo fã de arroz parboilizado embora saiba que facilita a vida do pessoal da cozinha destes restaurantes tradicionais. O pirão de peixe estava na temperatura correta, muito bem temperado, mas para enfeitá-lo colocaram salsinha demais, e com um pouco de talo junto, o que pra mim acaba dando um gosto meio esquisito quando mordo o talo.
A moqueca em si tinha como ponto alto a lagosta. Branquinha, tenra e brilhante, foi bem marinada e o ponto estava perfeito. Ninguém agüenta lagosta dura fora de ponto. Deixaram de aparar a parte mais escura da carne da lagosta (que tem um pouco mais de gosto de mar), mas definitivamente estava muito boa. Com relação ao refogado, molho e ao tempero da moqueca, não estava especialmente notável. O cheiro não tomava conta do espaço, e sentimos falta de pimentão, e de mais tomate e cebola. Um prato regular pra bom. Se os acompanhamentos alimentavam 3, a moqueca em si era pra 2 mesmo.
Ficamos com inveja branca do pessoal que pediu os grelhados que passavam por nossa mesa tão cheirosos. A tal “sinfonia de frutos do mar” (R$ 489,00) é um dos pratos mais bonitos que já vi passar por mim, e pelo menos no visual e no cheiro maravilhoso, parecia rivalizar com a do Satyricon.
Como sempre, tinha espaço pra sobremesas. Eu sou daqueles que acha que temos um estômago separado só pra comer o doce depois das refeições salgadas.
O garçom trouxe a bandeja de doces, pra escolhermos. Na bandeja, estavam lindos todos os doces. Sou fã de carteirinha dos doces conventuais. Nossa escolha foram o Pastel de Nata (ou Belém, R$ 12,00), o Pastel de Santa Clara (outro que conheço como ninguém, posso escrever livro sobre eles, R$ 12,00) e um Quindim (R$ 12,00).
O Pastel de Nata, servido frio, estava crocante, e com o recheio honesto. Um exemplar regular do doce português que conquistou até o pessoal adepto do fast-food.
O Quindim, em formato de pudim, com furinho no meio, era outro a estar honesto, gostosinho. Côco ralado seco na base – prefiro côco fresco – e massa amarelinha-clara e brilhante mas nem tanto e sem ser muito doce. Gosto dos que brilham muito, e que são de um amarelo forte e bastante doces. Ok, vai ver sou ultrapassado. Regular.
O Pastel de Santa Clara…é um caso à parte. Apesar da massa estar fininha e crocante como deve ser – e do tamanho avantajado – não há outra qualificação possível: é absolutamente horroroso. Seu recheio, em vez de ter sabor de ovos moles do Aveiro com um pouco de nozes ou amêndoas, simplesmente tinha gosto de mingau, ou recheio de sonho de padaria ruim. O “mingau” amarelo claro é de tal sorte horrível, que sequer consegui comer mais que uma garfada. Não dá pra acertar em tudo, mas é preciso errar tanto assim?
O ambiente é agradável e ventilado, o atendimento é bom, os salgados são sensacionais – o Risole foi, com certeza, um mero erro de percurso – e o prato principal estava bom, quase regular. Mas a boa qualidade do restaurante – exceto as sobremesas – é inegável, até pelos pratos lindos, grelhados, que passavam por nossa mesa a todo tempo.
Na verdade esses pratos grelhados eram tão bonitos que vai ver é a inveja falando, quem sabe? Vale retornar pra provar a tal Sinfonia de Frutos do Mar, e cair dentro dos deliciosos salgados. Bolinho de Bacalhau ou Empadinha de camarão melhores, isso vai ser difícil!
Assim o peso da balança só vai para cima hein! Vou fazer uma parada quando estiver em Copa no pós praia… Mas vocês não fiquem visitando só os tradicionais de Copa não, poxa! Deem uma volta para os bairros vizinhos também. Que venham mais artigos (!!!)
Realmente, o bolinho de bacalhau é o melhor petisco. Geralmente, eu comprava nos finais de semana como uma medida de fugir um pouco do fogão.
Só que acabei não indo mais, pelo avanço das mesas e cadeiras que ocuparam todo o calçamento, sem falar na monstruosidade dos toldos. Os pedestres são obrigados a caminhar pela rua ou passar com cuidado entre os garçons. Os garçons não se preocupam com os pedestres, é você que tem que se desviar deles. Moradores e Associação de Moradores tentaram reverter a situação para que houvesse mesas na lateral da parede. Mas o dono do Príncipe de Mônaco é amigo do amigo do Rei. Se a Cidade do Rio de Janeiro tivesse um Prefeito ou os vereadores sérios, inclusive, alguns Edis comem lá, esse tipo de abuso nas Posturas Municipais não acontecia.