A legislatura atual da Câmara de Vereadores do Rio, que se prepara para uma nova composição a ser decidida na eleição de outubro, foi surpreendentemente boa e um tanto sui generis. Começando por dois pontos negativos, vereadores presos e cassados por motivos de violência grave, Gabriel Monteiro, que está preso por estupro, e Dr. Jairinho, preso por infanticídio. Nunca antes na história dessa cidade se viu um caso destes.
Já Célio Luparelli, suplente que se tornou vereador, faleceu por causa não divulgada em maio de 2024. Outros seis deixaram a Câmara para outros cargos: Thiago K. Ribeiro se tornou conselheiro do Tribunal de Contas do Município, Lindbergh Farias (PT), Tarcísio Motta (PSOL), Reimont (PT), Chico Alencar (PSOL), Laura Carneiro (PSD) e Luciano Vieira. Ou seja, de 51 vereadores, 8 que se elegeram em 2020 não são vereadores em 2024, quase um quinto.
Nestes últimos anos a Câmara debateu temas importantes para o futuro da cidade como o Plano Diretor, o Reviver Centro e a cidade pós-pandemia do Covid-19. Com uma ampla base de apoio, o prefeito Eduardo Paes (PSD) teve poucos opositores fortes, e pela esquerda perdeu grandes nomes como Tarcísio e Chico, que facilmente fariam parte desta lista. Outro que faria, Paulo Pinheiro 50111 (PSol) que é sempre um grande defensor do tema da Saúde, nesta legislatura ficou um pouco mais apagado, talvez a boa gestão do secretário de Saúde Daniel Soranz (PSD) tenha evitado que sua estrela brilhasse mais.
Outra vereadora que se destacou muito no início do mandato foi Tainá de Paul 13777 a (PT), herdeira política da deputada federal Benedita da Silva (PT), assumiu a cadeira de secretária do Meio Ambiente da Cidade do Rio. Isso a tirou da frente de batalha dos principais temas da Câmara, em especial o Plano Diretor, onde sua formação como urbanista teria feito sua estrela brilhar.
Bom vereador também é Rogério Amorim 22777 (PL), mas seu tempo como secretário estadual, o perfil do partido e o espaço dado a ele, acabou evitando um destaque maior em seu primeiro mandato. Mas se reeleito tem potencial para ser um dos destaques de 2025-2029.
Vamos aos 5 melhores vereadores do Rio de Janeiro nesta legislatura que vai chegando ao seu fim:
Carlo Caiado (PSD) – 55622
Historicamente, Carlo Caiado 55622 (PSD) e sua equipe sempre foram de muito trabalho, com perfil conciliador e sorriso fácil, mantendo amizade com boa parte dos colegas. Em 2018, se elegeu deputado estadual, mas uma mudança de entendimento no TSE fez com que perdesse sua cadeira e voltasse ao Palácio Pedro Ernesto, onde foi reeleito vereador em 2020.
O destino quis que ele se tornasse, em 2021, presidente da Câmara e fosse reeleito, tornando-se um dos políticos mais poderosos do Rio de Janeiro. Ele acabou elegendo, em 2022, seu irmão, Claudio Caiado (PSD), para o cargo que perdeu na Alerj. Mas isso não é suficiente para ser um bom vereador, nem para estar entre os melhores.
Caiado modernizou a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, desde a comunicação, que após duas décadas chegou ao século XXI, até a criação de um Colégio de Líderes, aumento da transparência e, finalmente, a mudança de sede.
Centenário, o Pedro Ernesto e seu anexo já não comportavam mais o atual número de vereadores, assessores e o público. Seus poucos e pequenos elevadores eram uma temeridade. Em busca de uma nova casa, acabou escolhendo o vizinho Edifício Serrador, um prédio moderno que tinha passado por uma ampla reforma quando tinha como locatário Eike Batista. O edifício foi comprado pela CMRJ por um preço abaixo do mercado após uma negociação dura por parte dos representantes da Câmara.
Como presidente da Câmara, Caiado foi quase unanimidade, a ponto de vereadores da direita à esquerda terem uma vez gritado seu nome para ser o candidato a vice-prefeito de Eduardo Paes.
Rafael Aloísio Freitas 55123 (PSD)
Carlo Caiado não teria sido um bom presidente se não tivesse na mesa diretora Rafael Aloísio Freitas 55123 (PSD), que serviu como seu braço direito durante esta legislatura. Filho do ex-presidente da Câmara, Aloísio Freitas, Rafael está em seu terceiro mandato como vereador, e foi neste que teve mais destaque.
Aloísio evoluiu de um vereador local para defensor de grandes causas da cidade. Como presidente da Comissão do Plano Diretor, foi essencial para sua aprovação, conciliando as posições da esquerda, centro e direita, mesmo contra interesses do Executivo. Além disso, foi membro de comissões importantes, como “Finanças, Orçamento e Fiscalização Financeira”.
Neste mandato, ele foi um defensor incansável dos setores mais afetados pela pandemia de COVID-19, como bares, restaurantes e eventos, enfrentando críticas de setores mais retrógrados. Apesar disso, continuou apoiando toda a cadeia produtiva desses setores.
Talvez o que mais marcará seu legado de 2021-2025 seja a luta pelo Parque Piedade, no terreno da antiga Universidade Gama Filho, em Pilares. Rafael foi quem mais lutou para que Eduardo Paes requalificasse o terreno, que estava abandonado há anos, revitalizando a região.
Pedro Duarte 30300 (Novo)
É difícil encontrar um político que mantenha suas convicções depois de eleito, especialmente pela primeira vez. Mais difícil ainda é encontrar um que seja oposição, mas vote com o governo nas pautas que defende. Esse é o caso do vereador júnior Pedro Duarte 30300 (Novo), uma pedra no sapato da gestão Eduardo Paes quando se trata de fiscalização, mas um aliado em pautas de modernização econômica, diminuição de burocracia e revitalização do Centro. É de destacar que durante todo este mandato conseguiu ser presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática e integrante da Comissão do Plano Diretor.
Duarte não é oposição pela oposição, talvez por isso tenha ganhado tanto espaço na mídia e pontuado relativamente bem quando se lançou pré-candidato a prefeito do Rio. Enquanto PL e PSOL muitas vezes votam juntos apenas para desagradar o governo, ele era voz dissonante de quem quer ver o circo pegar fogo.
Inicialmente um tanto atrapalhado, Duarte amadureceu rapidamente, tornando-se uma presença constante em eventos de empreendedorismo, liberalismo e outros temas. Sua insistência na transparência da Prefeitura do Rio incomodou muita gente,ainda bem, eles não podem ficar acomodados.
Dr. Marcos Paulo 13555 (PT)
Eleito pelo PSOL, o vereador Dr. Marcos Paulo 13555 é mais conhecido por sua defesa da causa animal, mas isso não o colocaria entre os melhores vereadores da cidade. O que o coloca entre os melhores é o belíssimo trabalho que nenhum integrante da esquerda carioca fez, ou mesmo se lembrou: a luta contra a fome, que já foi uma das principais causas dos partidos ditos progressistas.
Como presidente da Frente Parlamentar contra a Fome e a Miséria da Câmara do Rio, em parceria com o Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (INJC/UFRJ), trouxe um documento de 74 páginas, intitulado “I Inquérito sobre a Insegurança Alimentar no Município do Rio de Janeiro 2024”, mostrando que 7,9% das casas na capital fluminense são afetadas pela fome, o que significa que 489 mil pessoas têm fome. Os dados mostram ainda que cerca de 2 milhões de habitantes da cidade convivem com algum grau de insegurança alimentar (leve, moderada ou grave). Além disso, o estudo revela que 15% dos lares cariocas não tiveram fornecimento regular de água ou sofreram com a falta de água potável.
Enquanto parte da esquerda do Rio de Janeiro perde tempo com temas que não são municipais, como aborto, descriminalização das drogas e questões de gênero, o vereador Dr. Marcos Paulo foi a fundo em um tema que não pode ser esquecido. Afinal, quando se tem fome na cidade, qualquer outra questão se torna menos importante.
William Siri 50222 (PSOL)
A voz do jovem periférico, assim podemos descrever o mandato do vereador júnior William Siri 50222 (PSOL). O vereador mais jovem da Câmara do Rio é economista, de Campo Grande e evangélico, o que vai contra o que imaginamos de um político do PSOL, normalmente formado em Ciências Humanas, como História, Direito e outros.
Defender uma região e ser de oposição não é uma tarefa fácil, especialmente quando se trata do Sertão Carioca, hoje dominado pela milícia, da qual seu partido é um dos principais antagonistas. Ainda assim, conseguiu andar pelos corredores do Palácio e marcar sua presença, chegando a ser presidente da Comissão de Trabalho e Emprego, também integrando as comissões de Meio Ambiente, além de Ciência e Tecnologia.
Junto com a preocupação com a Zona Oeste, está a do meio ambiente. Isso se vê nos relatórios preparados e que estão em seu site:
- A experiência com os transportes na zona oeste
- Educação: um olhar sobre as escolas da zona oeste
- As condições de esporte e lazer na zona oeste
- Dossiê ciclovias da zona oeste
- As condições dos rios da zona oeste
- Os lixões na zona oeste
- Um olhar sobre a diversidade cultural da zona oeste e seus desafios
- As condições de saúde na zona oeste