Quinze meses depois, girafas trazidas da África do Sul para o BioParque do Rio seguem confinadas em resort de Mangaratiba

Durante esse um ano e três meses, surgiram muitas polêmicas envolvendo a importação e o confinamento desses animais e três girafas morreram em uma tentativa de fuga

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Imagem enviada pelo BioParque das girafas em Mangaratiba

Em novembro de 2021, 18 girafas foram trazidas da África do Sul para o Brasil. Desde então, elas estão no Portobello Resort & Safari, em Mangaratiba. De acordo com o que foi informado há um ano e três meses, os animais ficariam no local para passar por uma adaptação para então serem transferidas para o BioParque da cidade do Rio de Janeiro. Nesse tempo, em dezembro de 2021, três dessas girafas morreram em uma tentativa de fuga, polêmicas surgiram e até o momento da publicação desta matéria não se sabe quando os animais irão para o novo zoológico do Rio.

As polêmicas começaram já com a chegada dos animais ao Brasil. O processo de importação foi autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama, todavia, o laudo inicial, feito por técnicos em janeiro de 2022, diz que os espaços que abrigam as girafas no Portobello Resort & Safari, em Mangaratiba, estariam fora dos padrões mínimos de conforto.

Não havia local adequado para colocar os animais, então um galpão foi adaptado para isso. Fica evidente que seriam vendidas. O Grupo Cataratas escondeu que três girafas haviam morrido, porque tentaram fugir e foram laçadas por boiadeiros, isso está no relatório da Polícia Federal. Detalhe: introduziram animais do exterior em área rural”, afirma o professor e defensor dos animais Marcio Augelli, bastante atuante no caso dessas girafas.

Há outra questão no processo da chegada das girafas ao Brasil que também gerou mobilização entre biólogos e pessoas preocupadas com o bem-estar animal. O relatório inicial trazia a letra W (de wild, selvagem em inglês) ao se referir aos animais. Isso quer dizer que foram capturados na natureza. O artigo 18 de uma portaria do Ibama impede que animais retirados da vida selvagem sejam comercializados.

Esse relatório foi questionado e o documento encaminhado ao Ministério Público. Fiscais do Ibama autuaram o BioParque, que pertence ao Grupo Cataratas, por maus tratos. A Polícia Federal fez uma operação no Resort. Dois funcionários foram detidos e soltos no mesmo dia.

Roberto Cabral, um dos fiscais do Ibama e autor do laudo que acusa o Grupo Cataratas de maus tratos, foi afastado do cargo por alguns meses e só depois realocado às suas antigas funções. Ele afirmou à reportagem que prefere não falar sobre. O Ibama, procurado pelo DIÁRIO DO RIO para comentar os relatórios e a atual situação das girafas, não respondeu.

Esse debatido relatório foi refeito, terminando favorável a todo o processo de importação das girafas vindas da África do Sul. À época, o Ibama informou que, após notificação, os recintos foram adequados conforme a legislação e que o Instituto segue acompanhando a adaptação dos animais, por meio de vistorias frequentes. Biólogos e equipes de reportagem já tentaram visitar o local para ver as girafas, mas não conseguiram.

“Sempre mostram apenas três girafas. Cadê o resto? Se estão tão bem por que não deixaram que entrássemos para verificar isso?”, questiona Marcio Augelli.

O que diz o BioParque/Grupo Cataratas

“O BioParque do Rio reitera o seu compromisso intransigente com o bem-estar dos animais e não poupará esforços para esclarecer os fatos objeto do relatório da Polícia Federal. Todo o processo de importação seguiu rigorosamente as normas brasileiras e Sul-africanas.

A empresa informa que as girafas permanecem no Portobello Safari, estão bem e evoluindo positivamente a cada dia com o manejo, que inclui o condicionamento e enriquecimento ambiental e recintos dentro das normas ambientais.

Caso foi parar na Justiça

Em janeiro de 2022, um dia após a operação da Polícia Federal, a juíza Neusa Regina Larsen de Alvarega Leite, da 7ª Vara de Fazenda Pública do Rio, concedeu liminar para remoção das girafas do Resort Portobello Resort & Safari, em Mangaratiba, no prazo máximo de 48 horas, com multa diária de R$ 5 mil para o BioParque em caso de descumprimento. No entanto, o caso foi transferido para a Justiça de Mangaratiba, que se negou a aceitá-lo. Com isso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ficou de decidir quem será o responsável pelo assunto e o caso segue em aberto.

Procurada pela reportagem para comentar novidades e desdobramentos na investigação sobre o caso das girafas, a Polícia Federal respondeu que era preciso entrar em contato com a regional responsável, a do Rio de Janeiro. O DIÁRIO DO RIO fez o contato, mas não teve resposta até a publicação desta matéria.

O Resort Portobello Resort & Safari também foi procurado pela reportagem, porém, não respondeu.

Quinze meses após essa chegada ao Rio de Janeiro, a preocupação de biólogos e pessoas atuantes no bem-estar animal só aumenta. O professor Marcio Augelli alerta que ao observar uma das últimas fotos divulgadas dos animais que estão em Mangaratiba, ele notou lesões nas articulações das patas, o que pode caracterizar uma doença que afeta, sobretudo, girafas que vivem em cativeiro.

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Detalhe para as lesões

“Pode haver fêmeas prenhas, hoje são animais adultos, de vida selvagem. Podem ter morrido mais. Nem sabemos quantos estão vivos. Não sabemos quase nada sobre a situação desses animais. Por que eles não deixam defensores dos animais verificarem a situação das girafas? Por que só órgãos que estão sob suspeita dizem que estão fazendo essa verificação? Eu tentei muitas vezes ir lá em Mangaratiba e não consegui entrar”, afirma o defensor dos animais.

Procurado pela reportagem, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que “esclarece que os animais passaram por um processo de adequação ao ambiente, o que foi acompanhado pelo órgão. Atualmente, as girafas estão em áreas compatíveis com os padrões da legislação para zoológicos, construídas pelo Portobello. O Resort Portobello tem a licença para atuar como zoológico e tem área de safari com exposição de animais. O Inea reitera que as girafas apresentam bem-estar e comportamento natural”.

Na nota enviada à reportagem, o Grupo Cataratas ainda informou que “o desenvolvimento dos animais é acompanhado pelos órgãos competentes, respeitando os procedimentos e os protocolos de segurança, sempre primando pelo bem-estar das girafas. Ainda não há definição sobre a transferência dos animais para o BioParque do Rio”.


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2 COMENTÁRIOS

  1. Estava doida pra conhecer o novo zoológico do Rio, agora com o nome de Bio Parque. Mas me decepcionei. Está bonito pra grindo ver, mas uitos animais magros, locais sujos e com matos altos nas ” jaulas”, tudo caro.
    Não gostei nada do que vi. Uma pena.
    Meus cachorros estão mais bem tratados, do que os animais de lá.
    O ministério público tem que entrar de ” sola”, pra poder resolver essa situações das girafas. Tiraram as do ambiente natural para aa matarem aqui?
    Quantas mais precisaram morrer, pra que se tomem providencias?

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