A pandemia de Covid-19 gerou a necessidade de dezenas de milhares de professores precisarem, muito rapidamente, se adaptarem ao ensino remoto. Ainda que as aulas presenciais já tenham, em sua maioria, sido restabelecidas, não se pode negar que o fenômeno, em alguma medida, trouxe e ainda suscita um conjunto de reflexões sobre a melhor forma de financiar os profissionais que integram a educação a estarem preparados para essa realidade.
Nesse contexto, um caminho possível foi a política adotada no Governo do Estado do Rio de Janeiro por meio da chamada “Cota de Compensação para Despesas Tecnológicas”. Na prática, tratou-se de indenização, paga em dezembro, no montante de R$ 3.000,00 destinada a profissionais da educação da rede estadual para aquisição de tablets, laptops ou computadores de mesa, sendo solicitada depois a entrega de uma comprovação por nota fiscal ou recibo digital da compra feita.
Mas esta não é a única fórmula adotada no país diante do desafio de viabilizar tecnologicamente os professores. Alguns entes federativos também têm apostado em outra estratégia: a distribuição direta de equipamentos tecnológicos, especialmente laptops. O próprio município do Rio de Janeiro já tem um histórico nesse sentido com uma política criada no início dos anos 2000.
Neste caso, uma vantagem é a possibilidade da distribuição do equipamento em caráter de comodato, garantindo ao servidor não a propriedade, mas o direito à posse do computador, condicionando-a à devolução no final de cada ano letivo para a escola na qual leciona. Uma desvantagem, contudo, é a centralização administrativa, exigindo licitações milionárias e toda a burocracia envolvida nesse processo.
Há, ainda, outros aspectos que deverão ser também analisados em termos tecnológicos. Da mesma forma que se indeniza o trabalhador no auxílio-transporte, um debate apropriado pode ser a necessidade de ajudar a custear, por exemplo, a internet fixa de alta velocidade na residência do professor, ou colaborar com a compra de apropriados equipamentos de captação de imagem e áudio (webcams e microfones), essenciais para tornarem as aulas mais atrativas.
Nesse contexto, surge, então, a questão se, após a vacinação em massa e quase dois anos de pandemia, ainda devemos nos preocupar com a estruturação do ensino remoto nas escolas. Sobre isso, é preciso fazer algumas considerações.
A primeira é que, como mostra a recente variante Ômicron, não se pode descartar a possibilidade de, por motivo de força maior, ser preciso voltar um dia ao modelo de ensino à distância. É melhor estar preparado. Além disso, não se pode também negar as oportunidades e potencialidades de, no futuro, aproveitarmos nosso corpo docente para alguns tipos de aulas complementares ou de reforço em EAD, ainda que fora da grade escolar oficial e obrigatória.
No pano de fundo de toda essa discussão, está a adaptação do modelo de educação vigente às novas tecnologias e como, no ensino público, se desenharão os estímulos e o financiamento do corpo docente e discente a essa inevitável realidade. Nesse contexto, uma esperança é que, por meio de métricas, possamos, futuramente, verificar se haverá diferença de resultados e qual política, após implementada, obteve melhor custo-benefício no país.
Passada a pandemia, e sem menosprezar o relevantíssimo papel do ensino presencial, é fato que a tecnologia continuará crescendo cada vez mais na educação – e que, um dia, todo aluno ao se matricular em uma escola receberá, no mínimo, um tablet para complementar os estudos de casa. Para chegar lá, precisaremos aprender melhor como municiar nossos professores. E essa é a discussão do dia.