O Hotel Glória, prestes a completar 100 anos, é parte inderrogável da história do Rio de Janeiro. Ao longo de todo este tempo, a edificação viveu momentos de apogeu e decadência, mas os tempos para o vetusto Glória mudaram e ele voltará brevemente ao lugar de suntuosidade que lhe pertence. Resultado de sua venda pelo fundo Mubadala – que acabou se tornando dono por conta de dívidas do Grupo X junto aos árabes – ao sempre pioneiro Fundo Imobiliário do Banco Opportunity, noticiada primeiro aqui no DIÁRIO, o ex-hotel terá o seu lançamento como condomínio residencial realizado em novembro próximo. Promete mudar a cara da Glória, que já recebeu investimentos bilionários da Rede D’Or quando da compra da Beneficência Portuguesa.
Os seus 266 apartamentos serão vendidos por aproximadamente R$ 700 milhões – Valor Geral de Vendas (VGV), pelo fundo imobiliário do banco Opportunity, que comprou o edifício em 2020, e pela SIG Engenharia, responsável pela incorporação e pelo retrofit de R$ 250 milhões, que recolocará o Hotel Glória no lugar que tanto merece, ressignificando a propriedade originalmente inaugurada por ocasião do centenário da nossa independência.
O apartamento mais em conta do Glória deve ser vendido por aproximadamente R$ 1,2 milhão, já que o preço médio do m² do empreendimento está avaliado em R$ 17 mil, segundo afirmou o gestor do Opportunity Imobiliário, Jomar Monnerat, ao jornal O Globo.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou o projeto de intervenções e acabou compreendendo que era preciso devolver, de alguma forma, este equipamento monumental à cidade e à contemplação de todos, mas garantindo-lhe a possibilidade de ter viabilidade econômica.
Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO RIO no final de junho, o superintendente do Iphan-RJ, Olav Schrader, exclamou que podem haver preconceitos contra o investimento imobiliário em um patrimônio histórico.
“Na minha opinião, todo vestígio de preconceito precisa ser vencido, pois é redirecionando investimentos que conseguiremos melhor atender o bem comum em áreas degradadas. Uma inclusão social sustentável se dá através do crescimento econômico e da geração de oportunidades, com destaque para as camadas menos favorecidas e menos escolarizadas da população”, completou Schrader. O DIÁRIO publicou matéria sobre o quase inédito processo de viabilização econômica do Hotel Glória. “O Hotel Gloria é um case clássico de investimento privado virtuoso, que já vem como resultado de um diálogo do Iphan com as entidades. E que tem uma série de contrapartidas de resgate de todo um belíssimo entorno histórico que a administração pública seria incapaz de fazer sozinha a contento, vide o esvaziamento de décadas da área. Se conseguirmos juntos superar entraves, redirecionar racionalmente investimentos que sejam respeitosos com a nossa história, eu acredito que poderemos criar um esteio de regeneração da nossa cidade”, avaliou Olav Schrader na ocasião.
Os apartamentos do luxuoso hotel que hospedou artistas e chefes de estado terão metragens que variam entre 70 e 314 m², sendo que as maiores unidades serão poucas, com espaço “garden”. O condomínio não terá coberturas, uma vez que o topo da edificação será usada como rooftop com bar e piscina – que devem ter uma linda vista da baía. No térreo, funcionarão quatro lojas.
“Já temos conversas com uma academia e um restaurante. Há também espaço para loja de conveniência”, disse Jomar Monnerat ao jornal.
O residencial, que ficará pronto em 2026, teve como idealizadores os escritórios cariocas Cité Arquitetura e Afonso Kuenerz Arquitetura. O projeto de interiores ficou sob responsabilidade de Patrícia Anastassiadis, e o paisagismo à cargo do escritório Burle Marx.
Para o corretor de imóveis Cláudio André de Castro, diretor da Sergio Castro Imóveis e responsável pelo planejamento de venda de diversos icônicos imóveis do Rio, como o Teatro Riachuelo, o Hotel Santa Teresa e o Largo do Boticário, ”a cidade se volta cada vez mais para seu passado glorioso, em busca da ressignificação de diversas áreas que vinham, até alguns anos atrás, sendo preteridas em prol de lugares longínquos e seus palacetes de vidro verde, alucobond e alumínio tubular. Moderno é aproveitar a infraestrutura que já existe, ecológico é parar de desmatar e começar a reciclar; cômodo é morar perto do trabalho e de todos os modais de transporte”, diz. E completa: ”empreendimentos como este e o Moinho Fluminense vão vender ou alugar como água.”
Com o lançamento do residencial Hotel Glória, o fundo do Opportunity atingirá a cifra de R$ 1 bilhão em lançamentos somente em 2022.
Louco não é quem pede, louco é quem dá.