Algumas construções antigas do Rio de Janeiro estão ganhando atenção e novas oportunidades para brilhar outra vez. Como o antigo Mercado Municipal, localizado em Niterói e desativado desde 1976, que será reinaugurado em maio de 2023. O empreendimento pretende se transformar em um polo de gastronomia, cultura e lazer para moradores e visitantes da cidade na Região Metropolitana. É a tendência do retrofit, trazida à tona pela valorização, pelo grande pública, de antigas estruturas e imóveis com arquitetura que simboliza antigos estilos arquitetônicos.
Os detalhes do antigo prédio foram conservados e seu estilo com traços art déco e de arquitetura neoclássica do ano de 1927 permaneceram na entrada da cidade para resguardar e valorizar a história do local. A obra é uma PPP (Parceria Público Privada) firmada entre a prefeitura e o consórcio Novo Mercado Municipal, vencedor da licitação, que participará da gestão do espaço por 25 anos.O investimento foi de R$ 69 milhões em três anos, sendo R$ 30 milhões em reforma.
Essa preservação vem sendo muito usada e, na engenharia, ganhou um nome especial: retrofit. É o trabalho de conservar o clássico e uni-lo com o que há de mais moderno no mercado imobiliário. Essa modalidade conquistou muitos adeptos no Rio de Janeiro e esses lançamentos atingem um VGV (Valor Geral de Vendas) acima dos R$ 30 milhões. Corretores consideram que o público em geral tem valorizado cada vez mais o charme do passado.
Explicações sobre o Retrofit
O retrofit pode ser utilizado quando a proposta é recuperar um imóvel para que ele volte ao uso original — como o Mercado Municipal de Niterói— ou para transformações, com desdobramentos e construção de anexos.
O Rio de Janeiro está sendo pioneiro neste tipo de preservação. Na cidade há antigos casarões, galpões e até palacetes que estão sendo transformados em modernos centros comerciais, escolas e residenciais de luxo. Recentemente, dois sobrados belíssimos foram vendidos, na Rua do Ouvidor, e devem ser transformados em um pequeno centro comercial.
E a Zona Sul da cidade é a região que mais têm atraído empreendimento desse tipo, até pela quantidade pequena de terrenos onde é possível edificar um prédio totalmente novo. Como o Raro Palacete Art Déco, localizado na Rua Visconde de Ouro Preto, em Botafogo, que terá sua icônica construção reformada e devolvida aos olhos do carioca em 2025. O empreendimento é Brix Fundo de Investimento Imobiliário, que tem o Opportunity como um dos sócios, é um residencial de luxo com 22 unidades com um, dois e três quartos, entre casas e apartamentos.
O projeto pretender manter a palmeira imperial, além do piso e a sala principal. Na garagem, haverá um carro semelhante aos usados na época da construção. A expectativa é alcançar um VGV de R$ 30 milhões.
Brix, já prevendo o crescimento do retrofit no Rio de Janeiro, criou uma marca exclusiva para cuidar do segmento na zona sul carioca, o selo “B.8”. Outro local, histórico, que está no portfólio da marca é o Puro Casas Inteligentes, no Jardim Botânico. O empreendimento foi projetado em um imóvel colonial. São 12 unidades, de um ou dois pavimentos, cobertura e área externa própria. As chaves serão entregues até o fim deste ano.
“O Rio de Janeiro tem muitos imóveis históricos depreciados, a gente percebeu que resgatá-los era mais que uma oportunidade de incorporação, seria uma oportunidade de devolver à cidade a sua história patrimonial, uma vez que buscamos valorizar a arquitetura original”, diz Luiza Treiger, diretora comercial do Brix, ao Folha de S.Paulo. E ela ainda diz que é previsto o lançamento do selo B.8 em outros bairros da zona sul, e até a entrada em novos segmentos, como o comercial, estão em estudo.
Escola Eleva
Outro casarão em Botafogo também receberá uma mudança. Esse, na rua General Severiano, tem o estilo neoclássico do século 19, com mais de 12 mil m² de área, ganhou, há cerca de cinco anos, um projeto de retrofit. O imóvel, que foi construído em 1866 para acolher órfãos e menores abandonados da cidade, teve o layout modificado para receber as instalações da Escola Eleva.
O antigo Educandário Santa Tereza foi idealizado pelo arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, responsável por outras obras importantes da cidade do Rio, entre elas o Centro Cultural do Banco do Brasil. Com o novo projeto, assinado pelo escritório do arquiteto Miguel Pinto Guimarães e executado pela Retrofit Engenharia, o local passou a contar com 27 salas de aula, enfermarias, salas de música e artes, laboratórios e, no pátio central, uma quadra de esportes com arquibancada e cobertura retrátil.
Incentivos
Na Cidade Maravilhosa, de acordo com a secretaria municipal de Planejamento Urbano, a prefeitura incentiva e trata o reaproveitamento de prédios ociosos como prioridade. Em 2021 foram enviadas à Câmara dos Vereadores, e aprovadas, duas legislações com esse intuito: o Plano Urbano Reviver Centro e a Lei Complementar 232.
O Reviver Centro, conhecidíssimo pelos leitores do DIÁRIO DO RIO, pretende promover a recuperação social, econômica e urbana do Centro do Rio e buscar soluções para reverter o esvaziamento da região trazida pela crise econômica e agravada pela pandemia. O objetivo principal é a construção de novas moradias e a reconversão de antigos prédios como carro-chefe. A nova legislação transformou o Centro num dos locais mais cobiçados pelas construtoras e empreendedores.
Desde a aprovação, em julho de 2021, até janeiro deste ano, o Reviver soma 35 pedidos de licenças, sendo 23 emitidas e 12 em análise. Dessas 23 já emitidas, 18 são para transformação de uso —ou seja, retrofit.
Na Região da Cruz vermelha, o vetusto Hotel Aymoré, com quase 2.000m2, e ocupando um prédio lindamente decorado com meia fachada em pedras de cantaria, foi vendido ao grupo canadense Walkerville, que fará apartamentos residenciais estilosos. O prédio foi construído pela família Seabra, no início do século XX.
Já a Lei Complementar estabelece condições especiais de incentivo para reconversão de imóveis protegidos e de edificações existentes, regularmente construídas e licenciadas, tanto por meio da transformação de uso quanto pelo desdobramento em unidades independentes. A realização de empreendimentos no Centro passará a gerar contrapartidas para as construtoras, na zona mais valorizada da cidade.
Matéria foi produzida a partir de dados do jornal Folha de S.Paulo.