Há um vídeo muito interessante no YouTube, que mostra o Rio de Janeiro em 1936, chamando de “Cidade do Esplendor”, que mostra como era a capital do Brasil, no início do século passado. Este filme faz parte de uma série de documentários de viagem “The Voice of the Globe”, foi produzida por James A. Fitz Patrick entre as décadas de 1930 e 1950.
Os filmes eram produzidos para mostrar ao público americano lugares e culturas distantes em uma época em que viajar internacionalmente era raro e caro. Eram filmes curtos e distribuídos pela Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) e exibidos nos cinemas antes dos filmes principais. Muito interessante, por mostrar arquitetura e hábitos da cidade de quase um século atrás, e filmada em Technicolor, a primeira tecnologia para filmes coloridos. Vale muito à pena visitar essas imagens que podem ser acessadas aqui.
O filme revela uma cidade exuberante, com ampla arborização e ruas espaçosas, onde veículos ainda eram escassos e a arquitetura clássica predominava. O Rio de Janeiro de 1936, então capital federal, ostentava o legado de sua posição como centro político e cultural do país, herança de seu passado imperial. Embora não fosse uma metrópole industrial, a cidade se destacava como um importante entreposto comercial e porto internacional, evidenciado pela abundância de estabelecimentos elegantes que exibiam produtos importados em suas vitrines.
A cidade era o grande centro cosmopolita da América do Sul, rivalizando com Buenos Aires, porém com a vantagem das belezas naturais com sua paisagem única, com montanhas e praias, que encantava visitantes como Le Corbusier, que a descreveu como uma “mão espalmada à beira-mar”. As duas cidades, Rio e Buenos Aires, passavam por um processo de modernização e crescimento significativo nesse período, como metrópoles latino-americanas. Ambas as cidades enfrentavam desafios semelhantes em termos de desenvolvimento urbano, integração de imigrantes e busca por uma identidade moderna. Interessante observar a descrição do narrador, de que o Rio era descrito como um “refúgio de tolerância para todas as raças”, sugerindo uma sociedade mais diversa e inclusiva.
Cabe uma reflexão, em que momentos da história, as trajetórias destas duas grandes cidades se distanciam do ponto de vista civilizatório. Em uma primeira análise a resposta poderia estar na mudança da capital para Brasília, na década de 60. Ou talvez no crescimento desordenado e informal da cidade com a tolerância de aglomerados subnormais onde o Estado foi omisso e favorecendo a desigualdade social. Para alguns estudiosos, o problema carioca está na instabilidade política e econômica com lideranças voltas para o enriquecimento dos grupos privados e práticas de corrupção, clientelismo e milicias que se instalam junto ao poder. São muitas explicações que em conjunto podem justificar a perda de qualidade e do esplendor do Rio.
A pergunta que fica é: Há salvação para essa “terra abençoada por Deus e bonita por natureza”? Ou estamos fadados a ser uma cidade decadente que perdeu a corrida para grande metrópole sul-americana e com um povoamento sem qualificação e densidade cultural e com uma desigualdade social de guetos?
Sim, há caminhos, mas exigem rigor social. Não é possível o jeitinho e da malandragem. As posturas municipais precisam ser cumpridas, considerando a gestão do solo, disciplina dos espaços públicos. Da mesma forma o território precisa ser ocupado integralmente pelo poder público com serviços e controle dos cidadãos. Não é só questão de mutirão de fiscalização e da imposição da ordem, mas principalmente de um plano estratégico para retomar o esplendor da cidade, pela educação das pessoas.
É possível sim, implantar um projeto para retomar o brilho e qualidade humana na cidade ao longo da próxima década. Mas isso só acontecerá com integridade das lideranças. Ou é assim, ou é ladeira abaixo.
Governos populistas que permitiram o crescimento das favelas em vez de criar políticas habitacionais nos subúrbios muito ajudaram a criar o caos que hoje vivemos. Carlos Lacerda tentou remover favelas criando conjuntos habitacionais e até hoje é demonizado por isso. Tivessem dado continuidade a esse programa e o Rio de Janeiro seria uma cidade muito melhor para se viver, tanto para os ricos como principalmente para os mais pobres. Só quem tem uma visão muito mesquinha não vê isso, fazendo que o morador de favela tenha orgulho de morar em um lugar totalmente insalubre e violento. Quem faz isso ganha muito dinheiro às custas dessa população. Temos que mudar isso.
O Rio só precisa se separar do Bostil.