Dados recentes da pesquisa Game Brasil 2023 apontam que 70% dos brasileiros afirmam ter o hábito de se divertir com jogos eletrônicos. Um crescimento exponencial quando comparado com os últimos anos: 2020 (57,1%), 2021 (68%), 2022 (76,5%). Um traço que já se confunde com a história cultural, sobretudo das grandes metrópoles. E o Rio de Janeiro desponta como protagonista no cenário com ações de pioneirismo e destaque no debate nacional do tema.
“Somos 3% da população mundial, 1,5% do mercado global de jogos mas somente 0,2% do mercado produtor. O que precisamos para mudar esse panorama é uma ação incisiva do estado, como fazem todos os países do G20. Neste sentido, é notável os avanços que a capital fluminense tem desempenhado”, diz Márcio Filho, presidente da Associação de Desenvolvedores de Jogos do estado do RJ (RING).
Em contrapartida ao panorama mundial, o mercado brasileiro de jogos digitais experimenta um período de expansão. O Brasil movimenta cerca de 13 bilhões de reais e fatura 1,2 bilhão de reais por ano, destacando-se como uma oportunidade para se tornar um dos líderes nesse setor. De acordo com a consultoria Newzoo (2023), o Brasil é o décimo maior mercado de games do mundo, com mais de 100 milhões de jogadores. Além disso, é o principal mercado da América Latina e o segundo maior mercado do Sul Global, atrás apenas da China. Atentas a esse cenário promissor e à potencialidade desse mercado, as grandes metrópoles buscam promover ações, eventos e iniciativas para abranger e estimular as novas tendências.
Um exemplo de grande investimento é a Arena Gamer – primeira arena pública do Brasil e uma das três primeiras do mundo -, localizada na Nave do Conhecimento do Engenhão, Zona Norte da cidade, inaugurada recentemente por iniciativa da Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia em parceria com a Coordenadoria de Games e e-Sports da Secretaria da Casa Civil. Segundo o prefeito Eduardo Paes, a Arena está inserida “em um conjunto de ações para consolidar a cidade do Rio como a capital da inovação e da tecnologia na América Latina”. Direcionada para o público jovem, a Secretaria Especial da Juventude Carioca tem investido intensamente em cursos livres gratuitos, incluindo design de games, impressão 3D, robótica, IoT e indústria 4.0.
“Vivemos um novo momento da relação entre o poder público com a indústria dos games e esportes na indústria criativa da cidade. A Prefeitura do Rio tem uma área dedicada a pensar políticas públicas e apoiar um setor tão importante da nossa sociedade. O Rio de Janeiro é o segundo maior polo do Brasil em criação de jogos, e queremos contribuir para o crescimento dos esportes eletrônicos. Já começamos a atrair grandes eventos e, dessa forma, vamos gerar receita, atrair turistas e levar o soft power da cidade para o mundo. O Pan-Americano de Esportes Eletrônicos vai ser realizado no Rio, em junho. E outras competições que serão anunciadas nos próximos meses”, ressaltou Chandy Teixeira, coordenador de Games e e-Sports da Prefeitura do Rio.
A realização de eventos – nacionais e internacionais – ajudam a jogar luz e atenção sobre o mercado consumidor e os produtores locais, garantindo crescimento do setor acima da média da economia, conforme explica Márcio Filho: “O município do Rio de Janeiro concentra cerca de 80% dos estúdios de jogos do estado, totalizando mais de 70 estúdios e movimentando mais de R$ 100 milhões por ano. O crescimento do setor no RJ foi de quase 70% de 2022 para 2023 e com a sequência das novas iniciativas, a expectativa é continuar crescendo a dois dígitos na próxima década”, ressalta Márcio.
Entre os eventos que marcam essa atração inovadora à Cidade Maravilhosa, podemos citar o “Carnaval do Amor”, do Pokemon Go, realizado nos dias 13, 14 e 15 de fevereiro, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, com programação exclusiva para o público brasileiro. Seguindo essa tendência, nos dias 24 e 25 de fevereiro, o Shopping Metropolitano da Barra recebe o “Pokémon Tour”, outro evento da franquia de monstrinhos de bolso, desta vez parte de uma agenda internacional do jogo em sua versão para aparelhos móveis.
Atrelado a estas oportunidades, os investimentos feitos pela RioFilme, que lançou editais com linhas específicas para o setor de jogos, com um aporte de R$ 1,4 milhão, visam transformar a cidade em um polo de inovação. Além disso, o apoio a eventos como o Web Summit e o Rio2C também é estratégico para atrair, além de investimentos, atividades de qualidade para o público, impulsionando um setor em alto crescimento no país.
Para o professor do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense e coordenador do UFF Medialab, Esteban Clua, esse conjunto de ações colabora para a projeção no mercado internacional e o estímulo a um mercado inovador: “Este é um movimento de suma importância para a economia e para a sociedade. Ao criar oportunidades competitivas em relação ao mercado internacional, favorecemos a retenção de uma mão de obra especializada e valiosa. Além disso, o mercado de jogos lida com tecnologias de ponta. Sendo assim, ao criar polos e políticas que incentivem a formação e a retenção de profissionais com este gabarito, estamos ao mesmo tempo incentivando e fomentando a criação de empregos e oportunidades em áreas afins, tais como realidade virtual, inteligência artificial, simulação e várias outras relacionadas à indústria criativa. A indústria criativa tem uma característica importante, que é o valor da inovação e da criatividade. Dentro deste universo, editais e recursos advindos de agências de fomento são vitais.”