Rio de Janeiro tem mais de 2.400 monumentos alvos de vandalismo

Monumentos têm sido depredados em nome de pequenos ganhos, muitas vezes para o consumo de drogas por parte de moradores de rua, instrumentalizados pelos ferros velhos

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Foto Cleomir Tavares/Diário do Rio

O DIÁRIO DO RIO vem denunciado há anos a dilapidação do patrimônio histórico da cidade do Rio de Janeiro. Muitas foram as reportagens denunciando o ataque inclemente à memória nacional.

Monumentos e mais monumentos têm sido depredados em nome de pequenos ganhos, muitas vezes para o consumo de drogas por parte de moradores de rua.

A cadeia que alimenta a degradação passa por ferros-velhos que compram parte da história nacional por uma ninharia, transformando-os em material que alimenta a indústria de transformação e de bens de consumo. Uma reportagem do Diário do Rio, publicada em fevereiro deste ano, mostrou um ferro-velho em pleno funcionamento em um imóvel do Governo do Estado, na Rua da Constituição, número 25, praticamente em frente à sede da Subprefeitura do Centro Histórico. Na unidade, que foi invadida há anos, funcionava um ferro-velho irregular, que recebia todo tipo de material, sendo que na parte superior do imóvel funcionava um cortiço. Na época, moradores da região disseram ao Diário, que haveria traficantes atuando no prédio. Eles disseram ainda que o consumo de drogas era uma atividade frequente entre os moradores de rua que iam vender materiais diversos para reciclagem, inclusive peças de monumentos, fios, bueiros, entre outros itens.

Uma matéria veiculada pelo SBT, nesta segunda-feira (5), mostrou a gigantesca dimensão da tragédia que atinge o patrimônio histórico nacional. Segundo o veículo, são mais de 2.400 monumentos, alvos de vandalismo na cidade. Um dos exemplos mencionados é a estátua de bronze do jurista Teixeira de Freitas, autor do código civil na época do Brasil Império, que teve a placa de identificação arrancada do granito.

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Na Praça XV, um gradil de 20 toneladas, construído com os ganhões derretidos da Guerra do Paraguai foi inteiramente roubado, de acordo com a reportagem. A peça estava no local quando D. Pedro I proclamou o “Dia do Fico”. Aliás, conforme noticiou o Diário do Rio, em 3/12, a estátua equestre de D. Pedro I, totalmente revitalizada para as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil, também foi alvo de ataques, em plena Praça Tiradentes, no Centro do Rio. O monumento teve oito estrelas de ferro, que estavam instaladas na parte superior de um gradil, furtadas. Cinco pedaços do gradeamento, em forma de seta e instalados na parte inferior do monumento, também foram arrancados pelos ladrões. A peça terá que ser restaurada de novo.

As agressões à arte monumental do Rio de Janeiro custam muito caro. Por isso, muitos monumentos não são revitalizados com rapidez ou são deixados de lado. Se colocarmos na ponta do lápis quanto a Prefeitura do Rio já gastou com o restauro dos óculos da estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, na Praia de Copacabana, a soma será astronômica. O mais recente ataque aconteceu, em abril deste, também noticiado pelo Diário do Rio. Na época, agentes da Guarda Municipal do Rio entregaram imagens das câmeras do Centro de Operações Rio (COR) à Polícia Civil, para a investigação do caso. Vale lembrar que estátua de Carlos Drummond de Andrade foi inspirada em uma foto de Rogério Reis e esculpida por Leo Santana, em homenagem ao centenário do poeta, ocorrido em 2002.

Segundo o levantamento da ONG SOS Patrimônio, 90% dos monumentos da cidade estão destruídos ou parcialmente danificados. Para José Marconi de Andrade, representante da instituição: “Os monumentos sofrem. Nós acabamos perdendo as nossas referências históricas. É importante deixarmos esse legado para as gerações futuras,” disse ao jornal.

Há um elemento indispensável a alimentar a rotina de ataques aos monumentos do Rio de Janeiro: a impunidade. É ela quem justifica o ataque à estátua do Marechal Deodoro da Fonseca, cuja representação da sua mãe – Dona Rosa Maria – foi roubada, restando apenas pedaços de concreto no trono. A peça, que pesava 400 quilos, foi totalmente removida para ser revendida no mercado ilegal.

Se a restauração custa caro aos cofres públicos, a compra dos metais pelos ferros-velhos sai por uma ninharia, segundo José Marconi de Andrade: “Um quilo de bronze está na faixa de R$ 60,00, podendo sofrer variações”, dependendo das regiões onde são vendidos.  “Como os receptadores sabem que é roubado, eles jogam o preço lá embaixo,” ressaltou Marconi ao SBT.

De acordo com o veículo, um levantamento do Disk Denúncia verificou que, entre janeiro e junho de 2022, foram denunciados 236 casos de ferros-velhos receptadores de sucatas, mais que o dobro do igual período de 2021.

Como podemos ver o combate ao desmanche do nosso patrimônio histórico passa por varias frentes de atuação. Temos pela frente uma batalha hercúlea que esbarra em questões complexas, que demandam soluções articuladas por várias instituições públicas. De um coisa sabemos todos, não podemos parar de denunciar os ataques à nossa riqueza histórica e cultural.

As informações são do SBT e DIÁRIO DO RIO.

Atualização7/12/2022

A Secretaria Municipal de Conservação encaminhou a seguinte nota, que publicamos, na íntegra.

A Secretaria Municipal de Conservação – Seconserva esclarece que, sob a sua responsabilidade, há 1.238 monumentos e 139 chafarizes em toda a cidade do Rio de Janeiro. A Seconserva informa que as ações de restauro e recuperação de monumentos e de locais como a Quinta da Boa Vista, executadas em 2022 para celebrar o Bicentenário da Independência, são a maior concentração de conservação histórica da cidade do Rio de Janeiro.

Em 2021, a estátua de Noel Rosa, em Vila Isabel, foi devolvida à paisagem carioca totalmente restaurada, e foram religados os chafarizes do Largo do Machado; da Praça General Tibúrcio, na Urca; da Praça Saens Peña, na Tijuca; da Praça Edmundo Bittencourt, no Bairro Peixoto, e Dança das Águas, em frente à sede da Prefeitura do Rio, na Cidade Nova.

Em 2022, as ações relacionadas ao Bicentenário da Independência incluíram a revitalização da Quinta da Boa Vista, com ações de conservação em todo o parque, bem como a confecção de um mosaico comemorativo em pedras portuguesas aos pés da estátua de D. Pedro II, perto da Alameda das Sapucaias. Foram entregues, novos em folha, o jardim-terraço que fica diante do Museu Nacional, os quatro portões da Quinta, os monumentos (estátua de D. Pedro II; Templo de Apolo; Gruta e Cascata; Pagode Chinês; Dólmens de Meditação; esculturas Canto das Sereias e Serpente; bustos de José Bonifácio, Auguste Glaziou e Nilo Peçanha) e os elementos em rocaille, como pontes, bancos e guarda-corpos. Também passaram por reformas as calçadas, a pavimentação das vias internas da Quinta e o gradil do entorno, os banheiros, as quadras poliesportivas e de grama sintética, o campo de saibro, os bancos em concreto e o sistema de drenagem. E foi implementada uma Academia da Terceira Idade, com equipamentos de ginástica. Em outras áreas da cidade, foram restauradas as estátuas de D. Pedro I, na Praça Tiradentes, de José Bonifácio, no Largo de São Francisco, os monumentos da Praça XV, no Centro, e a Ponte dos Jesuítas, em Santa Cruz.

Ainda em 2022, foram recuperados os Arcos da Lapa e religados os chafarizes da Avenida Princesa Isabel, em Copacabana; da Praça João Berchemman, em Irajá, e da Praça Ben Gurion, em Laranjeiras. Também está sendo executada uma grande revitalização do Parque do Flamengo, uma área tombada.

Desde janeiro de 2021, a Gerência de Monumentos e Chafarizes, vinculada à Conservação, já fez a manutenção de mais de 1.600 monumentos e chafarizes. Lembrando que as ações de manutenção são recorrentes, então um mesmo monumento e/ou chafariz poderá receber limpeza, por exemplo, mais de uma vez ao ano.

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